Festival de Inverno Bahia: Viva Blitz!

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Por Mariana Kaoos

Foto: Laécio Lacerda
Foto: Laécio Lacerda

Blitz é uma banda da década de 1980, que transita pelo pop rock brasileiro, com composições debochadas e forte apelo teatral.  Em 1985 ele se apresentaram na primeira edição do Rock In Rio e fizeram um show para mais de um milhão de pessoas. Dentre elas, estava meu pai, no auge dos seus 25 anos de idade, cabelos loiros, pele queimada de sol. Acompanhado dos amigos, meu pai (Dirceu Góes, também jornalista) percebia o mundo com olhos de paixão e juventude. Tudo era divino, maravilhoso e tudo era permitido num universo que priorizasse a arte e a cultura como principais instrumentos de sentidos existenciais. Assisti ao show da Blitz, naquele ano de 1985, foi, para meu pai, uma experiência única, de desbunde, de contracultura, de vida.

Passados exatamente trinta anos, ontem foi a minha vez de assisti ao show da Blitz. Não estava acompanhada de amigos, tampouco tinha a pele queimada de sol. Mas os cabelos loiros, os 25 anos e o olhar de surpresa e paixão para o universo foram exatamente iguais (uma herança, talvez?) aos de meu pai, quando foi o que sou hoje. Para mim, acompanhar o show de uma das minhas bandas preferidas, fez com que os pelos do meu braço se arrepiassem a cada instante. Não foram momentos de contracultura, mas, com toda certeza, o desbunde estava presente.

As aventuras com a Blitz começaram logo cedo e vale aqui contar toda a história. A assessoria do Festival agendou uma coletiva de imprensa com a banda para as 20h45min. Todos os jornalistas credenciados poderiam ir fotografar, perguntar, gravar e até tietar o pessoal da banda. Cheguei lá atrasada, mas ainda peguei um pouco da entrevista. Diversas perguntas foram feitas como sobre as novas canções, os trinta anos de carreira, a trajetória do grupo e a questão do cômico, exposto nas composições da banda. Quem respondeu a maioria das perguntas foi Evandro Mesquita, vocalista da Blitz. Usando óculos escuros e com o cabelo grisalho todo arrepiado, Evandro foi muito simpático com os jornalistas, falando num tom relaxado sobre as questões colocadas. Importante ressaltar que falando num tom relaxado e bem “carioquês”, o que, por si só, já oferece um aspecto engraçado de malandro do Rio de Janeiro a ele.

Foto: Laécio Lacerda
Foto: Laécio Lacerda

Uma das mais geniais musicas da Blitz se chama De Manhã (ou Aventuras Submarinas).Em um determinado momento, há um trecho que diz assim: “eu tinha doze anos, ainda me lembro do dia. Eu escutava o que mamãe dizia e ela dizia ‘tome cuidado, tenha juízo, que esse mundo é um cão!”. Por incrível que pareça, aos doze anos de idade, quando eu ainda residia em Ilhéus, um dia fiz a minha mãe dizer isso para mim, só para que eu pudesse passar a cantar essa parte da canção com extrema verdade. Na coletiva, contei essa história ao pessoal da Blitz (que se acabou de dar risada) e perguntei como eles pensavam a questão da linguagem do grupo ser universal e atingir todos os públicos de todas as idades. Evandro disse que esse era um ponto muito bacana da banda, porque ela era consumida pelas mais diversas faixas etárias. Ele comentou que a Blitz já fez show para crianças de sete, oito anos e show para jovens, adultos e pessoas de idade. “A questão do teatro, do lúdico dentro da banda contribui muito para que isso aconteça. E as letras das músicas também”. Comentou.

Após a finalização da coletiva de imprensa, eles finalmente subiram ao palco e fizeram um show maravilhoso recheado de animação (na minha opinião, o melhor show do Festival até agora). A música de entrada foi Weekend e, logo nela, já era possível observar as pessoas chegando mais junto do palco, de sorriso no rosto e dança nos pés. Se os “coroas” estavam lá marcando presença (pessoas que provavelmente acompanhavam a banda desde a década de 1980), os “novinhos” também chegaram junto. Alguns subiam nas costas uns dos outros e balançavam os braços e soltavam beijos para Evandro, bem como para Andréa Coutinho e Nicole Cyrne as esplendorosas back vocals.

E vale dar destaque para Andréa e Giovanna sim! As meninas, vestidas num estilo bem rock’n’roll, de calça de couro, espartilho preto e maquiagem escura nos olhos, mandaram ver. Faziam passinhos iguais, rodopiavam por todo o palco, balançavam os cabelos, seduziam o público e, o mais importante, cantavam muito. Em determinadas canções, como Sonífera Ilha ( Blitz homenageou os Titãs, bem como Raul Seixas e Paralamas do Sucesso), as meninas subiam o tom e alcançavam um agudo invejável para todos e todas que transitam pelo mundo da música.

Em total cumplicidade com Evandro, elas e o restante da banda, emocionaram a todos com grandes sucessos. Geme, geme, A Dois Passos do Paraíso, Egotrip, Dalí de Salvador, Betty Frígida e Você Não Soube Me Amar foram alguns deles. O show teve uma média de duração de uma hora e trinta minutos e causou satisfação na expressão facial de quem estava lá. Bom, pelo menos era o que os suspiros e sorrisos alheios davam a entender.

A iniciativa da produção do Festival de Inverno Bahia foi louvável em trazer uma banda da importância da Blitz para se apresentar aqui. Se a maior critica ao evento é que todos os anos eles repetem determinadas atrações de maneira massiva, como O Rappa, Jota Quest e Frejat, talvez seja a hora da equipe do FIB se atentar um pouco mais para o cenário musical do país e perceber que existem bandas maravilhosas que já possuem uma trajetória de carreira, como bandas maravilhosas que estão se lançando agora.

Apesar do nome Blitz já não ter mais um forte apelo comercial, já que não circula tanto pela grande mídia, eles agregaram um público irrestrito na noite de ontem, que passou por adolescentes e chegou aos senhores de idade. Após o término dessa edição do Festival de Inverno Bahia, com toda certeza o show da Blitz será o mais lembrado, não apenas por ter sido um dos melhores, mas por ser o mais ousado em termos de desbunde, de contracultura e de vida. Viva Blitz!



Cultura, Vitória da Conquista

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