Foto no Cavalinho: tradição e resistência na praça Tancredo Neves

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Por Lu Rosário – Jornal Oficial de Notícias (Uesb)
Fonte: Conversa de Balcão

Fotógrafo Elenildo Rodrigues e o cavalinho da Tancredo Neves
Fotógrafo Elenildo Rodrigues e o cavalinho da Tancredo Neves

Na famosa Praça Tancredo Neves, onde se encontra a Catedral Nossa Senhora das Vitórias, está um fotógrafo e a representação de um pequeno cavalo feito de ferro, madeira, couro e massa plástica. Há, aproximadamente, 28 anos que Elenildo Rodrigues mantém a tradição de fotografar crianças montadas no cavalinho.

O fotógrafo afirma que “há uma tradição do cavalinho no Brasil. Eu já tirei foto no cavalinho com binóculo. As pessoas mais importantes daqui tiraram foto no cavalinho. Aqui ia ser tombado para a cultura do município, teve uma reunião para ver isso e eu não pude ir”.

Ainda existem outros quatro fotógrafos que conservam esta tradição na mesma praça e que vêem o seu trabalho desvalorizado diante das novas tecnologias.

O fotógrafo – Elenildo Rodrigues da Silva, 54, nasceu em Tabira, no estado de Pernambuco. Residente em Vitória da Conquista desde os nove anos, trabalha com fotografia há 30 e, recentemente, tornou-se teólogo pelo Instituto de Teologia Evangélico (IETEV). Ele possui nove filhos casados e quatorze netos, além de já estar em seu terceiro casamento.

Fotógrafo exibe as várias imagens registradas
Fotógrafo exibe as várias imagens registradas

O fotógrafo revela que foi presidente da Associação dos Repórteres Fotográficos, Cinematográficos e Fotógrafos de Vitória da Conquista (Arfoc/Ba) e do Sindicato dos Fotógrafos profissionais Autônomos do Estado da Bahia (Sindifoto/Ba) durante cinco mandatos.

Ele assinala que “tinha cadastrado, aqui, na praça, 75 fotógrafos. Aos domingos, eles iam fotografar aniversário nas casas. A gente tinha seminário de fotografia, exposição, tinha tudo”.

Mário Foto, 67, que também é fotógrafo na praça há 30 anos, ressalta que seu cavalinho já está na terceira geração e que, com o advento das câmeras digitais, foi preciso se adaptar à nova demanda e criar um sistema de parceria com os clientes. “Se vier com a própria câmera e quiser fotografar, eu não impeço e cobro outro valor”, afirma.

Além de fotografar crianças no cavalinho, estes fotógrafos atuam em eventos como casamento, aniversário, batizado, eventos políticos, religiosos e escolares. Elenildo relembra que “no tempo de filme, a gente fotograva dez rolos de filme por semana na praça, sem contar os eventos que aconteciam”.

Diante do advento da câmera digital, ele acredita que este será seu último ano na praça porque “não dá mais para sustentar a família com fotografia; no tempo do digital, todo mundo faz as suas fotos, põe moldura, brinca com a foto”.

A fotografia – Com 30 anos atuando como fotógrafo, Elenildo acredita que a fotografia não tem mais o mesmo valor. Para conseguir os efeitos que, hoje, são obtidos por meio dos programas no computador ou pela própria câmera, ele conta que “fazia isso manualmente na câmara escura. Recortava a cartolina e fazia um coração para a foto do dia dos namorados. A gente escoava a foto, que é clarear ou escurecer, com a mão”.

O valor para obter uma fotografia era outro. “Antes, você comprava um filme por 15 reais e com 36 poses; hoje, com esse valor, você compra um cartão de um giga e faz 700 fotos a depender da quantidade de megas que a sua máquina usar”, salienta.

Íris José, 77, confirma que trouxe todos. “A minha família, com filhos e netos já criados, tem fotos no cavalinho. Quando viam o cavalinho, começavam a chorar porque queriam tirar fotos nele”, afirma. Para completar, Mário Foto diz que muitos voltam à praça para tirar foto dos seus filhos após salientar que também foram fotografados naquele mesmo cavalinho.

A praça hoje – A Praça Tancredo Neves não é mais a mesma com o acesso de todos às câmeras digitais. Com isso, o fotógrafo do cavalinho vê sua função desvalorizada. “Hoje em dia, não faço nada. Têm uns clientes que vem da roça, pessoas de fora ou turistas que eu tiro foto e entrego na hora com câmera profissional também”.

A cidade passou a ter outros lugares de entretenimento, tal como o Shopping Conquista Sul. As pessoas, portanto, abandonaram a tradição de ir às praças nos fins de semana.

“O cavalinho fica aí, na dele, rindo, a criança de vez em quando aparece e tira uma foto. As pessoas têm máquina e querem tirar de graça. Aí a gente não permite mais nem mexer. Desse jeito, eu vou pra casa sem nada. Para tirar foto, a pessoa tem que pagar. É assim que a gente trabalha”, conclui Elenildo Rodrigues.



Cultura, Vitória da Conquista

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