Sétima Arte em Destaque: Os Infiéis

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Por Gabriel José – Estudante de Cinema da Uesb

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Como novo amante do cinema francês, descobri que pode-se esperar qualquer coisa de um filme do berço da Sétima Arte. E quando digo isto, é qualquer coisa mesmo, capaz de surpreender até o mais precavido dos mortais. Em “Os Infiéis”, uma trupe francesa se reuniu para fazer uma grande brincadeira: dirigir diversos curtas que, unidos em um único filme, rendem 109 minutos de situações sobre a traição nos relacionamentos amorosos.

Assim, os cineastas Emmanuelle Bercot, Fred Cavayé, Alexandre Courtès, Jan Kounen, Eric Lartigau, o vencedor do Oscar Michel Hazanavicius (“O Artista”) e os astros Jean Dujardin e Gilles Lellouche, que também atuam como protagonistas, dirigem episódios entrelaçados intertextual mente sobre a infidelidade (majoritariamente) masculina.

Começamos o filme com a dupla de amigos Greg (Giles Lellouche) e Fred (Jean Dujardin, a quem me tornei um fã incondicional.  Casados, eles se divertem à procura de mulheres. O episódio, intitulado “O Prólogo” (dirigido por Fred Cavayé), apresenta os dois protagonistas que encerrarão o longa de forma inesperada, ousada e irônica, e surpreendente.  Machistas e mordazes, eles defendem que a traição é uma espécie de romantismo, em que se busca o verdadeiro amor da sua vida.

Já em “A Boa Consciência” (de Michel Hazanavicius), acompanhamos Laurent (Dujardin), um homem casado que, viajando a negócios e hospedado em um hotel, tenta a todo custo conseguir levar alguma mulher para a cama. Sem o dom da conquista, tenta usar as técnicas de Antoine (Lellouche), um cadeirante sedutor. Entre contatos com prostitutas, visitas fortuitas a quartos de mulheres, ele busca formas de sanar seu apetite sexual.

“Lolita” (de Eric Lartigau) mostra a vida de Eric (Lellouche), que descobre as desvantagens de se envolver com uma adolescente  (Clara Ponsot), com todas as diferenças de universos e comportamentos, em um choque de gerações impossível de contornar.  O mais maduro  e interessante dos episódios, “A Questão” (de Emmanuelle Bercot ) foca na vida do casal Olivier (Dujardin) e Lisa (Alexandra Lamy), juntos há 15 anos, colocando as cartas na mesa sobre a traição que cada um cometeu, com detalhes e rancores postos à prova.

O filme ainda oferece pequenas esquetes, de situações nada convencionais, entitulados com o nome de seus personagens, “Simon”“Bernard”, e “Thibault”, todos os personagens desses esquetes se  unem no episódio “Infiéis Anônimos”, na qual a discussão da traição é posta como um distúrbio psicológico tratável. Com direção de Alexandre Courtès, todos apelam para o humor rápido, visual e repleto de gags.

Neste emaranhado de personagens e situações criados por inúmeras mãos, “Os Infiéis” é um produto irregular, mas que não deixa de divertir. Recheado de machismo, traz personagens femininas que se reduzem à passividade ou à histeria (com exceção de “A Questão”, o único dirigido por uma mulher, que coloca em xeque o lado da mulher e dá voz feminina à questão do sexo pelo sexo). Porém, com tanto a se discutir, as histórias apelam para o viés sexual – e muitas vezes, sem a presença da culpa – em que mentiras e joguetes são feito automaticamente por aqueles acostumados às puladas de cerca. E o orgulho de ser um conquistador casa com o ego, em uma apresentação superficial. Claro que isso deve-se ao estilo bem humorado de abordagem, mas poderia ser melhor.

Outros episódios, porém, se destacam pela força de certas cenas: impossível não destacar o retorno de Eric à família ao perceber o grande erro do seu envolvimento com a jovem Inès ou a câmera na mão que percorre a tensa discussão entre o casal Olivier e Lisa sobre seus casos extraconjugais (com atenção especial para Alexandra Lamy, que retrata o sorriso amarelo de olhos marejados enquanto ouve o marido falar sobre a amante, até então, desconhecida).

Claro que ali a ideia não é aprofundar o assunto mas, sim, tratar com leveza e bom humor. Porém, o filme caminha, caminha e, em sua grande parte, não chega a lugar algum. É como se dissesse: “os homens vão trair, as mulheres não vão saber (ou vão fingir que não sabem) e pronto”.  O curioso é observar o epílogo (dirigido por Dujardin e Lellouche) que, apesar de caricato e exagerado, tem a intenção de colocar uma pulga atrás da orelha daqueles que se orgulham de pensar com a cabeça de baixo. Eu particularmente gostei, vale o entretenimento, mesmo se o conjunto é incoerente, por causa de um roteiro grosseiro ,  alguns momentos (que eles sejam engraçados ou dramáticos) fazem com que o filme tenha um resultado satisfatório. .



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