Existe “Escola sem Partido”?

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Nota Pública do Levante Popular da Juventude

 

Alexandre Xandó é um dos membros do Levante Popular da Juventude
Alexandre Xandó é um dos membros do Levante Popular da Juventude

“Escola Sem Partido”: esta é a proposta que surgiu recentemente na Câmara de Vereadores de Vitória da Conquista. Por iniciativa do vereador Gilzete Moreira (PSB), a proposta, Projeto de Lei 19/2014, busca praticar na rede municipal de ensino de Vitória da Conquista uma “neutralidade política, ideológica e religiosa”. Para os defensores do projeto, a iniciativa justifica-se tendo em vista que é fato notório que professores e autores de livros didáticos vêm-se utilizando de suas aulas e de suas obras para tentar obter a adesão dos estudantes a determinadas correntes políticas e ideológicas; e para fazer com que eles adotem padrões de julgamento e de conduta moral –especialmente moral sexual – incompatíveis com os que lhes são ensinados por seus pais ou responsáveis. (http://www.camaravc.ba.gov.br/noticia/5752/projeto-escola-sem-partido-e-debatido-em-audiencia-publica.html)

Interessante ressaltar o mesmo vereador que busca uma “Escola sem Partido”, apresentou um Projeto de Lei que pretende implementar no currículo escolar municipal a disciplina “Estudando com a Bíblia”, que tem como objetivo incutir “no coração das crianças princípios bíblicos, para mostrar que temos um Deus que pode todas as coisas.”

Nós do Levante Popular da Juventude defendemos uma educação libertadora e o Estado Laico, por isso somos manifestamente contrários a ambos os projetos!!!

É de fundamental importância, sempre que possível, desmascarar a pretensa logica liberal da neutralidade da educação. Fato: o “Escola sem Partido” é partidário. A proposta não esconde uma concepção ideológica evidente, a ideologia liberal conservadora, e tem como agenda uma proposta de “despolitização” da escola. É preciso deixar claro: não existe o ato de educar sem que por trás deste não exista uma proposta política (ideológica) que o sustente. Extrair o caráter político desse processo seria esvaziá-lo. Vejamos: Falar de “Descobrimento” do Brasil, pode. Mencionar reforma agrária, não pode. Ensinar nomes de rios e capitais, pode. Discutir a questão racial, não pode. Passar os valores da “família”, pode. Debater casamento homoafetivo, não pode; e os exemplos são muitos.

O mantra liberal repete ate a exaustão que a educação e a solução para todos os problemas da sociedade brasileira. A questão é: de qual educação estamos falando? A educação, historicamente, sempre foi conservadora procurando reproduzir a dominação e os valores das elites. Por isso, cabe aos educadores e educadoras com uma visão critica defenderem e praticarem uma educação transformadora, desmascarando a ideologia liberal conservadora.

A escola tem um compromisso que é central: a formação para a democracia. Dar ao aluno instrumentos para compreender a realidade em que vive, bem como a formação para o exercício da cidadania são pontos fulcrais em nosso tempo. E isso é perpassado pela ideia de respeito à diversidade. Vivemos em uma sociedade em que a opressão ainda é muito evidente. O racismo, a homofobia, a xenofobia e o preconceito de classe permeiam todas as relações sociais.

O silêncio que se pretende impor é uma forma brutal de calar as desigualdades, injustiças e opressões que estão às vistas de toda a sociedade e que, elas mesmas, entram com força na própria escola: a violência, a discriminação, a marginalização, a repressão policial.

A educação deve ser emancipadora. Retirar da educação o seu caráter político é extrair todo o seu sentido.



Artigos, Política, Vitória da Conquista

Comentário(s)


4 responses to “Existe “Escola sem Partido”?

  1. O que existe hoje nas escolas talvez seja mais que política, é doutrinação esquerdista. E junto com ela vem todo um pacote de ideologias. As pessoas precisam entender que o dinheiro que custeia a educação pública advém de impostos pagos pela população e portanto não deve ser utilizado para propagar ideologias. Quem quiser propagar ideologias que tire do seu próprio bolso, com dinheiro público não.

  2. A proposta do Vereador Gilzete Moreira visa reestabelecer a sala de aula como espaço de livre pensar e garantir o direito do aluno de poder se expressar sem se sentir intimidado pelas posições políticas do professor. Portanto, a iniciativa é louvável.

  3. Lamentável a intervenção religiosa na política e consequentemente na educação de nosso município. Voltamos uns 200 anos! !!

  4. Eu quero que a escola do meu filho represente aquilo que eu o ensino em casa, e jamais vou concordarem que usem o seu tempo na escola pra falar de casamento “homoafetivo”, desmoralização da família e não acho que isso esteja enraizado na classe social. Pra mim ja cansou essa história de preconceito de um lado só, ser chamado de “preto pobre” é preconceito, ser chamado de “branco mimado” é defesa?

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