Cultura conquistense: As ‘nossas impressões’ sobre o Veraneio; confira a cobertura especial

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Por Mariana Kaoos

Foto: Maiêeh Sousa
Foto: Maiêeh Sousa

Alô alô amantes da cultura e do desbunde em geral. Como passaram de fim de semana? Tudo em paz? Ouviram muita música? Leram algum livro bacana? E conversas produtivas, tiveram várias? Que maravilha, que maravilha. Meu fim de semana também foi ótimo. Me esbaldei no Dia de Feira, comemorei o aniversário de uma amiga muito querida e compareci ao Veraneio, projeto cultural ocorrido no dia de ontem, 17 de janeiro de 2016.

Na minha humilde opinião o Veraneio foi o evento de maior força prometido para esse mês aqui em Vitória da Conquista. De maior força porque reuniu uma série de atrações musicais de qualidade num espaço ha muito já não usado para esses fins: A Concha Acústica do Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima. Por conta disso, resolvi fazer esse Tome Nota todo voltado para ele. E, também por conta disso, comecei a pensar da seguinte maneira: Assim como eu, diversas pessoas consomem esses produtos culturais com uma perspectiva de análise crítica dos mesmos. Eu acredito profundamente na pluralidade de vozes e opiniões, inclusive as que contradizem a minha. Sendo assim, por que não ceder o Tome Nota de hoje para mais percepções acerca do Veraneio?

Foto: Maiêeh Sousa
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Partindo desse pressuposto convidei jornalistas, produtores, consumidores, artistas, enfim, convidei pessoas que, de uma maneira ou de outra, pensam e se preocupam com a cultura da cidade. Segue aqui as impressões de cada uma sobre o Veraneio:

Lucas Oliveira Dantas – Estudante de jornalismo, educador e dançarino:

Foto: Maiêeh Sousa
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Para um evento que se propõe a ser uma convergência cultural, englobando aí diversos eixos como música, feira gastronômica e etc, estava tudo muito mal feito a começar pela má iluminação. Outro ponto foi a decoração zero. O Veraneio não teve uma identidade visual. E é aí que eu questiono: Vale a pena pagar vinte reais para não ver nada? Com uma entrada a esse valor a estrutura deveria ser melhor repensada. Como é que um evento que reúne mais de duzentas pessoas coloca apenas um lugar para se pegar ficha? As filas estavam enormes e elas só diminuíam quando as bandas começavam. No momento em que os djs estavam se apresentando, ela estava gigantesca. E tem mais. Existe um problema em Vitória da Conquista que os produtores culturais têm mania de fazer eventos de várias horas, num formato festival mesmo, e você não tem o direito de sair. Isso é inconcebível, você ter que ficar preso no lugar. Aí o dinheiro acaba e você não pode sair para sacar e, consequentemente, consumir mais. Aí seu cigarro acaba e você tem que ficar sem fumar porque não se vende cigarro lá dentro.

Foto: Maiêeh Sousa
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Isso tudo é muito complicado. Há uma série de falhas estruturais e na verdade não podemos nem dizer que elas existem porque são produtores que estão começando. São pessoas que estão há anos fazendo esse mesmo tipo de evento na cidade a ainda cometem esses erros.

Foto: Maiêeh Sousa
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Por fim, existe um desconforto, tem existido um desconforto constante entre os produtores, principalmente os produtores da dita cena alternativa, de não considerar crítica nenhuma. Esse tipo de crítica que eu acabei de fazer é o tipo de crítica que todo mundo faz aos eventos que acontecem. Em termos de estrutura, de cuidado e atenção com o público que você está servindo. Quando esse público reclama, a desculpa é sempre a mesma de “Ah, você não faz nada. Vai produzir um evento então”. Esse argumento não é válido. Público é público. Ele tem o direito de falar e ele é consciente do que consome. As pessoas precisam parar de levar as críticas para o pessoal.

Marco Antônio Jardim Melo – Empresário da área de comunicação e poeta:

Foto: Maiêeh Sousa
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Eu vejo com bons olhos a produção de eventos dessa natureza. Quem sabe assim a cidade possa ser estimulada a ter novamente uma cena cultural interessante. O Veraneio foi legal neste aspecto (com um ótimo nome) e em servir de ponto de encontro de uma turma que sente necessidade de encontro. Falhas? A fila pra comprar ficha e o line up que não tinha muito a cara do verão (com exceção dos DJs)

Pedro Ivo Dias – Estudante de Ciências da Computação, cantor da banda Handevu e poeta:

Foto: Maiêeh Sousa
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O Veraneio foi para mim o evento em infra-estrutura mais bem organizado do Coletivo Suiça Bahiana até o momento desde sua fundação. Espaço bem diversificado, bares em locais acessíveis, com ótimo atendimento. A terceirização dos serviços foi um ponto positivo e fica de dica para outros empresários. Parte do mérito, óbvio, pertence ao próprio Centro de Cultura. A reabertura da concha é um incentivo para que o espaço seja cada vez mais ocupado por boas expressões artísticas. Todos os artistas que apresentaram foram impecáveis e o público respondeu à altura. O equipamento de som contratado era ótimo, Niel Sonorização vem sendo uma grande força nesse momento da cena. Minha única crítica fica com a divulgação. Como já acontecido de outras vezes, atrações anunciadas anteriormente foram canceladas. No saldo geral, um ótimo evento.

Maria Eduarda Carvalho – Produtora cultural, designer e blogueira do Um Rolê No Índico:

Dava pra falar de tantas coisas bacanas quando a gente pensa em Veraneio. O sucesso das bandas locais, o empenho em construir um evento plural e com diferentes vertentes e atrações, a quantidade de gente envolvida mostrando um pouco do seu trabalho (músicos, djs, expositores, produtores, jornalistas), tantos aspectos.

O Veraneio foi um lugar entre o velho e o novo. A velha (e boa) vontade de fazer alguma coisa, de chamar todo mundo e curtir um som e as novas tribos da cidade se reunindo ou se formando. Novos rostos embalados pela nova cena musical brasileira que tem suas músicas na ponta da língua do publico local. O primeiro grande encontro do verão, o marco inicial dos rolês de 2016 que prometem um sol radiante.

Foto: Maiêeh Sousa
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Luiza Audaz – Produtora e cantora:

O Veraneio foi uma grata surpresa no quesito organização, portaria, segurança, espaço e tempo de apresentação das bandas. Eventos que contam com a participação e ajuda de profissionais experientes em cada um desses setores tendem a dar certo. O palco que ficou delegado à produtora cultural da prefeitura, Joice Caires, ganhou essa dinâmica rápida e funcionou bem na duração de cada banda. Críticas apenas à logística de venda de fichas que gerou grandes filas e descontentamento do público.

A mistura do gênero das bandas também foi ponto interessante, já que o público de CAIM não era necessariamente o público de Vivendo do Ócio e nem de longe o público desta última era condizente ao do Complexo Ragga. Esse intercambio de público é importante para quem se apresenta e ganha novos ouvintes expandindo seu trabalho. Isso não quer dizer que as pessoas ali se identificaram com essa mistura de gêneros. Apesar de ter levantado parte do público, o show da Vivendo do Ócio, por exemplo, desagradou a vários ouvintes desavisados do tom e proposta da banda.

Outro ponto positivo foi a ocupação da área acima da arquibancada em que, semelhante a eventos que já ocorrem em Feira de Santana se colocou uma tenda eletrônica que recebeu djs locais e convidados, o que reforçou também a qualidade e alcance que a cena eletrônica da cidade tem tomado. Ao lado era possível visualizar uma projeção com a primeira divulgação da Voodoohop, edição Sertão Experimental, que ocorrerá em Março, em Conquista. Foi nesse espaço que os produtores da festa puderam também fazer conexões com os djs e parceiros da cidade que integrarão o line up junto a djs do exterior, residentes desse evento de artes integradas e música eletrônica experimental. Acho que a Concha foi bem ocupada e as pessoas que constroem a cena estavam lá e isso que foi o mais importante, prestigiando e se articulando para que finalmente seja carburado o circuito cultural conquistense de eventos.

A.J. Oliveira – Estudante de jornalismo:

Quando problemas na organização do Festival Suíça Bahiana do ano passado fizeram boa parte das bandas convidadas cancelarem suas apresentações, o Coletivo Suíça Bahiana, responsável pelo evento, deixou muitos espectadores revoltados (o que é bem compreensível).

Mas apesar dos erros por trás daquela “tragédia”, eu, enquanto público, sabia que tudo aquilo podia ter consequências bem mais tristes para os fãs de música alternativa de Conquista. Mais que o simples cancelamento dos shows daquele fim de semana.

Sempre teremos o Festival de Inverno e os eventos da Prefeitura para trazer nomes consagrados da música nacional, mas o Coletivo Suíça Bahiana era praticamente a nossa única esperança de ver na cidade artistas que, mesmo sem emplacar sucessos no rádio, são de extrema importância para o cenário underground. Como a Vivendo do Ócio – um dos grandes nomes do atual rock brasileiro, ainda desconhecido por boa parte daquela galera que acredita na “morte do rock”.

A Vivendo do Ócio esteve entre as atrações do Veraneio, empreitada mais recente do Suíça Bahiana. O Veraneio atraiu um bom público e conseguiu reunir fãs de rock, ragga e música eletrônica. Parece ter sido um evento conduzido de forma bem mais racional, mais ciente de até onde podia ir. Em vez de tentar reunir 30 ou 40 atrações do Brasil inteiro, o Veraneio se concentrou em quatro atrações principais (sendo três de Conquista), fora os nomes da tenda eletrônica.

E ainda procurou investir em atrativos não-musicais, como a venda de cervejas artesanais. Como observado por Rafael Flores, da Revista Gambiarra, talvez essa seja a melhor aposta para eventos do tipo.

Minha torcida é para que o Coletivo Suíça Bahiana produza muito mais eventos como o Veraneio. Que procure evitar as falhas do passado e satisfaça o público alternativo que muitas vezes é deixado de lado na cidade.

 

Mariana Kaoos – Jornalista e pseudo escritora:

O Veraneio teve algumas falhas como a falta de papel higiênico no banheiro feminino, a má iluminação na tenda dos djs, a iluminação exacerbada no palco (aquela luz amarela praticamente cegava o público) e a fila gigantesca para comprar fichas. Por outro lado, nem tudo são críticas. Achei muito feliz da parte dos produtores a mistura musical oferecida no evento. Pude ouvir rock n roll e, na sequencia, Vingadora. Me deliciei e cantei junto as músicas do Complexo Ragga e me surpreendi com a força de público e de som que a Vivendo do Ócio possui aqui em Vitória da Conquista.

Para mim, o destaque do evento foi Caim. Achiles e Marcos possuem uma sintonia intensa e febril em palco. Suas músicas estão cada vez mais refinadas e é impressionante a sensibilidade que ambos possuem em captar o instante e transformá-lo em poesia. Porque é isso. Ao assistir ao show, me arrepiei a cada momento e captei aquela experiência de maneira sensorial, lúdica e poética. O mais impressionante é que, em momento algum, o Caim fala apenas do Caim. Dentro dele tem muito de João Gilberto e da Tropicália e de Luiz Gonzaga e de Tom Zé e de Clube de Esquina. Dentro do Caim também tem muito de Manoel de Barros e de Cecília Meirelles e de Clarice Lispector e de João Guimarães Rosa. Tem muito de Ítalo Silva e de Marlua e de Luiza Audaz e de Fillipe Sampaio e de tantos outros artistas da terra, poetas, pensadores que, de uma forma ou outra, compreendem e vivem a mensagem e a melodia que o Caim propõe.

Para mim foi de extrema importância o meu reencontro com a ideologia e a inspiração que o Caim sugere. Que eles possam vir mais vezes, seja em projetos como o Veraneio, seja em outras propostas que estão por surgir. Certamente que Vitória da Conquista agradece!



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3 responses to “Cultura conquistense: As ‘nossas impressões’ sobre o Veraneio; confira a cobertura especial

  1. Concordo com todas as críticas citadas acima, e ouso acrescentar: com exceçao das vendas de fichas para consumir toda e qualquer coisa no evento, que além das grandes filas, prejudicou também o pessoal das tendas de roupas e acessórios, já que quem se interessava optava por guardar sua ficha para beber, do que para comprar camisas, colares, etc. Das atrações: eu comprei o ingresso por CAIM, e sempre que puder estarei em todos os eventos que tocarem. Eles são do mais alto nível da música popular brasileira, cantam e encantam. Sou tiete mesmo. Me surpreendi com Vivendo do Ócio, e com seus seguidores em Vitória da Conquista. Tem uma presença de palco e foco ao se apresentar. Com relação ao ”barulho” citado em outro bloco, já fui moradora do bairro Recreio e quando tem FIB que vai até 5h am NINGUÉM vai as mídias reclamar, claro pois é um grande evento patrocinado que movimenta a economia da cidade e blá blá blá. Não deixem de produzir bons eventos por conta da opressão dos infelizes das redondezas. Se tivéssemos um aeroporto de grande, altíssima circulação como no Rio ou SP, iriam ver o que é barulho. Fecharam os aeroportos? Acho que nao.

  2. A mesma pseudo escritora que fala que não teve iluminação nem decoração no evento, quando esteve à frente da produção da festa X Cania também não o fez. Na festa em questão não havia luz nem no banheiro e as atrações não valiam o preço cobrado. Macacão senta no rabo pra falar dos outros, ela deveria saber também que nenhum festival grande no país inteiro permite a saída e entrada de pessoas o tempo inteiro. Essa coluna tá caindo na crítica pela crítica, parece que é obrigação inventar defeito.

  3. Seria bom deixar claro que a proposta da xcania e do veraneio são coisas totalmente diferentes (não tenho críticas ao veraneio também, além de não ter ido no evento, ouvi falar muito bem do mesmo) e que, além da xcania ter contado com uma decoração que coubesse no espaço (para não ocupar muito), o preço dos ingressos não era referente às atrações que teriam no evento e sim às várias horas de bebida open. Outra consideração importante é que não foi a Jornalista Mariana Kaoos quem falou à respeito da saída de pessoas do evento, visto que várias pessoas deram suas opiniões nessa coluna, por isso, acho que deveria haver mais respeito em certas críticas.

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