‘Deixa Sabiá Cantar’ reúne artistas conquistenses em prol da cultura!

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Por Mariana Kaoos

Foto: Maieh Sousa
Foto: Maieh Sousa

Torno a repetir meu amor: ai ai ai! Ao que tudo indica, parece mesmo que os artistas de Vitória da Conquista são extremamente lentos quando o assunto é resistência. Ocupar espaços. Brigar por eles. Propor iniciativas de cunho artístico cultural. Essas coisas que todo mundo que realmente se preocupa com a produção e o escoamento da cultura faz, sabe como é? Escrever um texto crítico e joga-lo nas redes sociais é bacana. Dá compartilhamentos e comentários. Dá status. Mas nada mais que isso. Porque são palavras soltas. Palavras soltas de pessoas que aparentemente se mostram ativas e preocupadas com as estruturas (não) oferecidas para que os artistas possam se apresentar na cidade, mas de ativas e preocupadas não tem absolutamente nada, já que na hora de marcar presença nos espaços de luta e discussão, a apatia fala mais alto.

Foto: Maieh Sousa
Foto: Maieh Sousa

Se foi assim com a audiência pública para discutir questões referentes ao Centro de Cultura, com o Canto do Sabiá, na noite de ontem (01), também não foi diferente. Porque o fato é mais ou menos este: A Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista criou há pouco mais de dois meses a Lei do Silêncio, que gira em torno de notificar, multar e, por vezes, interditar espaços em que o volume do som ultrapasse o número de decibéis permitido. O Canto do Sabiá, bar pertencente ao fotógrafo Sabiá, foi denunciado por alguns vizinhos e acabou recebendo duas notificações por conta da Lei do Silêncio. A verdade é que o som do bar não estava ultrapassando o volume de decibéis permitido e, depois de correr muito atrás, o proprietário conseguiu retirar as notificações. Só que aí nesse meio tempo outros problemas foram surgindo como as constantes reclamações de alguns moradores próximos ao local, a sujeira na rua feita pelos frequentadores do bar e a própria segurança dentro do estabelecimento. Pensando e repensando nisso tudo, Sabiá cogitou fechar o espaço.  Aí alguns ARTISTAS com letra maiúscula, uniram-se e pensaram numa proposta de sarau onde as pessoas pudessem se reunir, cantar, recitar poemas, bater papo e compreender o porquê da necessidade de manter o Canto do Sabiá vivo.

Foto: Maieh Sousa
Foto: Maieh Sousa

A partir daí criou-se um nome (“Deixa O Sabiá Cantar”) para o evento e as pessoas começaram a se mobilizar. O palco seria aberto e a entrada gratuita. Os artistas com letra minúscula gostaram da ideia e confirmaram, através de palavras calorosas e likes bem dados no Facebook, a importância do evento e a presença no dia dele. Ai é agora que eu te pergunto: desses inúmeros artistas (os mesmos que também fizerem o fuzuê virtual para a audiência pública), sabe quantos foram? NENHUM. Nenhunzinho sequer. Então, se pela segunda vez a mesma prática ocorre, alguns questionamentos começam a surgir: Por que essa apatia? Como reclamar da falta de oportunidades para apresentações em espaços bem frequentados de Vitória da Conquista? Como exigir o patrocínio de empresas particulares e órgãos públicos se esses artistas não lutam pela preservação da sua própria arte? Ou se espera que os apoios e o reconhecimento do público caiam gratuitamente no seu colo?

Foto: Maieh Sousa
Foto: Maieh Sousa

O Sabiá cantou:

Se por um lado o Deixa o Sabiá Cantar poderia ter sido um espaço de debate político cultural, por outro, o que rolou na noite de ontem foi maravilhoso e bastou por si só. Os artistas com letra maiúscula estiveram presentes oferecendo ao pequeno, mas fiel, público o que de melhor podem fazer: arte.

Foto: Maieh Sousa
Foto: Maieh Sousa

Ítalo Silva, em todo seu esplendor, mais uma vez deixou a plateia boquiaberta com a sua força de interpretação em palco. Igor Barros, no auge dos seus dezenove anos de idade, impressionou inclusive aos músicos presentes ao tocar no violão clássicos populares como Odeon e Brasileirinho. Fillipe Sampaio (e aqui vale ressaltar que toda vez que pronuncio esse nome, acabo sorrindo sem querer para o universo) apresentou algumas músicas autorais, riquíssimas em qualidade tanto na letra como na melodia. Saulo Silva deu um show de percussão, acompanhando absolutamente todos os artistas que subiram ao palco na noite de ontem.

E outros nomes, outros importantíssimos nomes que vem ocupando o cenário cultural da nossa cidade estiveram lá: Paulo Mascena, Marlua, Bruno Leituga, Maieh Sousa, Narjara Paiva, Israel Vibration, dentre outros aqui não lembrados, porém, não menos importantes. Quem também subiu ao palco para falar um pouquinho foi o queridíssimo Sabiá, que fez um apanhado da relação cultura x boteco desde os anos 90 até os dias atuais. Além disso, Sabiá presenteou a todos com uma receita surpreendente: escondidinho de moela feito especialmente pela cozinheira Amanda, vinda diretamente com os seus dotes culinários de Itapetinga. Regalo total! O certo é que na noite de ontem foi decidido que o Canto do Sabiá sobrevive. Fique atento às próximas atrações.



Cultura, Vitória da Conquista

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