Por Gabriel José – Estudante de Cinema da Uesb
Uma das principais características que uma boa comédia deve conter é a capacidade máxima de não se levar muito a sério. É algo intrínseco ao próprio gênero; é comédia, não drama. Nos tempos atuais, alcançar tal façanha é um feito extremamente penoso, tendo em vista um público/consumidor cada vez mais ávido por tramas simples, mastigadas e politicamente corretas e menos propenso a se entregar sem medo à piada pela piada.
Evidente que o fato de ter na piada um fim em si mesmo, e não um meio para lições de moral estapafúrdias e clichês, tão típicas do “cinemão” americano (e mundial, eu diria. Basta conferir os enlatados brasileiros, por exemplo, que saem a rodo todo ano), não implica necessariamente em humor escrachado e pastelão. Apesar de difícil e cada vez mais raro de encontrarmos, há sim como equilibrar essa característica com um toque de inteligência que nos leve a uma reflexão crítica do mundo em que vivemos e dos valores que norteiam a sociedade. Chaplin nos ensinou muito sobre isso em várias de suas obras-primas, que, de tão numerosas, torna-se inconveniente citá-las.
Essa verdadeira engenharia em termos conceituais só ratifica o gênero como um dos mais complexos de todo o cinema. Felizmente, ainda temos uma resistência em Hollywood que não foi contaminada desse mal tão predominante na indústria e que sabe equilibrar muito bem um humor altamente non-sense com aquele “algo a mais” necessário a toda obra de arte; uma resistência que tem como um de seus principais expoentes Seth Rogen, ator e, aqui, também produtor deste ótimo “Vizinhos”.