Do Site da Espn Brasil
Evandro Braz Guimarães é um homem simples.
Gosta de ar puro, de cuidar da roça e da vida no campo.
E também gosta de treinar times pequenos e fazer grandes campanhas.
É ele o técnico do Vitória da Conquista, finalista do Campeonato Baiano de 2015. Sua equipe está invicta no Estadual. Fez 77.78% dos pontos na primeira fase e terminou à frente até mesmo do poderoso Vitória no grupo 2.
Depois, eliminou Bahia de Feira e Colo Colo antes de chegar à decisão contra o Bahia, que será disputada nos próximos finais de semana.
Mas, por falta de sinal de celular, esse conto de fadas quase não aconteceu.
Tudo porque Evandro curte mesmo é da roça. Ele tem uma propriedade a 80km de Itabuna, na Bahia, e gosta de passar seus dias por lá com a família. O local não tem energia elétrica nem sinal de celular. É isolado do mundo.
O presidente do Vitória da Conquista estava disposto a achá-lo de qualquer jeito. Ele queria que Evandro, que já havia feito boa campanha em 2014, levando a equipe à semifinal do Estadual, assumisse novamente o clube. Mas quem disse que a ligação completava?
“Durante vários dias, o presidente ficou desesperado tentando me ligar pra me contratar e não conseguia falar comigo. Numa segunda-feira, eu estava em casa descarregando um carro de banana, jaca e laranja e minha esposa me fala: ‘Nego, o Ederlane [mandatário do clube] te ligou, acho que ele quer falar com você’. Eu liguei de volta e ele gritou: ‘Pô, Evandro, estava aonde?’ E eu: ‘Na roça’ (risos)”, diverte-se Evandro, em entrevista à Rádio ESPN.
O presidente foi ligeiro: disse que queria contratá-lo imediatamente. O técnico conversou com a família e topou. No dia seguinte, 15 de janeiro, já estava comandando o treino. Três meses depois, está na decisão do Baianão.
“Já pensou? Eu quase perdi a chance de estar na final do Campeonato Baiano porque o presidente não conseguia falar comigo! Imagina se ele muda de ideia e resolve contratar outro treinador?”, brinca o comandante.
O trabalho de Evandro vem sendo bastante exaltado, e a final está sendo chamada de “clássico do milhão contra o tostão”. Afinal, o Bahia tem estrelas de altos salários, como os atacantes Kieza, Maxi Bianchuchi e Léo Gamalho, enquanto o plantel inteiro do Vitória da Conquista custa apenas R$ 160 mil por mês.
“Deve ser o salário do Maxi, né?”, questiona o treinador.
“Mas aqui o mês é certinho, não atrasa nunca salário. Tudo o que o presidente fala ele honra, não deve nada pra ninguém. Nós temos um time que sabe os limites e as qualidades. O Bahia é o favorito, mas queremos surpreender. Aqui na Bahia estamos cada dia maiores, o time está ganhando força nestes últimos anos”, ressalta.
Em seu elenco, há nomes conhecidos, como o goleiro Viáfara, ex-Vitória, e o volante Paulo Almeida, ex-Santos e Corinthians. Todos dentro do orçamento do time da cidade de 340 mil habitantes no interior baiano.
Evandro não sabe se vai ser campeão. A única coisa que sabe é que, após um estressante Estadual, irá tirar uns dias de folga em sua roça antes da Série D do Brasileiro.
“A roça é como uma terapia. Assim que acabar o campeonato eu vou correndo para lá pra poder dar uma relaxada (risos). Eu cultivo um pouco de cacau, uns gados que quando precisa de carne para comer a gente abate, mandioca, outras coisas…”, conta.
Mas e pro pessoal do roçado assistir ou escutar a final do Baianão, Evandro?
“Aí vai ser difícil… Só se eles forem no lombo de jumento até a cidade mais próxima”.