Uma nota sobre a morte de Noeci

Por Luiz Queiroz e Wilton Cunha

Um dia, ao atravessar uma rua , Noeci Salgado foi atropelado violentamente por um motociclista. Ali, no asfalto, no chão mais duro da cidade, caiu um homem com uma história de lutas, de persistência ideológica, de voz mansa, de gestos elegantes e calmos, que tinha como essência o grito dos despossuídos, sem nunca ter abandonado o propósito de construir uma sociedade justa e igualitária.

Noeci era do Partido dos Trabalhadores quando ser militante era algo de profundo orgulho.

Ele ajudou a construir o Partido quando o PT era somente uma mensagem. Numa época em que não existia nenhuma estrutura partidária de palanque, som e veículos, que insistia falar para o povo e não tinha povo, porque os ouvidos estavam bloqueados pelo medo.

Ele foi de um PT que a militância pagava para fazer a camisa, o botom, a bandeira, e comprava esses mesmos objetos para sair nas caminhadas defendendo “Terra, Trabalho e Liberdade”.

Era um PT que fazia carreatas com poucos carros, e quem os tinha pagava sua própria gasolina, e assim desfilava pela cidade com bandeiras e buzinas, mas ali havia conceitos, compromissos e determinação que desafiavam a ordem e poder das elites.

Noeci Salgado fez parte de uma militância destemida, defendendo uma estrela que insistia brilhar no campo e na cidade. Uma militância que entregou sua juventude em nome dos sonhos, sempre com generosidade pra dizer “Muito Prazer, sou do PT”. Prazer de fazer política, prazer de reconhecer o outro e sua importância na luta coletiva.

Noeci foi um militante que tinha dentro de si a inquietude daqueles que lutam, que se amarguram e que levam na sua história a dureza da existência, a fraternidade do companheirismo e a implacável compreensão do humanismo. De um PT onde o discurso era reflexo das suas práticas, e esse era “o critério da verdade” como um dia escreveu Lênin.

Foi cedo, mas nunca será tarde para lembrar a sua importância como revolucionário.

Foi de pé, como o hino da internacional :

De pé! Ó vítimas da fome
De pé! famélicos da terra
A indolente razão ruge e consome
A crosta bruta que a soterra!
De pé! De pé não mais senhores!
Se nada somos em tal mundo,
Sejamos todos, ó produtores!

 



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