Operação Contenção deixa mais de 100 mortos no Rio de Janeiro e expõe falhas no combate ao crime organizado

Foto: Pablo Porciúncula/AFP

Por Ellen Mafra

A Operação Contenção, que se iniciou ontem, terça-feira (28) no Rio de Janeiro e, se extende, hoje, quarta-feira (29), já deixou mais de 100 pessoas mortas, incluindo quatro policiais. A ação, que tem o objetivo de capturar chefes do tráfico no Rio e de outros estados e combater a expansão do Comando Vermelho (CV), interrompeu o trânsito, fechou escolas, postos de saúde e comércio.

Habitantes do complexo da Penha e do Alemão, passaram por horas de tensão debaixo de tiros e explosões. Segundo o governo do estado, foram apreendidos pistolas, granadas e 93 fuzis. A ação já é considerada a maior operação dos últimos 15 anos e a mais letal de toda a história do estado.

A Operação Contenção gerou impacto na capital fluminense e, de acordo com especialistas, não alcançou o objetivo de frear o crime organizado. Isso tudo que vocês estão vendo aí hoje, arrebentando no Rio de Janeiro todo, é apenas uma imensa e gigantesca cortina de fumaça, um rolo gigantesco de fumaça cegando a todos”, diz o professor”, diz o professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), José Cláudio Souza Alves.

Combater o crime organizado 

Para combater o crime organizado existe outras estratégias, como oferecer oportunidades para a população que vive em vulnerabilidade. “Criar novas formas de interceptar, de investigar, de seguir dinheiro, de prender pessoas, de colocar limitações nesse funcionamento, de dar alternativa real para essa população. Você tem que disputar palma a palmo nesses territórios, essas populações que são facilmente convencidas pela grana da droga, da arma, pela grana dos ilegalismos, dos golpes. Se não pensarmos isso, a gente está absolutamente comprometido, não vamos conseguir”, comenta o professor José Alves.

O Instituto Fogo Cruzado, instituto que mapea, analisa e produz dados sobre a violência armada, comenta que operações como essa realizada no Rio de Janeiro não combatem diretamente o crime organizado.

Em nota, o instituto afirma: “Combater o crime organizado exige outra lógica. É preciso atacar fluxos financeiros, investigar lavagem de dinheiro, fortalecer corregedorias independentes e combater a corrupção dentro do Estado. Tudo que o Rio de Janeiro não faz há décadas”.