Opinião e Copa do Mundo: Torcedor, sim – Iludido, não!

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Por Robson do Val – Jornalista e Âncora do programa Balanço do Dia da Rádio Clube de Conquista

Brazil v Chile: Round of 16 - 2014 FIFA World Cup Brazil

É sempre bom ver o exemplo de superação que o esporte pode proporcionar. A vontade e a disciplina humanas levadas ao extremo na atividade esportiva, podem estimular o público a reproduzir as mesmas atitudes em outros setores da vida. O caminho da vitória sofrida no campo, na verdade é uma metáfora que pode ser adaptada às disputas do cotidiano. Não desistir nunca; vencer os próprios limites; lutar até o último minuto; encontrar forças quando elas parecem não existir; tudo isso são lições do esporte que podem ser reproduzidas no dia a dia.

Por isso, e por nada mais, as defesas do goleiro Júlio César, que salvaram a Seleção Brasileira da desclassificação contra o Chile, devem ter o seu valor. Daí para querer transformar um homem que fez algumas defesas importantes numa partida de futebol em herói da salvação nacional, vai uma distância enorme.

A repetição irritante na TV da versão de que Júlio salvou o Brasil, e não apenas o time de futebol da Seleção, é, no mínimo, a demonstração de um sentimento infantilizado de uma euforia vazia que não leva a lugar algum. Ironicamente, é até injustiça depositar nos ombros de um atleta que estava lá exercendo sua atividade profissional, uma responsabilidade tão grande.

Parabéns Júlio César, por ter feito bem o seu trabalho! Mas, em nome da lucidez, não compartilhamos da euforia coletiva que lhe credencia como herói nacional por conta disso. No momento estamos necessitando de outro tipo de heroísmo em nosso país. Trocaríamos de bom grado os eufóricos e emocionados torcedores que entoam o hino nacional com um exagero que beira as raias do histerismo, por cidadãos comprometidos ativamente com as melhorias que o Brasil precisa nas coisas que realmente importam para o nosso futuro.

O futebol é legal, emocionante, mas não é uma dessas coisas das quais tanto precisamos. Não é o herói “anestesista”, que deixa todo mundo cheio de uma felicidade vazia por conquistas efêmeras, que estamos procurando. Precisamos, neste momento, do herói “cirurgião”, que tenha coragem de encarar a ferida e curá-la, e que não finja que ela não existe por um momento de ilusão feliz.

Um dia desses o repórter de uma emissora de TV disse cheio daquela satisfação natural dos alienados da ocasião: “Os protestos não estão atrapalhando a festa”. Nós, no entanto, os estranhos, os que enxergam tudo com outros olhos, e que nem sempre somos bem vistos pela maioria, que quer fingir que tudo está bem sem ser incomodada, torcemos para que a festa não estrague nossa capacidade de protestar.

Podem gritar nos nossos ouvidos – Brasil! – inventar superstições, frases de efeito, mostrar historinhas comoventes de pessoas que se emocionam lindamente com a Copa, podem exibir propagandas de TV bem produzidas, com músicas bacanas e cheias de gente feliz vestida de verde e amarelo, que nós não vamos nos deixar iludir. Não somos bobos.

Quanto a Júlio Cesar e à Seleção, queremos que cheguem à final dando exemplos de superação, e que esses exemplos possam ser mais bem aproveitados. Que venham os colombianos!



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Comentário(s)


2 responses to “Opinião e Copa do Mundo: Torcedor, sim – Iludido, não!

  1. O autor deste texto , a exemplo dos demais radialistas da radio cidade , nem deveriam ficar comentando qualquer assunto refente ao COPA , pois, assim como eles , só falaram e torceram contra ela.Mas , como estamos numa democracia , temos de “aturar” estes complexados vira=latas.

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