A poética do Professor Mozart Tanajura: Uma releitura do Poema Escrito no Avião


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Por *Mozart Tanajura Júnior

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No dia 19 de setembro, às 19h30min, a Academia Conquistense de Letras estará homenageando o escritor e historiador Mozart Tanajura, que faria 78 anos de vida neste ano. Membro fundador da Academia Conquistense de Letras, o Professor Mozart Tanajura escreveu um livro de poesias ainda inédito intitulado Imagens Rupestres que, em breve, estaremos organizando e selecionando  as poesias para publicação. Nesta obra, pretendemos incluir a última criação literária do escritor: Poema Escrito no Avião. Uma poesia redigida a bordo de uma aeronave, quando, naquela oportunidade, o poeta estava se dirigindo a São Paulo para tratamento de saúde. Lembro-me emocionado de todos os detalhes da narrativa de minha mãe Maria do Carmo que, ao retornar a Vitória da Conquista, com o pesar do falecimento de meu pai Mozart Tanajura, apresentava-me o guardanapo da empresa aérea que serviu de papel para a escrita do poema. Segundo minha mãe, o poema não teria chegado aos leitores se ela não tivesse intervindo junto ao meu pai que, como todo poeta, não havia gostado da primeira versão. Mas foi exatamente a primeira versão do Poema Escrito no Avião que, preservada pelas mãos ternas de uma esposa e mãe dedicada, nos trouxe a magia poética de um escritor voltado para os aspectos sociais e ontológicos da existência humana nesta terra, com o coração elevado aos céus.

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O Poema Escrito no Avião representa uma poética de transcendência do escritor que ultrapassa os seus últimos poemas cuja temática foia preocupação de inserir o seu leitor na problemática social e antropológica. A poesia escrita em versos livres nos remete à metáfora do voo como elemento poético para a reconstrução da categoria de liberdade, tão perdida em nosso tempo amplamente marcado por uma imanência limitada e esgotada nos apelos escravistas do consumismo pós moderno. Trata-se de uma poesia mística em sua essência, pois a busca pela proximidade de Deus ratifica o pressuposto poético de ir às realidades distantes desta terra, sem esquecê-las evidentemente, até os mistérios celestiais.

“Agora sou atmosfera/ e me perco na imensidade do céu,/ longe dos homens, mais perto de Deus” (Mozart Tanajura).

O encontro com Deus a partir de sua inserção ontológica na “imensidade” do céu recria um estado espiritual no âmago do poeta de união com o Absoluto. Um ponto interessante em sua escrita é a provocação linguística com o uso do termo “imensidade”, quando muitos preferem utilizar o vocábulo imensidão. O poeta provoca o leitor ao preferir o uso do primeiro termo como forma de incutir em seu íntimo um questionamento sobre o que é de fato imensidade em relação à nossa existência. A imensidade seria a vida terrena presa às nossas limitações ônticas ou a imensidade é céu com abertura ao outro e ao Absoluto?

Enfim, o poeta presenteou-nos com sua bela composição, exaltando o elemento de transcendência em sua escrita, sem negar a vida “pé no chão” que não nos afasta de nossas responsabilidades em relação à nossa cotidianidade. Poema Escrito no Avião é poesia dinamizada no pulsar literário de quem acredita na escrita como forma de expressão de nosso ser e estar no mundo.

*Mozart Tanajura Júnior é presidente da Academia Conquistense de Letras, autor do livro O Outro sob a Ótica do Amor e mestrando em Letras pela UESB.



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