Conquista: Ex-moradora do Patagônia vira freira, vai tentar medicina pelo Enem e é destaque nacional

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Freira montou quadro para se dedicar aos esudos (Foto: Thays Estarque/G1)
Freira montou quadro para se dedicar aos esudos (Foto: Thays Estarque/G1)

Aos oito anos, Eva Amorim decidiu que trilharia o caminho religioso. Se espelhou em parentes que eram freiras e monjas e se preparou para escolher uma congregação que se identificasse. Há sete anos integra a Medianeiras da Paz, uma ordem da família Salesiana. Porém, Eva, hoje com 26 anos, acalentava outro sonho: ser médica. Apoiada pelas irmãs da congregação e pela família, a freira vai prestar vestibular para medicina este ano.

Eva, natural de Barra do Choça, na região Sudoeste, e ex-moradora do Bairro Patagônia, em Vitória da Conquista, virou manchete nacional no portal de notícias G1, da Rede Globo. Confira a matéria:

Para Eva, a medicina é mais uma forma de ajudar o próximo, faz parte da caridade. “Medicina não é só um estilo de vida, é uma profissão que exige respeito, que exige que você seja humano. É uma profissão que eu quero abraçar com a vida religiosa. Como freira já faço minha parte nessa questão da escuta, do diálogo e do respeito. Casando esses dois desejos, vou ser uma pessoa ainda mais realizada”.

Além de ter duas casas no Recife, uma no bairro de Boa Viagem e outra no Pina, ambas na Zona Sul,  a congregação tem ainda o Hospital e Maternidade Santa Maria, em Araripina, no Sertão de Pernambuco. Foi lá que Eva teve a oportunidade de estar mais perto de um dos sonhos. “Passei três meses lá, ajudando no que podia. Eu me encantei muito, assisti cesarianas e cirurgias. Foi acendendo uma luz, crescendo ainda mais esse desejo”.

Sobre ciência e religião, Eva afirma que, muitas vezes, as duas matérias tomam rumos diferentes, mas que se relacionam em alguns momentos. “Deus dá a inteligência ao homem para fazer o bem ao próximo. Meu professor de química diz que Deus só pode ser químico para criar o mundo”.

Ela é a primeira das nove freiras da congregação que tenta cursar medicina. Porém, há outras duas que também estão na maratona do pré-vestibular. “Uma vai tentar direito e outra, pedagogia. As irmãs sabem dos nossos sonhos e dão força, dão coragem e ficam falando que vamos conseguir”, menciona Eva.

Baiana, Eva nasceu no município de Barra do Choça e resolveu ser freira por volta dos 17 anos ao ficar impressionada com os testemunhos que ouvia das tias, também religiosas. “Às vezes temos a impressão errada da vida religiosa, que não pode se divertir, conversar ou estudar num cursinho. As pessoas pensam que freira é só para rezar, mas a vida religiosa é ficar no meio do povo, que nem Jesus”, diz ao relatar o convívio com colegas de turma, que se tornaram amigos.

“No início eu pensei que iam ter preconceito comigo, mas hoje somos uma família e isso é ótimo porque um ajuda o outro. Também saimos para comer, para conversar. Às vezes eles partilham a vida comigo, sobre questões espirituais e até pedem para rezar por eles”, completa.

“Tenho um colega que disse outro dia que se dependesse de Deus eu já estava lá na faculdade fazendo medicina”, relembra Eva, que confessa rezar pelos amigos também. “Poxa, seria tão legal todos passarem juntos, né?!”.

A freira conversou com a reportagem usando uma blusa polo listrada, uma saia e sandálias de couro. Ela não usa mais hábito desde a renovação da igreja. “A gente viu que o comportamento é o principal. Quando cheguei ao cursinho, meu professor de português descobriu que eu era freira sem ter falado nada. É tão legal você ser reconhecida como uma religiosa sem precisar falar”, afirma.

Com dificuldade em matemática, mas dominando a biologia e se encantando pela química, Eva se prepara desde março do ano passado. “Não me dei muito bem na prova porque esse tempo todo passei estudando coisas da igreja e pessoais. Tudo é muito novo até porque eu tenho 26 e essa galera é muito fera”, brinca.

Eva se divide entre as orações diárias, a pastoral da saúde, visitas ao Hospital do Câncer e o cursinho pré-vestibular. Para conciliar a vida corrida e alcançar os objetivos, ela criou uma tabela com os horários de todas as atividades e três metas: força, foco e fé. “Peço para Deus força, coragem e determinação para conseguir”, explica.



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