Projeto Quartas autorais anima a noite cultural conquistense

atlanta

Por Mariana Kaoos

Foto: Maiêeh Sousa
Foto: Maiêeh Sousa

Era uma vez uma quarta feira nebulosa. Alias, vamos começar do início: era uma vez uma quarta-feira abafada. Os transeuntes na cidade suavam, se estressavam e procuravam qualquer lugar que fosse sombra. Do asfalto subia um pouco de fumaça. Os olhos marejavam e as camisas embaixo do braço, estavam, como se diz naquela expressão popular, parecendo pizzas. Aí, no meio do abafamento, que já estava gerando bafafá, o céu fechou e nuvens negras e espaças se instalaram em cima da cidade. Trovões ensurdeceram os ouvidos mais finos. Relâmpagos cegaram os olhares mais puros. E raios amedrontaram quem tem piercing no corpo. Porque sim, é testado e comprovado que piercing de metal atrai raios. E já imaginou você ali, andando na rua de maneira bem maravilhosa com seu piercing do poder e um raio atingir o seu nariz? É morte na certa.

Foto: Maiêeh Sousa
Foto: Maiêeh Sousa

Mas voltando à descrição da quarta feira: Tudo nela indicava que não ia dar pé. As previsões garantiam que São Pedro estava com a pá virada e iria mandar chuva em abundância aqui para o sertão. Todo mundo já estava se escondendo em suas casas e se preparando para passar a noite vendo filme e comendo doce. Só que sabe o que aconteceu? Exatamente o contrário. Para a gloria dos amantes da cultura realmente não choveu. Teve até um momento da noite que o céu abriu e ainda deu para observar a lua cheia com São Jorge lá no meio, matando o dragão. Coisa linda para quem viu!

Foto: Maiêeh Sousa
Foto: Maiêeh Sousa

E nisso, por não ter chovido e por ser quarta-feira, os encontros se ajeitaram e todo mundo se reuniu. Uma amiga que fazia aniversário e não contou para ninguém. Uma princesa árabe, tão linda, mas tão linda, que parecia que tinha vindo de outro planeta. Uma fotografa maravilhosa e surpreendente. Uma filha de Iansã, lasciva, com olhos de desejo. Um amigo coreano, príncipe e querido. Uma certa Gabriela, com cheiro de cravo e canela. Todo mundo. Todo mundo se reuniu para ir ao Aquarius Gourmet e conferir de perto a apresentação de Euri Meira com seu projeto de músicas autorais.

Foto: Maiêeh Sousa
Foto: Maiêeh Sousa

E lá chegando as tentações não pararam de surgir. Lucas, dono do bar, acendeu o forno a lenha e marcou com giz no quadro negro “pizza de palmito de jaca”. Para quem não sabe ou nunca foi, palmito de jaca é uma das iguarias mais consumidas no Capão e na Chapada Diamantina como um todo. Ao olhar para o escrito, sorri e agradeci em silêncio pela chuva que chegou à Chapada e que vai vingar e acabar com aquele incêndio feio que por lá se espalhou. Mas voltando às tentações do Aquarius Gourmet, por lá também estava rolando uma cerveja Petra. É uma cerveja escura, meio cara, meio exótica, que quando você acaba de beber, oferece um gosto de café no paladar. Outra coisa delícia que existe por lá é o mojito, bebida mexicana (tenho quase certeza de que é mexicana) feita com rum, hortelã, suco de limão e água gaseificada. As cervejas estavam geladas e da cozinha vinha um cheiro bom.

Tudo isso compôs o cenário ideal. Tudo isso e mais uma coisa: a apresentação de Euri. Já tinha visto uma apresentação sua só que voltada para a obra de Belchior. Ela foi linda, apaixonante, encantadora. Contudo, a de ontem, 25, foi ainda mais surpreendente. Ainda mais surpreendente porque ele deu um show nos solos que fazia na guitarra e me mostrou um universo de beleza nas suas composições.

Algumas delas, em inglês. E ai confesso que não entendi. Não entendi o que a letra queria dizer, tampouco o porquê dele, brasileiro e nordestino, compor em outra língua. Talvez seja as referências na sua vida, o que é ótimo. Bom, não são as minhas. Mas também não me impediram, eu não me impedi de gostar do que ouvi. Confesso que gostei muito mais quando ele cantou Medo de Avião, Rios Pontes e Overdrives e suas próprias canções em português. Tive aquela sensação de pertencimento e, pela segunda vez na noite agradeci baixinho pelo que eu estava presenciando.

Foi mais ou menos nessa hora que chegaram outras pessoas bacanas no Aquarius. Rodrigo Freire, dj e um dos nomes que, para mim, mais tem pensado  e questionado a cultura local. George Neri, cineasta e, a meu ver, filosofo da boemia. Maria Eduarda Carvalho, amiga, designer, jornalista, produtora cultural e tudo o mais que você imaginar. Pronto. O fuzuê se instalou. Lembranças, gargalhadas, efusividade e conversas aleatórias começaram a rolar e não pararam mais.

Ah, paquera também teve. Na verdade, onde tem gente interessante, a paquera nunca falta. O flerte, o olhar, o toque desproposital, o pensamento, o desejo, a prática, o consenso e, finalmente, o beijo na boca. Na verdade, às vezes a gente espera que vá ser de uma maneira e se torna de outra completamente diferente. Quem era pra ser não é, mas o destino surpreende e aponta e junta o que, até então, era inimaginável. Se é bom? Só no outro dia para saber. Se pintar um sorriso no rosto logo ao acordar, é porque foi ótimo.

A noite passou, sem chuva e sem trovões. Euri finalizou sua apresentação. Lucas desligou o forno à lenha. As pessoas, bem aos poucos, se dissiparam e foram para as suas casas ou qualquer outro lugar que nesse momento não devo, não posso e não quero imaginar. A noite foi bonita, a música ofertada ao público, rica em melodia e composição. Os sorrisos valeram a pena e o risco de sair de casa e se aventurar na boemia conquistense mais ainda. Toda quarta rola esse projeto de música autoral lá no Aquarius. A previsão é que na próxima, semana que vem, mais encontros aconteçam, bem como mais inspirações, mais cultura, mais prazer. Você, aliás, vocês estão todos convidados!



Cultura, Vitória da Conquista

Comentário(s)