Por Mariana Kaoos
Fim de semana. Sábado cinza. Naquele dia não chovia. Contudo, nuvens esparsas, carregadas de cor, de água, tomavam o céu por completo na cidade. Em sua casa, de poucas janelas, entrava um breu. Era necessário que ela ligasse a luz, aquela luz amarela e gasta que tanto odiava, para poder se locomover. Há pouco tinha tomado banho e lavado seus cabelos com shampoo de camomila. Eles eram claros, lisos e longos, os seus cabelos. Era o que as pessoas mais elogiavam nela, mas isso pouco importava. Geralmente, quando saia por aí, sempre se esquecia de penteá-los, assim como de tirar o esmalte descascado das unhas ou até mesmo colocar brincos nas orelhas. Ela era meio alheia a todas essas obrigações femininas.
Melancólica como o dia que se descortinava de maneira vagarosa, ela trajava um moletom azul turquesa e meias nos pés. Estava sem sutiã porque odiava sutiãs. Odiava sutiãs, mas amava meias. As escolhidas para o momento eram curtas e tinha um desenho de dragão na sola. Decidira também passar uma lavanda barata que tinha comprado no mercado. Era o máximo que podia fazer de esforço vaidoso naquele dia. Sentada na varanda, com um cigarro aceso na mão direita e o cinzeiro na esquerda, ela esperava por Clarice.