Tome Nota: Opinião – Erros e acertos do Festival de Inverno Bahia 2016

Por Mariana Kaoos

Hello, queridinhos . Como vão vocês nessa segunda feira melancólica? Com aquele misto de sensação de ressaca e saudade pos Festival de Inverno Bahia? Oh, sei bem como é todo esse desejo latente de ardência e poesia captada nas horinhas de descuido, no som de uma banda, no olhar de uma paquera , enfim, nas surpresas e possibilidades das noites frias e fulgazes, em que tudo pode brotar. Bom, para todos nós, que já estamos na espera do que virá ano que vem, segue aqui um breve panorama do que foi bom e ruim no Fib, a fim de que, quem sabe, os erros possam ser findados numa próxima edição e os acertos renovados. Chega mais pra conferir o que rolou por la:

Fotos: Amanda Nascto
Fotos: Amanda Nascto e Laécio Lacerda

. Ponto positivo para a educação das pessoas que estavam trabalhando (nas mais diversas áreas) dentro do Festival. Todos muito educados e gentis com o público;

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. Outra coisa bacana do Fib desse ano: organização e zero brigas. Digo, os shows começaram no horário certo, sem muita enrola e desrespeito com o público. Já em relação às brigas, bom, só pegando o numero exato no Distrito Integrado de Segurança Pública, mas, pelo menos essa jornalista que vos fala não presenciou nenhuma. Até os shows mais agitados como Baiana System e Natiruts foram tranquilos. O público no geral e as mais diversas tribos pareceram conviver “harmoniosamente”;

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. Ah, como não falar do Barracão Universitário? Tá bem, eu sei que muitos tem um preconceito gigantesco com o espaço alegando que o mesmo, prioritariamente heterossexual, comporta muito assédio, dentre outras coisas como musica de “baixaria”. Mas, mozões, não é nada disso que vocês estão pensando. Pela primeira  vez em dez edições de Festival, fui ao Barracão e me apaixonei.  Lá a alegria rola solta e o respeito é valor intrínseco do lugar. Não vi nenhuma briga, bem como assedio ou coisas do tipo. Obvio que fica impossível garantir que não houve nada em momento algum, contudo o que prevaleceu foi a dança e a diversão. As bandas que lá se apresentaram são de muito boa qualidade, apresentando o que de melhor há no universo do forró, baião, xaxado e (por que não?) arrocha;

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. Paula Toler é aquele tipo de artista que não tem uma voz escandalosa, tampouco presença de palco voraz. Seus hits, apesar de alcançarem grande sucesso, não são daqueles que estão todo o tempo ecoando nos fones de ouvido das pessoas que andam por aí. Contudo, não há quem não saiba pelo menos uma de suas músicas. Linda, rainha, diva, deia, deusa, Paula se mostrou leve e feliz durante o seu show na noite de domingo, no Festival de Inverno Bahia. Interagiu com o público, brincou, dançou e cantou clássicos desde a época em que integrava o Kid Abelha e as Abóboras Assassinas. Ah, ela também foi educadíssima com a imprensa e fez o que (acredito eu) nenhum outro artista topou durante o Fib: Recebeu os fãs com muito carinho e atenção. Enfim, o que mais falar dessa mulher que deixou a todos babando?

. Dedinho para cima com a ideia genial da Fainor/Unopar em colocar uma roda gigante no Festival desse ano. A atração conquistou a atenção do público que se concentrou em filas quilométricas para ter acesso ao brinquedo de maneira gratuita. Localizado exatamente na pista principal, foi possível ver os shows com uma visão privilegiada, em cima da roda gigante.  Tudo bem que foi preciso muita coragem de encarar o frio que fazia lá em cima. Mas isso, contudo, pareceu não amedrontar o público que, de modo cativante, sempre saia sorrindo de lá;

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. Esse, para mim, é o ponto mais positivo, divino, maravilhoso de todo o Festival de Inverno Bahia: A incorporação do grupo Baiana System como atração para o palco principal. Já disse anteriormente, mas não tenho problema algum em repetir: O Baiana se configura como um dos principais nomes da nova música brasileira. Ele vem calcado de qualidade e inovação, seja através de suas composições politicas e sociais, seja pelo formato das melodias, bebendo sempre no sound system e na guitarra baiana. Infelizmente o grupo não alcançou o interesse de alguns setores como a mídia local e o público mais velho, tradicional e conservador. Contudo, quem ficou para ver o show dos meninos, teve uma experiência intensa e estarrecedora em todos os sentidos: sonoro, poético, visual, político. Se a curadoria do Fib começar a se atentar para os novos nomes que andam circulando Brasil a fora, a tendência é que o Festival inove e subverta em qualidade cada vez mais;

. Olha, olha, como nem tudo são flores, lá pelo Festival de Inverno Bahia também rolaram coisinhas ruins. Dentre elas, a primeira que posso elencar é em relação aos meus colegas, jornalistas. Queridos (sem ironia ou sarcasmo) vocês juram que realmente só veem coisas boas no evento? Não há um pontinho sequer que vocês discordem? Porque eu só vejo noticias bonitas, belas, bem escritas, praticamente babando o ovo do Fib. E ai eu só posso concluir duas coisas: Ou vocês são pagos pela produção para que falem apenas bem ou vocês são ingênuos demais e se deslumbram com o glamour do Festival, esquecendo-se de uma análise critica da coisa. Bom, conheço muito dos jornalistas que cobrem o Fib e sei da qualidade do trabalho de todos. Justamente por isso não compreendo essa falta de questionamentos sobre o Festival. Enfim, fica o alerta para que, quem sabe na próxima edição, estejamos todos atentos a tudo;

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. Ah, ano após ano viemos falando disso, mas parece que ainda não chegou aos ouvidos da curadoria musical do Fib. Sendo assim e assim sendo, tornarei a repetir: Por que essa escolha de bandas jurássicas da década de 1980? Tudo bem que grande parte delas são boas e tiveram um importante valor cultural em determinado período de tempo. Mas, sinceramente, nomes como Capital Inicial, Biquini Cavadão, Lulu Santos, Paula Toler pouco produzem e inovam em seus trabalhos. Sem sombra de dúvidas, posso garantir que o show que vi de Capital foi exatamente igual ao das outras edições em que eles passaram por aqui. Então, onde o Festival se renova? Por que esse medo de ousar? E até quando nós, público, teremos que nos contentar com essa formula gasta e ver as mesmas atrações o tempo inteiro?

. Cada vez mais o Festival de Inverno Bahia se torna elitista, um evento privilegiado para poucos. Digo isso no sentido econômico mesmo. Os ingressos esse ano, por exemplo, estavam num valor absurdo. As coisas lá dentro, principalmente comida da mesma maneira. Ou seja, precisa-se ter um bom valor aquisitivo para frequentar o ambiente. O que me intriga é que o Fib possui apoio do Governo do Estado da Bahia, acredito eu, que por fomento à cultura. Mas que fomento e que cultura é essa que não se faz acessível para o povo?

Amores, pensei em finalizar com um balanço do Festival, mas acredito que seja melhor deixar isso por conta de vocês. Que fiquemos atentos e conscientes com o que a gente consome, como a gente consome e o quanto a gente consome desse universo proposto pela indústria cultural, visivelmente massificado e utilizado pelo Festival de Inverno Bahia. Que em 2017 o Fib possa inovar ainda mais, no sentido musical da coisa, e viabilizar um acesso maior para outras classes econômicas e sociais. Se for pra ser cultura, que seja democrática. Beijinho, beijinho, tchau, tchau.

 



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