Estudante de Vitória da Conquista mora em apartamento usado por Dilma durante a ditadura

parque logistico

Por Daniel Camargos/ Estado de Minas

isadobas1-860x280

Quando Dilma Rousseff (PT) preparava sua primeira candidatura para presidente da República, em 2010, ela assinou um documento que modificou a vida de duas garotas, que à época tinham 19 anos, estudavam direito na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e perdiam horas dentro do ônibus a caminho da faculdade. O documento em questão era um contrato de locação do apartamento 1.001 do Bloco A do Edifício Solar, propriedade da candidata à reeleição, que está em vigor até hoje.

“Conto para todo mundo que vem aqui que moro no apartamento da presidente”, diz Diana Lile Miranda Oliveira, enquanto mostra, satisfeita, o contrato. Aos 23 anos, ela é recém-formada em direito e passa a maior parte do dia estudando para prestar concurso, de olho em uma vaga na Defensoria Pública ou no Ministério Público. “O que eu acho mais legal é que são três mulheres estudando e tentando construir a vida em um apartamento que pertence a uma outra mulher, que foi eleita presidente e todas nós temos como exemplo”, comenta Isadora Vieira Amorim Santos, também de 23, que está concluindo o curso de direito na UFMG.

Diana é de Santana do Paraíso, cidade do Vale do Aço, e o principal motivo de o pai dela ter escolhido o local, quando buscava um apartamento para a filha morar, foi o fato de o Edifício Solar – uma bela construção com inspiração modernista – ser localizado na Avenida João Pinheiro exatamente em frente à faculdade de Direito da UFMG. “Ele só foi saber que era da Dilma quando veio o contrato da imobiliária para assinar”, lembra Diana, que conheceu a baiana Isadora, de Vitória da Conquista, na faculdade. As duas combinaram de dividir o aluguel e assim conseguiram escapar das agruras do transporte coletivo da capital mineira.

Isadora e Diana chamaram ainda outra amiga, também estudante de direito da UFMG, e as três dividem as despesas do apartamento de 120m² e três quartos. O aluguel, quando o contrato foi assinado, era de R$ 900, mas, como previsto, foi corrigido pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) e atualmente é de R$ 1,3 mil, uma elevação de 44%. Se fosse levado em conta o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é o oficial usado para medir a inflação no país, o valor teria passado para R$ 1,2 mil.

Somando as outras despesas, como o condomínio (R$ 400) e as contas domésticas, cada uma das inquilinas de Dilma gasta cerca de R$ 800 por mês para morar, quantia paga pelos pais. O imóvel da presidente está carente de uma reforma. Na parede da sala, houve uma infiltração e após o conserto o reboco está aparente, sem pintura. Os pisos ainda são originais da década de 1960, assim como as louças do banheiro, que tem uma clássica banheira.

A decoração das garotas é espartana. O que predomina são livros nas escrivaninhas dos quartos, principalmente obras técnicas de direito, mas há espaço para literatura. O preferido de Diana é 1984, do inglês George Orwell, e de Isadora, Cem anos de solidão, do colombiano Gabriel Garcia Márquez. As duas se definem como jovens “de esquerda” e entre os amigos de seu círculo todos sentem orgulho quando sabem que estão no apartamento da presidente. As estudantes votaram em Dilma em 2010 e afirmam que farão o mesmo neste ano.

Na última eleição, elas chegaram a pendurar uma bandeira da campanha de Dilma, uma espécie de provocação aos professores chamados por elas de “conservadores” da faculdade de direito. Aliás, foi da faculdade que saiu o professor e ex-governador Antonio Anastasia (PSDB), candidato ao senado e o cérebro do programa de governo do principal rival da petista, o tucano Aécio Neves.

Diana e Isadora sabem do histórico do apartamento, que foi usado por Dilma como aparelho (jargão das organizações de esquerda para locais onde aconteciam reuniões sigilosas). Ele é o primeiro item da declaração de bens da presidente apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O valor do imóvel declarado por ela é de R$ 118 mil, mas um apartamento semelhante à venda no prédio é oferecido por quase R$ 500 mil. Por fim, fica o convite das duas moradoras para a presidente, que caso deseje visitar o apartamento será bem recebida. “Eu passaria um café para ela”, brinca Diana.

Memória

Salva pelo porteiro

Foi por muito pouco que a hoje presidente Dilma Rousseff não foi presa em seu apartamento no Edifício Solar, em 1969. Ela fazia parte do Comando de Libertação Nacional (Colina) e dias antes sete integrantes da organização haviam assaltado um banco em Sabará. O esconderijo deles foi descoberto pela polícia, no Bairro São Geraldo. Houve troca de tiros e dois policiais morreram. No dia seguinte, Dilma e o então marido dela, Cláudio Galeno, fugiram do apartamento 1.001, pois o local estava “queimado”. O casal foi salvo pelo porteiro, segundo depoimento de Dilma arquivado no Conselho de Defesa dos Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh-MG): “Numa noite, no fim de dezembro, o apartamento foi cercado e conseguimos fugir, na madrugada. O porteiro disse aos policiais do Dops de BH que não estávamos em casa. Fugimos pela garagem que dá para a rua do fundo, Rua Goiás”, relatou a presidente.



Brasil, Política, Vitória da Conquista

Comentário(s)


3 responses to “Estudante de Vitória da Conquista mora em apartamento usado por Dilma durante a ditadura

  1. Parabéns para as jovens estudantes que que sem dúvidas, apesar de estarem pagando aluguel, para se manterem na capital afim de estudarem, estão também fazendo historia. Faltou uma quarta estudante para compor esta equipe, que seria uma estudante de história para deixar mais valorizado este espaço físico. Acho até que a Presidente Dilma deveria transformar este apto em um memorial de sua vida. De uma estudante de esquerda e revolucionária, para se transformar na mulher mais poderosa das Américas. Gostei muito da matéria, ela tem um valor simbólico e histórico incrível. Parabéns pela Conquistense que faz parte desta equipe de futuras protagonistas na área jurídica.

Comentários fechados