Sétima Arte em Destaque: A Hora mais Escura

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Por Gabriel José – Estudante de Cinema da Uesb

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A Hora Mais Escura (Zero DarkThirty, 2012) é um filme longo, que se faz sentir as suas duas horas e quarenta minutos de duração (o máximo suportável pelo circuito exibidor hoje em dia, ao que parece). O problema é a primeira hora, um infindável apanhado da escalada do terror propagado por Osama Bin Laben, com a reconstituição de um atentado em Londres e vários, inúmeros outros, com bombas explodindo a cada cinco minutos – dos grandes, só deve ter ficado de fora o de Madri, apenas citado. Parece que a diretora, KathrynBigelow, e o roteirista, Mark Boal (ambos são também os produtores do filme), quiseram lembrar ao público o quanto o terrorista Bin Laden foi “importante” e assim dar um peso extra ao trabalho. Tudo bem, mas excederam-se.É nessa famigerada primeira hora que estão também as duas cenas de tortura, sendo que a primeira, que abre o filme, tem inaceitáveis, redundantes e desnecessários 22 minutos.

Se os criadores quiseram mostrar o horror que foram as prisões americanas no Afeganistão na sua luta implacável e desmesurada a Bin Laden, erraram mais uma vez, pois a cena demora tanto que notamos um certo fascínio naquilo tudo. Mostra-se o preso sendo torturado defecando na roupa e, depois, mostra-se suas nádegas sujas de excremento. Passeiam com ele acorrentado como se fosse um cachorro. Há certas justificativas por parte do torturador: “Vou te tratar da maneira que você decidir: dê-me os nomes e você está livre”, como se fosse o torturador estivesse sendo obrigado a fazer aquilo.

Não à toa muita gente viu o filme como uma apologia à tortura e propaganda da CIA (o Serviço Secreto dos Estados Unidos). Não é o caso de sermos moralistas aqui, mas a excessiva duração da cena, seus insistentes detalhes, sua justificação podem dar a entender que, se os criadores quiseram manter-se neutros, erraram a mão – difícil crer que Bigelow e Boal fariam um filme sórdido e revisionista sobre o período, defendendo o governo Bush e seus excessos pós-11de  setembro. Sem contar que há uma segunda cena, com a heroína, Maya, interpretada por Jessica Chastain, de véu cobrindo a cabeça, ela mesmo comandando uma outra sessão de tortura, já totalmente “à vontade” no trabalho.

Depois desse penível começo (que, para muitos, arruína o filme), Zero DarkThirty engata e transforma-se num filme de ação um tanto quanto banal, com o jeitão brucutu de Bigelow fazendo mais bombas explodirem, matando personagens e estourando os ouvidos do público. Bigelow não é uma autora tradicional: ela interfere pouco nas cenas, seu estilo é 100% Hollywood, de contar uma história da maneira mais eficiente possível, de forma que o filme, nos seus melhores momentos, é tão-somente um anódino filme de guerra, sem grandes reflexões, mas com espaço para o humanismo, é verdade. Há beleza sim nas cenas dos helicópteros se dirigindo para a fortaleza onde estaria Bin Laden, como a explosão do hotel Marriot também é impressionante. Mas a impressão final é de que Bigelow não conseguiu dar conta de todo o material que tinha em mãos e deixou vários pontos escaparem de seu controle, a ponto de serem mal compreendidos.Engraçado, essa A Hora Mais Escura: quanto mais funcional ele é, mais eficiente é sua narrativa, mais realista é suascenas mais oco ele se torna.

Ao sacrificar tudo pela ação, com os cortes rápido, câmera na mão, reconstituição minuciosa (até mesmo a vida pessoal da personagem principal desaparece), diretora e roteirista só conseguiram fazer um filme superficial, pois tiraram o foco daquilo que todos queriam ver. Não convenceu de que a perseguição a Bin Laden e sua posterior morte foram mais importantes do que os métodos utilizados na sua localização. É isso o que dá reduzir o cinema a simples diversão: tiro pela culatra. Bem feito: merece todo o desprezo no qual foi recebido. “Saiu na chuva é para se queimar”, como diria o ditado bem brasileiro. Realmente não gostei.



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