Sétima Arte em Destaque: Grandes Olhos

Por Gabriel José – Estudante de Cinema da Uesb

olhos

Olha só Tim Burton resolveu diferenciar!!! Isso soa de maneira muito agradável e peculiar paraa fase que Hollywood vem passando recentemente, filmes baseados em bestsellers, continuações e mais continuações , series para publico adolescente e por ae vai….. e Tim Burton   dirigindo um filme de orçamento modesto, com jeitão alternativo, independente, é tão interessante quanto acompanhar suas obras para os grandes estúdios. Certamente não há os grandiosos cenários nem a direção de arte esplendorosa, mas Grandes Olhos ,desvenda um pouco mais desse recluso diretor de uma maneira que suas obras de maior envergadura não permitiam.

Após uma série de trabalhos irregulares e carentes de alma tanto quanto foram carregados de exageros, Tim Burton prometia voltar à velha forma com “Grandes Olhos”. A seu favor está o elenco de atores competentes, com Amy Adams e ChristophWaltz. A trama, baseada em fatos reais, conta a história de Margaret Keane (Adams), artista plástica que teve seus quadros conhecidos no mundo inteiro, porém, como se o marido, o canastrão Walter (Waltz), fosse o verdadeiro autor das obras.

Como bem diz o narrador do filme: “Walter Keane não era um homem sutil. Sutileza não vende”. Talvez esse seja o lema da vida de Burton, o que justificaria ele dar tanto tempo de tela a Waltz e não a Adams. Uma pena, porque no geral é a atuação dela que traz equilíbrio e dignidade ao filme, mesmo quando destaca a falta de desenvoltura da personagem no universo fascinante e efervescente da arte durante os anos 1960.

Na tela, Amy Adams, vencedora do Globo de Ouro de melhor atriz comedia musical , e rejeitada pela corrida no Oscar , faz a pintora com toda delicadeza, com poucas palavras, cheia de dúvidas e hesitações. É um difícil papel “morno” que a atriz desenvolve muito bem. O mais interessante aqui: Margaret/Amy é Tim Burton. A riqueza de detalhes com que diretor mostra essa curiosa artista, explorando ao máximo sua sensível atriz, não é por acaso, portanto: é o diretor falando de si mesmo, como fazem os artistas, através de sua arte. No caso, foi melhor mesmo uma mulher/atriz: mais generosas, sem medo de demonstrar sentimentos, ficou mais fácil para o cineasta/diretor expor suas fragilidades por meio dela. Assim, quando vai ao supermercado, Margaret/Amy fica encabulada de ver sua própria arte sendo vendida nas prateleiras. Começa a ver todo mundo com seus Grandes Olhos. Até ela eventualmente se verá no espelho com os mesmo tristes, melancólicos e solitários olhos que representava nas pinturas.

Por sorte, o filme consegue ganhar fôlego aos poucos, quando as mentiras de Walter Keane tomam novas proporções e os quadros se tornam sucesso de vendas, aliadas ao faro para negócios, falta de escrúpulos e “network” do “artista”. Quanto maior esse sucesso, mais sentido faz a atuação de Waltz, o que não impede o ator de pesar a mão em momentos cruciais como quando, quase ao final do filme, tem-se um julgamento de crucial importância para os personagens. Nesse sentido, tanto o roteiro quanto a direção deixam a desejar para com o ator, não importa o quanto ele apareça na extensão do filme.

Se muito se fala de Walter até então é porque a personagem de Adams passa a primeira metade do filme em posição passiva, quase apagada. De certa maneira, há um sentido nessa escolha que, em primeiro momento, desagrada. Justifica-se essa opção no fato de que Margaret, ao contrário de Burton, não é, por ela mesma, um indivíduo que fascina da maneira que seus quadros: é uma dona de casa, uma mulher submissa e fruto de um background pouco ou nada impactante em termos de possibilidades de representação audiovisual para além de suas vivências internas, com a qual o diretor flerta em breves momentos E assim Burton se prende à figura de Keane, o marido, encantado pela malandragem e compulsividade de suas mentiras. Em resumo, o diretor parece mais interessado no exagero que no personagem principal… Por essas e outras e de maneira positivaBurton, por sua vez, consegue resgatar sua qualidade como artista, mantendo sua assinatura visual e temática, mas com maturidade. Sua direção é pontual e delicada, transformando Grandes Olhos em um dos seus melhores trabalhos recentes.



Cultura, Educação, Vitória da Conquista

Comentário(s)