Opinião: Reflexões sobre a noite de sexta-feira do Festival de Inverno Bahia

Por Mariana Kaoos

Fotos: Amanda Nascto
Fotos: Amanda Nascto

Decididamente, ano após ano, é fato comprovado, registrado em cartório que quem faz o Festival de Inverno Bahia angariar sucesso e qualidade é o público consumidor. O frio e a garoa não foram impeditivos para o alto contingente de pessoas que ocuparam absolutamente todos os espaços do Fib, desde os restaurantes e barraquinhas de bebida, até os palcos alternativos e principal. Tudo muito bonito e bem estruturado, pronto para receber um público a altura. Foi possível observar muitos sorrisos e expressões de satisfação no rosto dos presentes que, em tons efusivos, gritavam, corriam, se abraçavam, bebiam e se divertiam uns com os outros;

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Ao que tudo indica, o sistema de segurança que se encontra na entrada do Fib é falho e seletivo. Alguns passam por ele, outros não. Digo isso porque na noite dessa sexta feira, houve um incidente em uma das praças do evento, onde uma mulher foi agredida por um suposto companheiro e este, após se exaltar com a situação, puxou uma arma de fogo e atirou para cima. Decorrido certo tempo, a policia chegou ao local e deteu os envolvidos, bem como algumas testemunhas presentes. Ou seja, qual a real garantia de segurança que o Festival de Inverno Bahia oferece ao público frequentador? E em um incidente maior acontecendo, quem se responsabiliza por isso?

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Ponto positivo para os profissionais que estavam trabalhando no Festival de Inverno Bahia. Digo, as senhoras responsáveis pela manutenção e limpeza dos banheiros, os vendedores de bebidas e comidas, os seguranças, os jornalistas da assessoria de comunicação do evento, enfim, todos muitíssimos educados e gentis, jogando duro em suas demandas ali dentro. Se é o público quem faz o sucesso do Festival, são esses trabalhadores que promovem, de maneira muito integra, as condições para que isso aconteça;

Queridos e queridas, em verdade eu vos digo que sim, está cada vez mais down no high society. O camarote, patrocinado pelo wisky Ballantines tem uma estrutura fina e requintada: maquiadores profissionais prontos para atender ao público sedento por beleza, chocolate quente na casquinha gourmet, restaurantes exclusivos da melhor catiguria e, claro, espaço privilegiado na frente do palco para conferir os shows de perto pertinho. Serviço de primeira para os frequentadores do camarote que, escancaradamente, possuem um perfil identitário muito específico: médicos, políticos, advogados, empresários, acompanhados de suas respectivas (e loiríssimas) esposas, digo, pessoas mais velhas estabilizadas financeiramente ou em ascensão social. Para quem sente aquela pontinha de inveja de quem possui o status camarote, revelo-lhes que não há nada a temer: O camarote é chato, entediante, sem graça. Generalizando um pouco, todos ali parecem estar muitos mais interessados em sorrir para as selfies tiradas em iphones do que, realmente, assistir aos shows e aproveitar, de fato, a proposta de entretenimento do Festival de Inverno Bahia. Quem quer curtir de verdade, melhor que fique na pista;

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Falando em pista, não se enganem: ela possui uma divisão simbólica instituída e imposta por quem a ocupa. O perfil de quem fica na frente do telão do lado direito do palco é totalmente diferente de quem está na pista, só que mais perto do camarote. Essas pessoas, por sua vez, se diferenciam totalmente de quem assiste aos shows no meio exato do local e de quem fica pelo fundo. Bom, se aparentemente é possível estar em lugar que se deseje, a prática é um pouco diferente disso. Acostumada sempre a conferir aos shows pelo lado direito, essa jornalista que vos fala resolveu assistir a apresentação de Lulu Santos mais no fundo do lado esquerdo, bem em frente ao camarote. O resultado não foi muito satisfatório, já que os donos daquele pedaço de pista me, nos olhava (eu estava acompanhada de amigos) de maneira excludente, acredito eu, que por não atender ao perfil exigido para se estar naquele espaço. Se um dos objetivos do Festival de Inverno é promover o encontro e a mistura de diferentes tribos, com precisão pode-se constatar que ele, o objetivo, não é cumprido. Contudo, faz-se necessário uma reflexão: cabe a nós, frequentadores do Fib, com suas mais diversas representações sociais, persistirmos na segregação, no apartheid cultural ou, finalmente, vamos começar a praticar o despertar da convivência harmoniosa e do respeito mútuo?

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. Olha, não teve arena eletrônica, palco principal que batesse a animação do Barracão do Forró. Primeiramente porque lá, além do camarote, foi o único local fechado, ou seja, lá foi o único local a barrar um pouco o frio e a garoa, chata e insistente, que protagonizou a noite de sexta feira. Depois que forró é um gênero musical sempre gostoso de ouvir e dançar. A paquera rolou solta e os passinhos e rodopios também. Ao longo da noite foi possível perceber um repertório hibrido, variando entre os grandes clássicos como Luiz Gonzaga, Alceu Valença e Dominguinhos e nomes mais novos como Estakazero, a pop star do universo sertanejo, Marília Mendonça e releituras de Jau e Natiruts. Tudo muito bacana de se ver. O destaque da noite de sexta foi o grupo conquistense Antônio Brother. Hoje, sabadão, a banda Lé Kum Cre passa por lá e domingo é a vez da Fulor do Cangaço. Vale a pena dar uma conferida;

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