“Que país é esse que mata gente, que a mídia mente e nos consome?”

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Por Luan Vinicius Ferreira – Estudante de Jornalismo da Uesb

Luan Vinícius é estudante de jornalismo da Uesb
Luan Vinícius é estudante de jornalismo da Uesb

Na próxima segunda-feira, dia 7 de setembro, inúmeras são as pessoas que vão às ruas para acompanhar o desfile cívico em alusão a Independência do Brasil. Em alguns municípios o desfile é puramente militar, em outros (os mais interioranos), escolas enfeitam com cores as ruas, mas não deixam de relembrar a seriedade da data. Neste ano, em especial, o sete de setembro nos trás uma reflexão diferente das: “Qual independência celebramos?”, “será que o Brasil é um país independente?”; refletiremos as paixões políticas.

Uma guerra, ao que parece, foi estabelecida desde outubro do ano passado com o resultado das urnas. Ela está mais viva esse ano e parece ganhar cada vez mais adeptos. E quando digo “RESULTADO”, no singular, quero enfatizar que os que propõem uma versão atualizada do “Independência ou morte” importam-se apenas com a eleição de uma presidente – esquecendo que um país como nosso, outras quinhentas pessoas têm o poder em mãos para mudar muitas realidades.

Impossível chegar às proximidades desta data e, não lembrar das promessa de uma “luta sangrenta” para que o impeachment da presidente Dilma aconteça. E, levando em consideração a reação de manifestantes nas caminhadas pró-impeachment, não podemos desacreditar que a violência possa tomar as ruas nesta segunda-feira. Em Brasília, um advogado promete matar a presidente se ela não “pedir pra sair” do palácio do planalto. Já não basta a ameaça de morte (o que é gravíssimo), o advogado, que perdeu nas eleições para deputado no ano passado, ganha seguidores e apoiadores (com vontade de ver sangue) de suas ideias.

É neste momento que faço alguns questionamentos: onde estão as propostas – fundamentadas – de melhorias para os problemas deste país? Onde estão os argumentos que superem a já insuportável frase de que “estamos em crise”? Aonde podemos encontrar pessoas lúcidas que consigam enxergar a necessidade de não apenas berrar seus direitos, mas exercer os seus deveres?

Em momentos de dificuldade, talvez a coisa mais fácil a se fazer seja apontar com o dedo os erros dos outros, e, com certeza, a mais difícil é produzir atitudes de solução – principalmente baseadas no bem do próximo. O Brasil vive este momento difícil que, queira ou não, aceitem ou não, transpassa o período em que o atual partido comanda este país. Talvez transpasse o período em que o outro partido esteve no comando. Talvez o problema do Brasil seja congênito.

A grande questão é que, de pouco em pouco, fomos nos acostumando com os pequenos erros e, com o passar do tempo, não percebemos que, num país tropical como o nosso, havíamos produzido uma bola de neve. A corrupção no Brasil não é história de livros infantis, é realidade; e não é uma realidade que está longe de nós, ela está perto, tão perto que você pode percebê-la quando, “meio que sem querer”, alguém grita contra corrupção, mas rouba o lugar de alguém na fila, não devolve o troco que a atendente deu errado, ou quando pensa que somente ela tem problemas na vida. É nesta hora que percebemos que o ditado expresso tantas vezes pelos nossos pais e avós faz sentido: “farinha pouca meu pirão primeiro”.

Nesta segunda-feira, nas ruas de todo o país inúmeras crianças estarão – felizes – celebrando, sem saberem de toda história, a independência do Brasil. Nesta mesma segunda, outros tantos estarão vociferando o pedido de um país melhor, de mais paz, de fraternidade, de condições dignas de sobrevivência para suas famílias e cavalos instalados no haras – tão distante da realidade de tantos brasileiros, – utilizando-se, se preciso for, da violência.

Talvez por isso o movimento que desde 1995 vai às ruas pedir a melhoria do país não tenha conseguido tantos frutos: eles não tiraram sangue de ninguém. O “Grito dos Excluídos”, excluído da programação oficial dos desfiles, a cada ano tenta levar uma reflexão sobre o país em que vivemos e, com a ajuda de todos (EU DISSE TODOS), buscar as melhorias necessárias para o Brasil.

Talvez não tenha tido tantos resultados. Afinal, desde seu primeiro tema (A vida em primeiro lugar) priorizou a integridade das pessoas. O Grito dos Excluídos, por profecia ou não, em outras edições já levantou bandeiras que hoje estão em voga nos nossos diálogos: “Queremos justiça e dignidade”, em 1997; “Aqui é o meu país”, em 1998, pedindo pela educação e pela erradicação da fome; em 2005 com o tema “Brasil em nossas mãos a mudança”, que gritava pela necessidade de termos consciência dos direitos da cidadania, da necessidade de um novo rumo à política econômica e, entre outras coisas, propunha que tomássemos o projeto com nossas mãos e lutássemos pelas melhorias que queríamos.

Depois que todos já tiverem passado, trazendo suas cores de alegria festejando “uma independência”, repare lá no fim da avenida um grito que poderá te fazer refletir sobre nosso atual momento político e social. Reflita sobre as mudanças que você quer para o país e pense no que você está fazendo para que essa mudança aconteça. Repare que novamente o tema do Grito será a “Vida em primeiro lugar” e se faça a seguinte pergunta proposta pelo movimento: “Que país é esse que mata gente, que a mídia mente e nos consome?”



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