A era dos brasileiros bundões

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por Robson do Val – Jornalista e âncora do programa Balanço do Dia, da Rádio Clube de Conquista

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O jogador Hulk, da Seleção Brasileira, sem nenhum demérito ao indivíduo Hulk, que mal nenhum causou à sociedade, simboliza, numa metáfora sincrônica e perfeita, a era que estamos vivendo: a era dos brasileiros bundões.

Uma época em que boa parte das nossas crianças passa quase o dia inteiro diante de um aparelhinho eletrônico qualquer. Muitas delas só viram carne da Friboi e galinha da Perdigão. Não brincaram no quintal e nem sequer ralaram o joelho. Quando crescem, se transformam em que tipo de adultos?

Nada contra Neymar, jogador de futebol com um talento diferenciado, capaz de encher de admiração qualquer apreciador sensato do esporte com suas jogadas criativas. Mas a comoção nacional gerada pela sua contusão na última partida da Seleção fez aflorar um comportamento coletivo, que talvez seja o principal motivo do atraso em que nosso país vive mergulhado faz tempo.

Nossos adultos são criaturas infantilizadas, incapazes de um julgamento maduro, quando colocados diante de uma situação emocional simplória. Não sabem dar a verdadeira dimensão a um fato que, à luz da razão, não é tão importante assim.

A contusão de Neymar nem é tão grave. Segundo os médicos ele estará recuperado em poucas semanas. Mesmo assim conseguiu comover profundamente milhões de brasileiros. Por quê? Eles não se comportavam como se tivessem perdido apenas o melhor jogador da Seleção na Copa, mas como se tivessem perdido o verdadeiro herói da salvação nacional.

A mídia dá a sua contribuição perversa para a histeria coletiva. O Jornal Nacional do dia seguinte ao ocorrido foi dedicado exclusivamente à cobertura dos diversos ângulos e repercussões da contusão de um jogador de futebol. Nesse dia, o senhor Wiliam Bonner e a sua equipe de jornalistas fizeram o pior telejornal que já vi em mais de vinte anos de profissão. Emocional, sem conteúdo, fora de foco, sensacionalista, chato e repetitivo.

Enquanto isso milhares de famílias estão desabrigadas nas regiões sul e norte do país por causa da cheia, um viaduto do PAC caiu em cima de um ônibus em Belo Horizonte matando duas pessoas, acendendo o alerta sobre a garantia de outras obras do mesmo pacote, o governo baiano realizou a maior farra de dinheiro público com propaganda de autopromoção, e ninguém se comoveu ou se indignou. Como as criancinhas que nunca ralaram os joelhos, preferem viver suas fantasias de joguinho da seleção na TV de tela plana.

Dói mais ainda saber que brasileiros que não têm sequer uma ambulância velha pra socorrê-los em um caso de necessidade, assistiram, cheios de lágrimas nos olhos, o helicóptero com uma equipe médica de ponta, transportando Neymar para o condomínio de luxo onde mora, no Guarujá, e, pasmem, estavam morrendo de pena do rapaz.

Muitos largaram suas obrigações e afazeres para se postarem comovidos diante da porta da casa dele. E eu me pergunto: o que leva uma pessoa a ser tão submissa, a se anular dessa forma, a se doar tanto por tão pouco?

E assim caminha a humanidade brasileira, mergulhada no seu sonho de vitória verde e amarela, que não lhe afastará um centímetro dos problemas de verdade, que ela prefere colocar embaixo do tapete. Querem ser felizes, com cerveja, mesmo que o preço seja a ilusão.

São ou não são como aquelas criancinhas que não conhecem a vida de verdade? Vida que pode ser difícil em alguns aspectos, mas que se encarada com o mesmo entusiasmo que é mobilizado para encher de alegria os estádios, os bares e os lares, em dias de jogo da Seleção, pode ter boa parte dos problemas solucionados e trazer dias melhores. Dias que trarão, aí sim, uma felicidade legítima, baseada nas conquistas da vida real.



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