Tome Nota – Um giro pela cena cultural conquistense e o que vem por aí!!

prates bonfim

Por Mariana Kaoos

“Família unida, champanhe pros irmão”:

praça

Hibridismo é uma palavra da língua portuguesa cujo significado transita em termos como união, soma, combinação, criação de novas formas a partir da mistura. De acordo com a gramática, hibridismo é um substantivo masculino e a sua definição se dá da seguinte maneira: “língua ou palavra resultante da mistura dos vocabulários de duas ou mais línguas e/ou da interpenetração de sintaxes provenientes de línguas distintas”. A palavra é empregada como conceito dentro do universo da biologia, bem como da antropologia e das ciências sociais. Direcionando para seu uso dentro das ciências sociais, tem um cara muito bom que, através de estudos culturais, analisa de maneira profunda a sociedade pós moderna e o hibridismo social que dela resulta. Seu nome é Stuart Hall, uma das maiores cabeças da Escola de Birmigham, seguidor da Nova Esquerda, integrante dos Estudos Culturais da década de 1950, na Inglaterra.

Stuart acredita que a nossa contemporaneidade resulta de uma mistura de referências, das vivências/experiências coletivas e individuais de cada um e do alto consumo, nos mais distintos níveis, dos produtos culturais. Para o sujeito pós moderno, dotado de múltiplas identidades e constituído dentro do hibridismo, é possível transitar aqui e ali, se inserir dentro de diferentes grupos sociais e culturais e se sentir pertencente ao mesmo, ainda que por instantes ou de maneira fulgaz.

Na noite de sábado, 17, foi possível observar um público extremamente hibrido, cheio de referências culturais expostas através de suas roupas e posturas, na Praça da Juventude. O que rolou por lá foi uma edição do Rap Bahia, que anda circulando em algumas boas cidades do estado. Quem tá à frente do projeto é o Mc soteropolitano DaGanja que, para a edição ocorrida aqui, convidou Complexo Ragga, Dj Guerrero, Do Rebento Clan e ainda promoveu uma batalha de mc’s. Como esperado, a nossa edição do Rap Bahia foi maravilhosa, de excelentíssima qualidade, deixando o público com aquele gostinho na boca de quero mais.

Pessoas. Pessoas de todos os tipos, todas as cores e todas as classes sociais. Usando um dialeto específico do universo do rap, tava todo mundo reunido, na humildade, chegando junto. As punanys mostrando como é que se dança o dancehall e os rudyboys agitando, botando pra cima, espancando no som. Na Batalha de Mc’s a galera colou perto, vibrando a cada freestyle feito pelos competidores. Na hora que o Do Rebento Clan tocou, da mesma maneira. Os meninos estão mandando bem demais e apresentaram algumas músicas do seu novo disco, ainda em fase de produção, Falindo os Cassinos. Contudo, quem, mais uma vez, fez a galera pular foi o Complexo Ragga. Na apresentação deles, como de costume, todo mundo marcou presença. E foi lindo. Loro Voodo, Supremo Mc e Jhonny Ranks conseguem mostrar o seu amadurecimento musical a cada nova música apresentada. Loro tem se superado nas batidas e os meninos nas composições.

Mais uma vez o público conquistense mostrou que sabe e pode ocupar os mais distintos espaços culturais, desde que os seus produtos sejam de qualidade e respeito. Foi de uma sensação etérea poder observar a Praça da Juventude cheia e pessoas dos mais diferentes nichos sociais subindo ao palco, cantando, apresentando sua rima e mostrando que a arte está na rua. Que venham mais!

“Outras notas vão entrar, mas a base é uma só”:

davi

Quando a gente encontra pessoas com menos de quarenta anos de idade que gostam e cantam e vibram com a obra musical de Tom Jobim, a gente faz o que? Levanta os braços e diz amém. Sim, porque veja só, Tom teve Radamés Gnatalli como professor de piano, foi um dos principais nomes da bossa nova, compôs canções riquíssimas em letra e melodia. Ele também possuía uma sensibilidade extrema para com a natureza (seus últimos discos são praticamente todos voltados para canções temáticas), apresentou para todo o mundo como se faz e o que era a cultura musical do país, gravou um disco com Frank Sinatra (dica de canção: escutar Baubles, Bangles and Beads), foi parceiro de copo e de vida de Vinicius de Moraes, criou um novo jeito de se tocar piano, contribuiu para o processo evolutivo da música popular brasileira. Enfim, dá para escrever uma reportagem inteira sobre a genialidade de Tom Jobim que foi e ainda é um dos mais importantes nomes dentro do universo musical que temos nesse país.

Encontrar pessoas que se identifiquem e reconheçam isso é uma delicia. E encontrar pessoas que toquem suas canções é sublime. Ontem à noite, 18, quem fez isso de maneira ímpar foi o Trio Curimã, grupo instrumental formado pelos músicos Davi Brandão, Eric Lopo e Kayque Donatto. Mas não só, viu?! O repertório dos meninos perpassou por outros nomes de altíssima qualidade como Novos Baianos e Bob Marley. O Trio Curimã possui um requinte e, ao mesmo tempo, uma simplicidade como poucos grupos da cidade o tem. Ainda que seja apenas instrumental, aliás, acredito que justamente por ser apenas instrumental, eles conseguem captar a essência de cada melodia e passar isso ao público com muito respeito e qualidade.

show grupo

Mesmo que rápida, a apresentação do Trio na noite de ontem foi arrebatadora. Um presente para os nossos olhos e ouvidos. Na verdade, vamos contextualizar aqui um pouco… Ontem rolou a segunda edição do projeto Tribos Musicais, no bar Ice Drink. A entrada estava num valor de cinco reais e muita gente boa se apresentou por lá: Thainan Varges, o grupo Crua, Trio Curimã, The Outsiders Country e o grupo Grão Bordô. Se inicialmente o local estava meio entediante, ao longo da noite o Ice lotou de pessoas interessantíssimas e muito bate papo, regados a um som de qualidade, aconteceram.

Outro destaque do evento foi a banda Crua. Os meninos são novíssimos, mas já mostram uma composição de palco extremamente fértil. O repertório não poderia ser melhor: Lamento Sertanejo, Negro Gato, Hora do Chá e Nós foram algumas das músicas apresentadas. Igor Barros mandou ver no violão, assim como Rafael Gomes, tomando conta da percussão. E os vocalistas da Crua, olha, o que eram os vocalistas da crua, pelo amor de Deus!? Chico Ramalho extremamente carismático, de voz imponente. Thaís Damacena linda, sensual e segura de si. Por fim, Vanessa Oliveira, diferente de tudo, absolutamente tudo que já ouvi nos últimos tempos. Vanessa é negra, de cabelo black (ainda curtinho), maravilhosa, estonteante e, tenho certeza, a mais nova promessa musical de Vitória da Conquista. Sua voz é uma mistura de Ângela Rorô com Marina Lima e Elza Soares. Ela em palco cresce, fica gigante, intimida e, ao mesmo tempo, enfeitiça com sua voz toda a plateia. É com muita felicidade que falo sobre o Crua, porque tinha era tempo que não havia um grupo tão heterogêneo e cúmplice em palco como eles.

As outras apresentações também foram bacanérrimas e a iniciativa de reunir esse tanto de gente dentro de um só projeto foi muito válida. Na certa, grande parte dos presentes que foram conferir o Tribos Musicais na noite de ontem já estão à espera da próxima edição. Se o Trio Curimã e o Crua estiverem presentes, melhor ainda!

Rapidinho é mais gostoso…

“Vou aprender a ler pra ensinar meus camaradas”

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Passar pela vida de alguém com o propósito de educar, ensinar do mundo a essa pessoa e, de alguma maneira, modificar a sua existência, é algo valioso e que poucos conseguem fazer. Jarbas Lacerda da Silva, ou Jarbão, como era conhecido, foi muito mais que um professor de matemática: ele foi amigo, companheiro, confidente de seus alunos e trocou com todos eles conhecimento e vida. Que nesse momento a sua família possa se reconfortar e encontrar paz e que Jarbão possa ser amparado por espíritos de luz. Todos nós, que fomos seus alunos, estamos aqui felizes e honrados por ter tido o prazer de conviver com alguém como ele.

O Rádio, a moça e a voz:

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Essa semana tem programação cultural de qualidade absoluta. Adivinha onde vai ser? Óbvio que no Café Society. É, nessa quinta feira, dia 22 de outubro, Larissa Caldeira e banda irão se apresenta no Café com o show intitulado Rádio Canção. A proposta é rememorar os grandes artistas do rádio, através de um repertório vasto e com novos arranjos musicais. O valor da mesa, com quatro cadeiras, está a sessenta reais, o que não sai caro para cada um, já que Rádio Canção nasceu com o propósito inovador de um estudo da cultura musical brasileira e promete ser uma proposta inusitada. A partir das 21:30h. Nos vemos lá?

Lindo e eu me sinto enfeitiçada, menino bonito:

italo

Para a alegria dos fãs, quem está de volta ao palco nesse fim de semana é Ítalo Silva. E tem novidade: serão dois dias na sequencia. Seu show, Viva O Povo Brasileiro, será apresentado nos dias 24 e 25 de outubro, a partir das 19:30h. O valor do ingresso ainda não foi divulgado, mas ítalo sempre cobra um preço popular para que todos possam comparecer, então, de qualquer maneira, já dá para marcar na agendinha a data do show. Viva O Povo Brasileiro vai contar a nossa história através do cancioneiro popular. A ideia é genial e extremamente precisa. E quem bom que estamos prosperando em produções nesses últimos tempos. Sexta e sábado vamos todos para o teatro, ver Ítalo cantar e consumir cultura de qualidade!



Cultura, Vitória da Conquista

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