Conquista: Divaldo Franco arrasta multidão espírita na noite de sexta-feira

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Por Mariana Kaoos

Foto: Mariana Kaoos
Foto: Mariana Kaoos

Dizem que o século XIX foi de suma importância em todos os lugares do mundo. Se aqui no Brasil conquistamos alguns direitos como a nossa independência, a abolição da escravatura e a transição da monarquia para um regime republicano, a Europa, por exemplo, já estava muito mais avançada política e socialmente. A primeira revolução industrial já se onsolidara e os mais diversos pensadores apareciam para discorrer sobre ela, bem como os tantos outros milhares de assuntos filosóficos e sociais.

Um desses pensadores, por sinal, era Karl Marx. Alemão e visionário, Marx era de tudo um pouco: economista, historiador, filósofo, teórico político e jornalista. Ele escreveu grandes obras como Manifesto Comunista, O Capital e A Ideologia Alemã, e até hoje grande parte dos acadêmicos e da esquerda política seguem seus pensamentos. Ainda no século XIX, mais precisamente em 1844, Marx lança seu livro Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, onde, uma de suas mais célebres frases está inserida. É, aquela mesma, em que ele diz que “a religião é o ópio do povo”.

Foto: Blog do Rodrigo Ferraz
Foto: Blog do Rodrigo Ferraz

Partindo de uma explicação do próprio autor, ele afirma que “é este o fundamento da crítica irreligiosa: o homem faz a religião, a religião não faz o homem. E a religião é de fato a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ou não se encontrou ainda ou voltou a se perder. Mas o Homem não é um ser abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Este Estado e esta sociedade produzem a religião, uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido”.

Apesar de ser seguidora da Doutrina Espírita, foi exatamente com esse tipo de pensamento que me dirigi na noite de ontem, 11, ao Centro de Convenções Divaldo Franco, para conferir de perto a 62ª Semana Espírita de Vitória da Conquista. O tema do dia intitulava-se Depois da Morte e quem iria palestrar seria Divaldo Franco, uma das maiores referências dentre os nomes do espiritismo. E o meu pensamento me guiou pelo caminho certo, pelo menos até determinado momento.

Por volta das 19h30min o Centro de Convenções já estava lotado. O público, extremamente bem vestido. Senhoras com cabelos arrumados, salto alto e batom na boca. Já os senhores, de sapato social e camisa de botão por dentro da calça. As pessoas se reencontravam, se abraçavam, compravam livros na biblioteca e lanchavam na cantina do evento. O burburinho era enorme. Falava-se muito das noites anteriores e do que ainda estava por vir. Muitos corriam para pegar o melhor lugar na frente. Queriam ser vistos e, mais ainda, queriam ver de perto Divaldo, o grande ídolo da noite.

Um dos preceitos da doutrina espirita, sem sobra de dúvidas, é a solidariedade com o próximo. Somos todos irmãos e devemos nos respeitar e viver em comunhão para que, assim, possamos encontrar a nossa evolução espiritual e a nossa paz interior. Bom, de certo, muito dos presentes esqueceram-se disso na noite de ontem. Pouco antes da palestra começar, foi possível observar o quebra pau entre irmãos. Tudo porque, muita gente se sentava e guardava com bolsas, livros e outros utensílios vários lugares para os coleguinhas mais chegados. Aí, os desconhecidos que vinham de fora e queriam se sentar não podiam, porque os lugares estavam guardados. A briga começava e um lado reclamava daqui, dizendo que não era permitido guardar cadeira para ninguém, e o outro lado reclamava de lá, dizendo que era uma afronta estar guardando um lugar e o outro vim e ocupá-lo. Os olhares eram raivosos e a entonação das palavras também. Algumas pessoas em questão nem pareciam que estavam lá para ouvir Divaldo Franco e sua mensagem de paz. Aliás, algumas pessoas que estavam lá, nem pareciam ser seguidoras da doutrina que prega a solidariedade, o respeito e a vida em comunhão.

E é importante ressaltar que o Centro de Convenções lotou. Os monitores que estavam trabalhando no evento tiveram que conseguir mais cadeiras para acomodar a plateia. Diversos jovens sentaram-se no chão, ocupando a parte da frente e de trás do espaço. Como se faz difícil contar de um em um, estimou-se que na noite de ontem  mais de cinco mil pessoas compareceram à pregação. E, essas cinco mil pessoas aplaudiram de pé um dos convidados para compor a mesa de solenidade, Raul Teixeira. Ele que sofreu um avc em 2013 e, por conta disso, não pode mais doutrinar, subiu ao palco e fez uma fala emocionante, agradecendo ao público pelo carinho e à Jesus Cristo, pelas bênçãos alcançadas.

Em seguida foi a fez de Divaldo dar início ao tema da noite. Com um ar sereno, ele chegou sorrindo e, o seu sorriso, mais parecia um sorriso de anjo, de tanta paz que transmitia. Deu boa noite aos presentes e, com aquela dicção muito particular, iniciou a sua fala contando duas histórias sobre a morte e a sua inevitabilidade. Nessa hora a briga das cadeiras já havia passado e todos pareciam realmente estar em comunhão. Riam juntos e ouviam atentos os ensinamentos do mestre.

E o mestre, mais uma vez, provou que não é apenas um religioso que prega a doutrina espírita Brasil a fora. Divaldo, na verdade, é um grande pensador e apresentou um maravilhoso panorama filosófico e histórico ao público. Falou da Grécia antiga, de Sócrates e do mundo das ideias. Comentou de Platão, Aristóteles e a consciência de vida e de morte na obra deles. Citou o Egito e sua perspectiva religiosa, passou pela índia com Krishna, avançou um pouco mais para chegar em Alan Kardec e consolidação do espiritismo e desaguou na contemporaneidade, na psicanálise e nos fenômenos do mundo moderno. Certamente que a mesma palestra que Divaldo ofereceu ao público espírita na noite de ontem, poderia ser repetida, reestruturando alguns pontos, dentro da academia, a nível de conhecimento histórico do mundo.

Ao longo da sua fala, Divaldo e o público se conectaram em uma energia similar e a sensação de serenidade tomou conta de todo o Centro de Convenções. O retorno para casa foi satisfatório, silencioso e cheio de paz. Pelo menos para mim, depois da palestra de Divaldo Franco, a afirmação de Marx necessitou ser relativizada. Sim, se analisada como um aparelho repressor, a religião converte e aliena as pessoas em torno de interesses e ideologias próprias. No entanto, exercendo a mesma de maneira consciente, atento aos discursos e às praticas, ela vem para libertar e redimensionar o tamanho e o exato valor do ser humano diante da imensidão de universos em que estamos inseridos. Precisamos, cada vez mais ter a noção de que “ Cristo é o outro sublimado, o outro puro e universal: o que devo ser para o outro, Deus o é para mim” (Bakhtin).



Cultura, Vitória da Conquista

Comentário(s)


One response to “Conquista: Divaldo Franco arrasta multidão espírita na noite de sexta-feira

  1. Bela matéria! Parabéns.
    Aproveito para informar a todos que quem não puder comparecer pode assistir pelo site, ao vivo!!
    Paz a todos!!

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