Sétima Arte em Destaque: Os Suspeitos

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Por Gabriel José – Estudante de Cinema da Uesb

MV5BMTg0NTIzMjQ1NV5BMl5BanBnXkFtZTcwNDc3MzM5OQ@@._V1._SX640_SY947_A história sombria, sobre homens comuns entrando em contato com o lado mais obscuro de suas almas quando deparados com uma situação desesperadora, onde  inicia se uma investigação que demonstra o lado mais desesperador possivel para solucionar o caso investigado , pode ter virado clichê facil em Hollywood, mas no caso de Os Suspeitos pode ser diferente. Sem se precipitar ou dar respostas fáceis por meio de imagens, o diretor Denis Villeneuve jamais engana o público. Pede-lhe apenas um pouco de paciência para acompanhar uma meticulosa investigação, cheia de fatos tenebrosos, mas sabedora da maneira de dosá-los. E ela vai tornando-se cada vez mais psicológica, adentrando a mente de seus personagens, fazendo-os agir de forma que jamais imaginariam. Aqui está também outra forte característica do filme: a imprevisibilidade. Você pode até confirmar suas suspeitas ao final, mas ter certeza delas ainda no desenvolvimento dos fatos é impossível. Inserindo e extraindo elementos, assim como acrescentando e riscando suspeitos da lista de investigados, a narrativa envolve a cada segundo.

Começa então um jogo complexo e perverso com o espectador: aquele mesmo Keller Dover, pai dedicado encarnado pelo sempre bonzinho Hugh Jackman, começa a tomar atitudes muito condenáveis e violentas para salvar a sua filha. O fim justifica os meios? Pode-se torturar um suspeito de assassinato para conseguir provas? Esta mesma discussão, que despertou grande polêmica nos Estados Unidos com a exibição de A Hora Mais Escura, reapareceu após Os Suspeitos. Ninguém sabia dizer ao certo se o filme defendia ou atacava a prática da tortura, até porque a posição do espectador é incômoda: somos levados a nos identificar e a torcer por um torturador cada vez mais bárbaro, já que ele também é um pai corajoso que tenta salvar a sua filha. Dilema complicado, e grande astúcia deste filme.

Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal estão excelentes em seus papéis, compondo figuras muito distintas do habitual: o ator australiano faz um homem impulsivo, bruto, de falas rápidas e gestos irrefletidos. Já o detetive Loki ganha um tique com os olhos piscando rápido, as tatuagens em forma de símbolos e outros elementos para ilustrar seu caráter obsessivo. Tecnicamente, a produção é impecável, mesmo com longa   duração, que acomodam em bom ritmo um número impressionante de reviravoltas. O título original de Os Suspeitos, Prisoners, ou “prisioneiros”, acaba ganhando, sob essa perspectiva, uma ambigüidade que se mostra o ponto mais forte da obra. Afinal, não apenas as garotas raptadas são as prisioneiras da trama, como também o policial atormentado, o pai ensandecido, o suspeito problemático, e de certa forma todos os personagens, presos a si mesmos e a um lado deles que até então nunca tinha vindo à tona. Nesse meio tempo, o diretor conduz tudo com uma maestria impressionante, mantendo o pique do suspense por duas horas e meia de produção, confiando no desenvolvimento dos personagens de Jackman e Gyllenhaal, e desenrolando a investigação confusa com a confiança necessária.

Talvez alguns elementos não sejam tão bem resolvidos, como a simbologia do labirinto ou a revelação do que realmente aconteceu com a garotinha sequestrada (elemento que tinha sido sugerido ao espectador de maneira tão eficaz), mas Os Suspeitos surpreende por evitar a trajetória da maioria dos suspenses hollywoodianos. Nada de personagens incorruptíveis, nada de pais dispostos a tudo para salvar as suas filhas. Ao contrário da moral e dos bons costumes, temos uma trama sombria, sobre homens e mulheres injustos, pecadores, controversos. Rumo ao final, uma traumatizada Grace Dover (Maria Bello), esposa de Keller, diz ao detetive: “Meu marido fez tudo o que era necessário. Graças a Deus. Ele é um homem bom”. Loki não responde. Este é o silêncio incômodo que paira em toda a história, sobre os pequenos arranjos que os homens fazem, em nome de Deus e da verdade, para construírem a sua própria noção de justiça.



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