Cultura conquistense: Segunda-feira das paixões no Café Society

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Por Mariana Kaoos

Se lá pela década de 1970, Maria Bethânia regravou a canção intitulada Resposta, muito conhecida na voz de Maysa, hoje, 27 de outubro de 2015, quem se apodera de alguns de seus versos sou eu, a fim de iniciar essa matéria já explicitando seu cerne principal: “Ninguém pode calar dentro em mim essa chama que não vai passar…”. E essa chama já habita em minh’alma desde o dia do meu nascimento, contudo, porém, todavia, entretanto, a noite de ontem foi um bonito combustível para que eu acordasse com labaredas no peito, disfarçando sorriso.

Foto: Maieeh Sousa
Foto: Maieeh Sousa

Porque a palavra que resume a noite de ontem ,26, é paixão.  Veja bem, a minha paixão e a de todos os outros que, por algum motivo, compareceram ao Café Society. E, numa ousada tentativa de elencar as pessoas afetadas por ela, comecemos do primeiro: Aconteceu ontem a estreia do Cine Café e o filme exibido foi J.C.D’Almeida: Uma foto-síntese, do cineasta Rogério Luiz. Para quem ainda não sabe J. C. é um dos grandes fotógrafos de Vitória da Conquista. Alias, para quem ainda não sabe, J. C. é um dos grandes fotógrafos do mundo e habita em Vitória da Conquista. Num curta documentário de mais ou menos vinte e cinco minutos, Rogério mostra um olhar muito delicado acerca do seu personagem. O filme é todo em preto e branco e chega a fundo em questões como o lado brincalhão, poético e a devoção que J.C. tem pelo seu ofício de fotógrafo.

Ainda que numa tela de cinema, J.C. foi o primeiro a apresentar olhos de encanto. Já o segundo, tomado e entregue à paixão, foi o próprio diretor do curta, Rogério Luiz. Quando Rogério fala de cinema ele me lembra um garoto, em sua tenra idade, que acabou de fazer alguma descoberta que esmiuçava há tempos e, com isso, tornou-se o menino mais feliz do universo por ter descoberto o seu segredo. Rogério fala com a alma e sorri e se gesticula e, às vezes, até atropela uma palavra na outra de tanto animo. Após a exibição do documentário, ele comentou um pouco do processo de criação, da descoberta e surpresa que foi conviver com J.C. durante esse tempo , do porquê do filme ser em preto e branco e do seu amor e admiração por fotografia e pelo cinema como um todo. E aqui eu poderia disponibilizar o áudio gravado do bate papo de ontem, mas aconselho melhor: assistam ao filme, procurem Rogério para uma cerveja e uma troca de ideias. Certamente que será um momento engrandecedor e engraçado.

Foto: Maieeh Sousa
Foto: Maieeh Sousa

Acerca do Cine Café, Otávio, dono de todo o estabelecimento, ainda está estruturando essa questão. Em qual dia será exibido filmes, em que horário e etc. Ele, na minha humilde opinião, foi o mais apaixonado a noite inteira. Pelo Cine, pelo público, pelas conversas e pelo Show de Talentos. E o Show de Talentos, ah…o Show de Talentos foi realmente sedutor.

Foto: Maieeh Sousa
Foto: Maieeh Sousa

Toda segunda-feira à noite o Café Society funciona da seguinte maneira: o palco é aberto e quem quiser pode se apresentar. Lá tem uma bateria fixa e os músicos levam seus próprios instrumentos. Foi a primeira vez que compareci e já posso afirmar que a moçada marca presença. São meninos e meninas muitos novos, mas talentosíssimos e cheios de vontade de se apresentar. O primeiro deles foi Bruno Leicam com uma veia musical mais rock’n’roll. Bruno toca violão muitíssimo bem e sua voz é agradável, porém precisa ser um pouquinho mais treinada. Para os amantes de Pink Floyd, as canções de Bruno foram o supra sumo de paixão da noite.

Foto: Maieeh Sousa
Foto: Maieeh Sousa

Na sequência quem se apresentou foi Claudio Gabriel. Um menino, vestido com uma camisa do Batman, mas que quando sobe ao palco torna-se um dos músicos mais talentosos que já vi em minha vida. Claudio mescla a música clássica com a popular e, no meio de um monte de jogadas que ele faz no violão, ainda toca no mesmo um som percussivo. O nome dessa técnica é fingerstyle. É meio incompreensível falando, parece até que é loucura. De qualquer forma Claudio é um instrumentista para ver e ouvir de perto. Além de deixar o público boquiaberto, ele também despertou paixão sonora nos presentes.

Foto: Maieeh Sousa
Foto: Maieeh Sousa

Ariel da Mata e Allan Pitanga também subiram ao palco com um repertório bacana e bem aplaudido. No entanto, quem roubou a noite foi Igor Barros e Vanessa Oliveira. Ambos são integrantes de uma nova banda que surgiu por aqui. A banda se chama Crua e ontem, Igor e Vanessa mostraram com paixão um pouquinho do que gostam de fazer: tocar e cantar. Na verdade eles fizeram foi um show. Um show a ponto de Otávio subir ao palco e acompanha-los na percussão.

Vanessa começou com Canto de Ossanha, passou para Hora do Chá (da nossa artista conquistense Luiza Audaz) e seguiu com músicas de outros artistas como Raul Seixas, Céu, Maria Gadu e Rita Lee. Sua voz meio rouca (quem em mim é mistura de Angela Rorô com Marina Lima e com a própria Vanessa) agradou, inclusive, outros cantores presentes no local. E Igor, bem, Igor tem porte de príncipe. Quando toca fica compenetrado e tranquilo. Tem requinte, além de ter talento. A paixão que os dois fizeram brotar na plateia foi aquela paixão contemplativa, daquelas que deixa a gente com o coração feliz, rindo a toa e querendo escrever poema.

Três pessoas despertaram paixão nessa jornalista que vos fala. Paixão dos olhos, paixão do pensar e paixão da carne. No entanto, para além delas e, certamente que não por elas, essa mesma jornalista acordou nas nuvens, extasiada com sensação de encanto pela proposta do Cine Café, pela ideia do Show de Talentos e, mais ainda, pelos meninos, ávidos por música, que já são novos e bons nomes dentro do cenário cultural conquistense. Certamente que se dependermos deles para dar prosseguimento sonoro às nossas noites, estaremos muito bem, cercados de novidades, qualidade cultural e paixão. Me apoderando de outro verso, dessa vez do poeta Vinicius de Moraes, finalizo o texto agradecendo mais uma vez aos novos artistas pela noite de ontem. “E que mesmo em face do meu maior encanto, dele se encante mais meu pensamento”.



Cultura, Vitória da Conquista

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