Pipoca Moderna: Virada Cultural em Vitória da Conquista e #Ocupaaruachile

Por Mariana Kaoos

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Se tem uma coisa que vem dando o que falar nesses últimos dias é o caso da interdição do bar e restaurante Aquariuus Gourmet, na Rua Chile. Também pudera! A política e os preceitos de avaliação da Gerência de Posturas de Vitória da Conquista vem se mostrando um tanto quanto dúbia, já que na prática, os critérios para interditar locais como o Aquariuus e o Canto do Sabiá não se aplicam a outros estabelecimentos que, por vezes, descumprem a lei ultrapassando os limites de decibéis exigidos, ocupando toda a calçada com mesas e cadeiras, dentre outros pormenores.

Alguns artistas, intelectuais, pensadores e consumidores de cultura de Vitória da Conquista tem se posicionado, através das redes sociais, a favor da permanência (ou seria sobrevivência a palavra correta?) do Aquariuus e questionado o favorecimento de algumas vertentes culturais, em detrimento de outras, aqui na cidade. Em decorrência disso, a professora do curso de Cinema e Audiovisual, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Adriana Amorim, decidiu, juntamente com outros produtores de cultura, criar a campanha #ocupaaruachile. Ela consiste numa ocupação com atividades culturais, no dia 2 de junho, na Rua Chile, onde fica localizado o Aquariuus Gourmet.

Segue abaixo sua análise do ocorrido, bem como o convite para a ocupação.

PARA NÃO ABRIRMOS UM PRECEDENTE

Por Adriana Amorim

Pessoas conquistenses.

Depois de algumas trocas com amigos e colegas sobre o fechamento do Aquarius Gourmet, algumas questões ficaram muito evidentes e outras nem tanto.

Das evidentes podemos citar, já de cara, a indiscutível diferença com a qual se tem tratado a mesma questão com o Aquarius e os demais bares da cidade. É como afastar apenas um representante do executivo por pedaladas fiscais e ignorar solenemente os demais… Mas deixa pra lá (por enquanto…)

Há uma infinidade e aqui o alcance do termo infinidade é pouco para falar do tanto de bar na nossa cidade que invade as calçadas, que ultrapassa todos os limites de convivência social, de depreciação do espaço público que nunca foram alvo de nenhuma peleja. Dos bairros mais distantes, da efusiva e barulhenta Frei Benjamim aos mais finos e intocáveis botecos e camarotes dos bairros nobres.

Há algo de podre no Reino da Suíç… ops, da Dinamarca…

Há algo de muito estranho no fechamento e na perseguição ao Aquarius.

Se os donos não estiverem pegando o cônjuge de alguém é urgente que compreendamos o porquê dessa perseguição, porque começa com um e depois nos leva a todos… já sabemos, né?

Especulemos:

Quem frequenta o Aquarius e seu entorno?

A quem incomoda esse público frequentador?

Gente estranha, como modos alternativos. Mas sobretudo, gente com a qual se pode mexer, porque não está, nem o proprietário do bar nem seus frequentadores, no Olimpo dos intocáveis, daqueles que com cifras e outras armas impõem suas vontades.

Está no olho do dono a maior qualidade do Aquarius. Aquela proximidade do proprietário com seu público. Aquela certeza de que são gente como a gente. Aquela cara de garçom que eles têm que seduz qualquer um quando fica sabendo: “Eles são os donos…”

Uma galera que alia trabalho com prazer. Ah, isso mata qualquer um. Uma galera que olha no olho, bate aquele papo, toca aquela bateria…Uma galera que de tão serena e tranquila, beira o revolucionário.

E os seus seguidores, gente que se identifica e se sente afetuosamente bem recebido ali, se fortalecem e aos poucos eis que algo de lindo e forte vai tomando conta da cidade.

Alto lá! Há gente “do bem” que repousa ao lado desse antro de felicidade.

A família tradicional conquistense, em consonância com a brasileira, precisa ter garantidos seus direitos ao sossego. Sim. Não jaz aqui (no final da frase) nenhum traço de ironia.

No entanto, há uma cidade que cresce. Há um movimento cultural que se amplia e a cidade é de todos.

Morar perto de regiões como a Frei Benjamim, A Olivía Flores, só pra citar as mais radicais, é saber que terá como vizinho o desconforto e o desassossego. Tem gente que é feliz muito alto!!!

Partamos então, para o que não é tão evidente.

Em se confirmando o fechamento do Aquarius Gourmet (e só dele), não tenham dúvida, isso vai virar uma prática, mas apenas com os espaços alternativos. Gente, o fascismo cresce a passos largos.

Xamparia?

Ice Drinks?

Sabiá?

Só pra dizer de alguns.

…Esqueçam…

Começam assim, tirando do espaço público os alternativos… depois os estranhos… depois os freaks… e nos jogarão, bichas, sapatas, maconheixs, feministas, negrxs, ativistas, todos em guetos afastados.

Se a gente não se posicionar agora, talvez depois seja tarde demais.

A garantia de manutenção do Aquarius Gourmet em funcionamento representa nossa resistência, representa a garantia de nosso direito de ocupar a cidade, da forma que compreendemos justa e equilibrada.

A cidade não é da burguesia, por mais que nos comportemos como se fosse.

A cidade é de todos nós.

O país vive um momento de importantes ocupações culturais.

Ocupemos, pois, as calçadas do Aquarius, as calçadas da Rua Chile, o entorno da Olívia Flores, com aquilo que temos de melhor: nossa arte, nossa risada, nossa felicidade, nossa alegria.

Não se pode proibir o povo de estar nas ruas, bebendo, conversando, dando risada. Façamos isso, pois.

Vamos promover o encontro e a alegria, que ao fim e ao cabo não está no Aquarius… está em nós.

Na ocasião, por sugestão do parceiro Gilmar Dantas, façamos o planejamento da tão sonhada #ViradaCulturalDeVitóriaDaConquista

#‎OcupaRuaChile

#‎NâoÉSóPeloAquarius

O QUÊ: Ocupa Rua Chile

QUANDO: 02/06 (quinta) – a partir das 21h00

ONDE: Rua Chile – esquina com Olivia Flores

O QUE LEVAR: Contribuição cultural, sua própria bebida, instrumentos musicais acústicos, serenidade, coragem!

 



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