Conheça a história por trás da foto do menino que levou flores para a colega após empurrá-la na escola

Por: Paula Minozzo http://zh.clicrbs.com.br/

19918219

Era para ser apenas mais um singelo pedido de desculpas depois de um incidente corriqueiro em uma escola de Educação Infantil de Porto Alegre. Mas a foto de Diogo, de quatro anos, segurando um pote com pequenas violetas brancas virou uma sensação no Facebook durante a semana. As flores foram compradas a caminho da escola, em um supermercado, como um presente para a colega Isabelle, também de quatro anos, que voltou para a casa, numa quinta-feira à tardinha, com o joelho direito ralado.

Em meio à enxurrada de curtidas que ganhou Diogo — cerca de 58 mil —, que na foto publicada aparecia com uma expressão arrependida, o rostinho de Isabelle ainda era desconhecido. Nos comentários da rede social, perguntavam: mas afinal, quem é a destinatária da gentileza?

Isabelle e Diogo são amigos. Escolheram um ao outro para formarem um par na apresentação de São João, sábado passado. Quando se encontram, não param de brincar. No pátio da escolinha no bairro Partenon, os dois ficam felizes, agitados. “Ele é ligado no 220”, “Ela também”, comentavam as mães, que até o episódio não se conheciam. É preciso fôlego para acompanhá-los: “Calma, Diogo, espera a tua vez”. “Isabelle, deixa o Diogo sentar aí”.

Um é mais encantador que o outro.

Foi na semana passada que houve o incidente que escancarou o gesto sensível entre dois colegas de escola. Em fila, um atrás do outro, prontos para uma atividade escolar, Isabelle parou no meio de uma das escadas que havia no caminho. Diogo, o próximo da fila, a empurrou.

— Ele disse que queria que a fila andasse mais rapidamente — explica a professora da turma de Jardim, Shaiany de Almeida, de 29 anos.

O menino foi chamado pacientemente pelas professoras da turma. Houve a conversa amigável, a repreensão necessária. “Não se pode fazer isso,” “agora temos que pedir desculpas, né?” e o famoso “vamos contar para a mãe, Diogo?”

Em casa, novamente houve a conversa com a mãe. Diogo é o único menino em uma residência comandada por mulheres. Tavane Carvalho, de 27 anos, mais conhecida como Tatá, viu na situação uma forma de ensinar o filho sobre a violência.

— Foi a primeira vez que aconteceu um caso assim. Não se pode agredir meninos e nem meninas, falei isso para ele. Mas também falei sobre agressividade especialmente com as mulheres. Não queremos que ele seja um homem machista — relata.

No dia seguinte ao acontecimento, ela pediu conselho a outras mulheres da família pelo WhatsApp. Ficou decidido: comprariam um agrado para a colega para assim deixar o pedido de desculpas ainda mais sensível.

— A ideia veio de maneira muito espontânea. Passamos no supermercado antes da escola e ele que escolheu as flores— conta.

Ao chegar na escola com Isabelle, naquela sexta-feira, Janira Heisler, de 37 anos, foi surpreendida pelo gesto do colega.  “Aceita, filha”, disse para a menina, que estava tão surpreendida quanto ela. Hoje, as violetas decoram a mesa da sala da casa.

— Quem tem filhos sabe que isso é normal entre crianças. Mas foi um gesto sincero da parte dele, eu vi nos olhinhos do Diogo — conta.

Tatá publicou a foto no Facebook. Dois dias depois, se assustou com a repercussão. Ficou triste com as críticas que recebeu, ressaltou que além das flores, conversou muito com o menino sobre gentileza.

— As flores foram parte de algo maior que ensinei para ele — disse Tatá.

Isabelle e Diogo entendem pouco da situação, nem sabem o que é a rede social.

— É uma coisa que a minha mãe faz enquanto eu durmo — diz a menina.
Janira ri da resposta.

Diogo avisa:

— Estou famoso.

Mal sabem eles, que durante a semana, o pedido sincero serviu de exemplo para gente muito maior que os dois.

Foto: Félix Zucco / Agencia RBS


Brasil, Destaques

Comentário(s)