Conquista: ‘Fora Temer’ do Baiana System ganha destaque na 2ª noite do Festival de Inverno; confira as nossas impressões

Por Mariana Kaoos

Alô alô queridões de todo esse vasto e fértil Brasil Varonil. Mais um dia se inicia no matriarcado de Pindorama com notícias quentes, quentíssimas sobre os badalos culturais que andam acontecendo nos quatro cantos do país. Aqui, nessas terras sertanejas do estado da Bahia, mais precisamente em Vitória da Conquista, os burburinhos não podiam ser outros que não o Festival de Inverno Bahia. Oh, resumidamente o que dá para dizer é: “Pé dentro, pé fora, quem tiver pé pequeno vai embora”. Ou, num português mais didático: O Fib está sendo delícia cremosa nesse inverno arredio e quem não foi perdeu! Sim, sim, sim, esqueçam o disse me disse e cheguem mais para acompanhar alguns segredinhos orgásticos sobre o Festival:

. Torno a repetir, meu amor: ai ai ai. O Barracão Universitário É o espaço mais gostoso do Festival. As bandas que andam se apresentando por lá garantem qualidade no som e não deixam ninguém ficar parado. Na noite de sábado mesmo, além do xaxado, forró pé de serra e baião, rolou uma super mistureba sonora que arrancou gargalhadas, coreografias e muito suor do público. Metralhadora, Malandramente e Bumbum Granada, os hits mais queridinhos da galera, foram algumas das músicas apresentadas. E olha, o lugar se destaca não apenas por conta do som contagiante, e sim pela abertura e possibilidade de que todas as tribos possam convergir harmoniosamente. Se o Barracão Universitário é um local, prioritariamente, heterossexual, isso não é impeditivo para que outras orientações sexuais, gênero, etnia, credo, linha política, costumes e tudo o mais possam circular por ali. Pelo contrário, foi exatamente lá em que a diversidade mais se estampou. Hoje a noite tem Fulor do Cangaço e Tierry. Ou seja?! Isso mesmo, não dá para ficar de fora;

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. Outra coisa bem bacana que rolou na noite do sabadão de Festival foi a apresentação na Arena Eletro Rock da banda The Cadillacs. Formada por nomes como Tales Dourado, Fernando e Daíse Bernardino e Diego Andrade, o grupo apresenta releituras de músicas clássicas do rock a billy, bem como de algumas coisas do jazz e blues norte americano. Passei por lá e assisti um pedacinho do show e olha, meu Deus, foi pura crocancia. O local estava lotadíssimo e todo mundo parecia se divertir.

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Também pudera, ao som de Hit The Road Jack e Pretty Woman, nem dá para ficar parado. Bom, não ando acompanhando absolutamente tudo que vem rolando pela Arena. Sei que outras bandas de rock estão se apresentando, bem como djs de música eletrônica. Notadamente o espaço sempre anda cheio, hora de um público mais jovem, de cigarro na mão e pirulito na boca, hora de um público aparentemente mais maduro, apreciador de bandas de qualidade, como é o caso da The Caddilacs;

. Ah, quase ia me esquecendo de falar do preço, muitas vezes exorbitante, das coisas dentro do Fib. Uma lata de cerveja está cinco reais. A dose de vodca fica por doze, assim como o coquetel de frutas, caipirosca e adjacentes. O energético varia entre doze e catorze reais, a água mineral fica por quatro reais, isso mesmo que vocês acabaram de ler: A ÁGUA MINERAL FICA POR QUATRO REAIS. As comidas também andam caríssimas. Um espetinho de frango com bacon (com farinha opcional) fica por dez reais. Já a porção de carne do sol com aipim frito pode ser adquirida por trinta reais. Um pacotinho de pipoca custa cinco reais e um pirulito, um, um, um pirulito é um real. Sou só eu ou vocês também acham um absurdo o preço das coisas lá dentro? Com os ingressos para a entrada no Festival a um alto valor e as coisas lá dentro da mesma maneira, o público já passa por uma peneirada econômica e social. Ora, contando com passaporte, locomoção e gastos durante o Fib, quem tem mais de 300 reais para gastar em apenas um fim de semana? Está cada vez mais elitizado e restrito o Festival de Inverno Bahia?

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. A noite de sábado teve um gostinho especial para os amantes das novidades sonoras brasileiras. Digo isso porque, pela primeira vez, o grupo de soundsystem, Baiana System, se apresentou no Festival de Inverno Bahia. Festival esse notadamente tradicional e conservador já que, ano após ano, ele repete o nome de bandas, grupos, artistas que tiveram seu auge nas décadas de 1980 e 1990 e, atualmente, sobrevivem dos hits de sucesso de outrora. Capital Inicial, Biquini Cavadão, Nando Reis, Barão Vermelho (ou apenas Frejat) e Jota Quest são figurinhas carimbadas do Fib. Todos eles, quando necessário, “inovam” a partir de homenagens a alguém (como foi o caso do Capital, relembrando a banda Charlie Brown) ou de falas pretensiosas e supostamente subversivas (exemplo com o Biquini Cavadão ao falar da pos graduação do rock), mas, tirando isso, é tudo mais do mesmo, principalmente o repertório.

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Carregando em si uma identidade rock n roll, o Festival vem abrindo espaços nos últimos anos para apresentações de axé e do sertanejo universitário, angariando assim novas perspectivas de público. Contudo, principalmente os nomes da vertente sertaneja, são produtos de sucesso da indústria cultural que, após seu período de validade vencida, somem do bafafá. A bem da verdade é que, tirando a pinta de galã do momento e os cortes inusitados de cabelo, todos os artistas do sertanejo, no final das contas, também acabam sendo mais do mesmo no que tange a composições musicais.

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Trazer Baiana System para um Festival com esse é, primeiramente (fora Temer), um ato de coragem. Coragem de se arriscar e de se abrir para o novo. Mas não só. Criticas a parte, o Baiana é um dos principais nomes que compõe a nova era da música brasileira. Com referencias hibridas e profundas como a guitarra baiana e a cultura jamaicana do soundsystem, o grupo e, principalmente, seu vocalista, Russo Passapusso, vem dando um novo gás, uma nova qualidade para o que chamamos de música popular brasileira (que, para mim, se diferencia totalmente do que chamamos de MPB, mas isso é papo para outra hora).

Com letras recheadas de analises políticas e sociais, o Baiana é, talvez, a possibilidade do prosseguimento da linha evolutiva da produção musical no país. Então, sendo assim e assim sendo, é um bom sinal que a curadoria do Festival reconheça e se atente para eles (e seria melhor ainda se se atentasse para outros nomes), colocando o grupo na grade da programação do palco principal.

E, como esperado, o show foi incrível, divino, maravilhoso, intenso, profundo, voraz. Pena que, assim como a produção do Festival, o público parece carregar em si o mesmo traço tradicional e conservador da coisa. Digo isso porque mais da metade dele foi embora ou se deslocou para outros espaços. O camarote da high society careta ficou vazio, parecendo cemitério. Não tinha uma alma penada sequer. A pista também não estava socada de gente como aconteceu em Capital. Ela ficou mais tranquila, boa para dançar. Os fãs do grupo estavam concentrados todos na frente e, mais atrás, os curiosos culturais de plantão. Certamente que quem ficou gostou do que viu. Gostou do que viu porque o que aconteceu ali foi comunhão de alegria e dança. Pena que a mídia e os bambambans da sociedade não viram. Quer dizer, pensando bem, talvez, nem tanta pena assim.



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