Especial Salvador: Sala de Arte Cinema do Museu

Por Mariana Kaoos

6c2c3e1f-61e9-4f1e-941a-834d140e9521
9cb31a47-b2f5-43e9-b8ef-3c13558506c5
6122284e-9ff4-4a92-ac16-26998d4a3fb2

“Ver cinema era a minha distração: Foi numa sessão das dez que você me apareceu. Me ofereceu pipoca, eu aceitei, e logo em troca, eu contigo me casei”.

Alô alô queridões de todo o meu Brasil varonil. Tudo bem com vocês? Comigo vai tudo em paz graças ao nosso Senhor do Bonfim e a nossa queridíssima Iemanjá. Olha, tinha dito por aqui que na terça a noite iria cobrir o espaço literário lá da Livraria Cultura do Shopping Salvador com o Gregório Duvivier, Xico Sá e Maria Ribeiro, não foi? Pois bem, olhem só o que aconteceu: os amantes da cultura aqui da Cidade da Bahia andam polvorosos nesses últimos tempos, sedentos por toda e qualquer manifestação de arte.

Museu GeolÛgico da BahiaSala de Arte - Cinema do MuseuFoto> Carol Garcia
Museu GeolÛgico da BahiaSala de Arte – Cinema do MuseuFoto> Carol Garcia

Se isso, por um lado, é um ótimo sinal, indicando que a produção, consumo e valorização cultural está sendo bem quista por todos e todas, por outro também significa que por aqui é só tiro, porrada e bomba. É, meus amigos, ao que tudo indica, os nativos dessas terras tupiniquins andam com sangue nos olhos. Só pode, já que os ingressos para o show de Novos Baianos acabaram-se em meia hora e as senhas para o espaço literário em pouco mais de uma. Isso mesmo que você está pensando: Não consegui chegar a tempo de garantir a minha entrada e fiquei de fora.

Contudo, entretanto, porém, todavia, se tem uma coisa que não falta em Salvador é o que fazer. Cutucando aqui e ali sempre dá para achar algo bacana e de qualidade. Pensando nessa perspectiva foi que na noite de terça-feira, fui à Sala de Arte do Cinema do Museu assistir um filme baiano, com direção de Adriano Big, intitulado Para Além dos Seios (2015). Bom, acerca da experiência, tenho algumas considerações a fazer:

5d43b57e-88aa-44d9-a846-cb88996bfe4a

– O Cinema do Museu é, para mim, um dos lugares mais charmosos de Salvador. Ele fica ali no Corredor da Vitória, mais precisamente no Museu Geológico da Bahia (sim, o nome não é a toa). E bom, fugindo um pouco do circuito comercial Hollywodiano, os filmes exibidos no Cinema do Museu possuem um viés digamos que mais “alternativo” (não gosto dessa palavra, mas me utilizo dela na ausência de outra) e/ou conceitual. Nessa semana, por exemplo, ele estará exibindo alguns filmes como o brasileiro Ralé (2016), de Helena Ignêz e o argentino Truman (2016), com direção de Cesc Gay;

– Para quem admira e gosta de assistir filmes mais artísticos, lá é o local ideal. Até porque não vemos com regularidade essas obras em outras salas que não as de arte, em Salvador. Se fôssemos pensar a nível de Vitória da Conquista então a resposta seria uma grande gargalhada, já que o Moviecom do Shopping Conquista Sul só passa enlatado americano e ainda por cima todos dublados. Vergonha total;

Museu GeolÛgico da BahiaSala de Arte - Cinema do MuseuFoto> Carol Garcia
Museu GeolÛgico da BahiaSala de Arte – Cinema do MuseuFoto> Carol Garcia

– Outra coisa bacana do Cinema do Museu é a sua arquitetura. O chão da sala é de pedra, assim como as paredes. Na parte de fora, há um café, com comidas e bebidas deliciosas, e um pátio com grandes mesas de madeira e uma árvore centenária que, acredito eu, seja uma mangueira, apesar de não estar bem certa. Na antessala há também um sofá e vários livretinhos de programações culturais que andam ocorrendo pela cidade. Ou seja, ainda que o dia não esteja propício para filme, vale a pena dar uma passada e se deliciar pura e simplesmente com o espaço;

– Os ingressos também não estão caros. Paguei dezoito reais numa entrada inteira e acho que foi justo o valor. Se pensarmos no preço que outros espaços cobram para assistirmos um filme (no Shopping Barra não sai por menos de vinte e cinco reais a inteira), no Cinema do Museu é uma pechincha, precinho de banana, para o desfrute de uma cultura de qualidade;

– Mais uma coisa bacana sobre a Sala de Arte: Ela valoriza a produção local. Digo, bem sabemos o quanto é difícil realizar um filme hoje em dia no nosso estado da Bahia. Os editais andam cada vez mais escassos e o poder privado nunca foi lá de querer investir muito mo setor cultural. Sendo assim e assim sendo, se já é difícil produzir, o que falar da distribuição/exibição? Se não fosse pela realização de alguns festivais como a Mostra Cinema Conquista e o Panorama Internacional Coisa de Cinema, o acesso às produções baianas seria praticamente nulo. Portanto, quando o Cinema do Museu se propõe a colocar na telona filmes nossos, isso é uma atitude de valorização e reverenciamento ao que vem sendo feito na Bahia;

2f1f522d-56a5-4992-ac82-e077645a5b39

– Falando um pouco do filme Para Além dos Seios, ele é um documentário baiano com direção de Adriano Big, como disse anteriormente. Com pouco mais de uma hora e vinte minutos de duração, o filme se propõe a trazer o debate de gênero, mais precisamente do ser feminino, através de pontos como a Marcha das Vadias, o feminismo, a objetificação da mulher nas mídias e comunicação em geral e a questão do corpo e do que ele representa. Esse ponto específico, com um foco maior na questão dos seios.

– Achei incrível a iniciativa de trazer esse debate para o universo cinematográfico, pois acredito que a arte também cumpre a função de ser agente transformador e de disputar consciências através de temas que rondam a sociedade e afetam diretamente a vida dentro dela. Contudo, como nem tudo são rosas, senti a abordagem do filme um tanto quanto pueril, rasa. Para mim, centralizar a questão feminina no corpo e, principalmente, nos seios, é limitá-la a um ponto que, apesar de ser de fundamental importância, não é o principal no centro das discussões de gênero e empoderamento;

14d15102-3999-4aae-b8ae-22718730c573

– Para Além dos Seios se propõe a pautar a questão do feminismo, logo, também senti falta de falas de algumas pessoas/entidades que possuem um amplo debate e militam nessa causa. Será que a presença da Marcha Mundial das Mulheres, do NEIM (Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Mulher) da UFBA, e até mesmo de atores transformistas (no filme há a fala de uma mulher trans, mas isso é totalmente diferente) que lidam diariamente com essas questões não dariam mais respaldo ao conteúdo do filme?

– Ou será que estou exigindo demais? As vezes a militância e a paixão por determinado tema, nos torna intolerantes e críticos ao extremo. Isso acarreta em conclusões mais rigorosas sobre determinada coisa que, talvez, tenha como única pretensão a arte pela arte. O que também não é ruim. E bom, como estou reflexiva sobre isso, proponho que vocês assistam ao filme e que possamos debater sobre ele, o que acham?

– Finalizando as impressões e o texto em questão, queridos, eu vos digo: Ir ao cinema sozinho é algo maravilhoso, mas ir com o amor do lado é ainda melhor. Dar as mãos, roubar beijinhos, abraçar e ficar agarradinho quando o ar condicionado da sala gela muito e compartilhar momentos de cultura e aprendizado. Dividir a pipoca, quando há pipoca, e comprar bala Halls para adoçar os momentos de paixão. Tudo bem clichê, é verdade. Mas tudo muito mais lindo e colorido. Portanto, sigam o conselho da Kaoosinha aqui e aproveitem o outono, em qualquer canto do país, se embevecendo de cultura e amor. Não há nada melhor.

No mais, como dizia Wally Salomão, “fico aqui porque aqui habito”. Em breve mandarei mais notícias dessas terras calorosas da cidade de São Salvador.

Beijinho, beijinho, tchau, tchau.



Artigos, Bahia, Cultura, Destaques

Comentário(s)