Conquista: ‘Nem deu tempo me despedir dele’

Por Ailton Fernandes – Jornalista

Aos filhos, com carinho

“Mas e a vida?
O que é?
O que é, meu irmão?”

É com uma imensa dor no peito que paro para escrever essas linhas. Como um corte que decepa, o destino arrancou meu pai da estrada que seguíamos juntos. Agora vem o choro a todo momento. Um choro engasgado que sai esmurrando. Lágrimas que encharcam meu rosto, que afogam minha alma. Levanto minha cabeça do luto para escrever não para ele, nem para outros pais. Quero falar para os filhos.

Eu sempre soube que qualquer dia isso poderia acontecer. Ele poderia sair e não mais voltar — sua vida foi assim, em saída; a minha, da minha mãe e do meu irmão, foi a da espera. Mas a gente nunca está preparado. Seja qual for a sua fé, seja qual for o tamanho dela, ninguém quer a morte. Só saúde e sorte, como escreveu Gonzaguinha.

Meu pai saiu para voltar amanhã. Estou esperando. Não vai voltar. E eu não disse: “te amo, pai”. Nem “boa viagem”. Não deu tempo eu me despedir dele. Não deu tempo.

Eu ainda tinha muita coisa pra fazer junto com meu pai. Queria fazer uma viagem com ele. Queria ter finais de semana inteiros com ele. Queria que ele descansasse mais. Queria que ele ficasse em casa. Queria devolver a ele um pouco do tanto do que ele me proporcionou. Queria dizer que o amava. Queria mostrar que o amava. E eu planejava tudo isso. Vislumbrava para o futuro. Mas não combinei com o tempo. Não combinei com o destino. Não deu.

A gente pensa que controla tudo. A gente acha que planeja alguma coisa. A gente quer dominar nossas vidas. Aí a vida me mostra que não somos os donos. Não temos o controle remoto. Nosso tempo não é o tempo de Deus. Então, não deixem para amanhã. Não pensem no depois. Não vejam a vida melhor só no futuro. Seja agora, faça já, fale hoje.

Você, filho, que ainda tem seu pai ao seu lado, diga para ele: “te amo, pai”. Parece difícil, né? Parece desnecessário. Parece irrelevante. Mas não é. Não é, mesmo! Coloque para fora essas três pequenas palavras. Talvez você até demonstre em atos de carinho, em abraços, em presentes, em presença, em uma postagem numa rede social que ele não vai ver, mas não é a mesma coisa. Você precisa virar para ele e dizer. Dizer de verdade: te amo, pai.

O “eu te amo” foi banalizado. A gente diz que ama muita gente. Gente até que não conhece. Gente que nem vive com a gente como um pai vive. Mas, parece difícil dizer aos pais “te amo”. Parece que tem uma pedra nos impedindo, segurando nossa voz. Arranque esta pedra. Experimente. Melhor que ele ouvir, vai ser você conseguir dizer.

Não é delírio da minha parte. Não é lamento, nem sofrimento. É com carinho que escrevo esse conselho aos filhos. Vocês, talvez, ainda tenham tempo. Eu, não mais. É o sopro do Criador…



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