Sétima Arte em Destaque: Closer Perto Demais

Por Gabriel  José  – Estudante de Cinema da Uesb 

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Relacionamentos. Não é fácil sustentá-los. Melhor dizendo, não é para qualquer um sustentar um relacionamento. E quando há um sentimento forte envolvido, é mais complicado ainda. Porque quando um tal de “amor” é despertado, outros sentimentos são gerados. Ciúmes? Sim! Sentimento de posse? Sim! É inaceitável não concordar que mais cedo ou mais tarde esses sentimentos sejam despertados, ou no começo da relação, ou no meio dela.

Closer Perto Demais  aborda isso de uma maneira tão sublime, que só vendo mesmo para confirmar. Primeiro porque são mostrados encontros inusitados entre pessoas e, mesmo que algumas delas não estejam esperando por algo, surge um sentimento e ali começam as relações. É aquele velho “amor à primeira vista”. Alguns dizem que não existe (mas é provável que esses nunca presenciaram ou sentiram); outros dizem que é passageiro. O certo é que é uma sensação ímpar. Só sabe quem já sentiu!

A história centra-se em quatro personagens: Anna (Julia Roberts), uma fotógrafa bem sucedida que vive longe de relacionamentos, já que recentemente se divorciou, que conhece Dan (Jude Law), ao fotografá-lo para o livro que está prestes a lançar, envolvendo-se de cara com o aspirante a escritor, que tem mais sucesso mesmo como redator de obituários. Por sua vez, Dan namora Alice (Natalie Portman), ex-stripper que vai a Londres sem muitas perspectivas, procurando apenas viver uma nova vida e esquecer seu passado amoroso. Dan acaba colocando Larry (Clive Owen) de uma forma bem ousada na vida de Anna, e os quatro começam a viver seus amores e suas traições, que andam em um círculo que parece jamais ter fim. É uma chuva de mágoas, tolices, pretensões, arrogâncias, falta de caráter, e tudo que faz com que relacionamentos se degradem, terminem, voltem, haja perdão (ou não), enfim. Uma verdadeira mostra do que nos incomoda nos chateia, mas que não passa de um tapa na cara para todos os erros que cometemos e que, certamente, cometeremos algum dia.

Roteiro ousado sabe muito bem onde mexer, em quais feridas tocar. Repleto de diálogos fortes e inesquecíveis, o roteirista Patrick Marber faz com que os personagens falem tudo aquilo que nós sempre quisemos falar, proporcionando uma capacidade de identificação do público em vários momentos da trama. Tenho certeza que aqui ou acolá, sentimos na pele e, o mais importante,compreendemos os sentimentos de cada um. Mas nem tudo é tão claro. Existem os momentos em que só aquelas pessoas entendem os porquês de seus atos e o roteiro acerta acima de tudo em ser íntimo e voraz, possibilitando que a carga emocional de cada um seja bem trabalhada, envolvendo o espectador e transportando-o para um mundo realista e longe de ser apenas uma ficção. É impressionante a delicadeza com que a história foi construída. Mesmo sendo feita para chocar e liberar sensações, a sutileza não atinge um ponto onde os clichês imperam, coisa realmente rara se tratando de produções que envolvem relacionamentos, que geralmente caem no mesmo lugar comum. “Closer – Perto Demais” não. Ele consegue mostrar as situações comuns, mas com uma inteligência que, por mais que possa conter algum momento já visto em outros filmes, adquire um novo caráter justamente por ser conduzido de uma forma que prende quem assiste.

E a trilha sonora? Dentre instrumentais e até musicas brasileiras, sem dúvida a que entrou para a história foi The Blower’sDaughter, de Damien Rice. Aparecendo logo durante os primeiros momentos de filme e no final, ela pontua um começo e um fim (e um novo começo) na vida de seus personagens, se encaixando majestosamente na história e arrepiando e emocionando. E é isso que o filme faz o tempo todo: mexe com os nossos sentimentos de uma forma tão traiçoeira que passamos a não saber para quem torcer, ou se queremos torcer. “Closer – Perto Demais” é um mix de tragédia e comédia, de vitórias e fracassos, de uma instabilidade que todos nós passamos quando nos remete a algum relacionamento amoroso na nossa vida e mostra que a verdade nem sempre é a melhor saída para resolver as situações e que as palavras podem sempre ser as principais causadoras de sofrimento que uma pessoa possa sentir. Temos uma prova do que nós somos, do que nos tornamos, da existência de um jogo de interesses próprios, da frieza que algumas vezes temos para resolver determinadas situações delicadas. É o retrato de uma sociedade que brinca com o amor, com as pessoas, com o sexo. Sexo este que nem foi preciso estar explícito no filme, pois só sua menção soou mais forte do que uma possível cena de sexo que o longa pudesse conter.

Vemos a existência da capacidade que as pessoas têm de amar e desamar, de aceitar, de reprovar, de machucar, de construir e depois destruir tudo, de enganar, de ser baixo, de querer ouvir daquela pessoa a verdade que sempre clamamos, de invadir a vida alguém sem pedir licença e sair dela deixando marcas definitivas. Vemos, acima de tudo, frases que ficam soando durante dias na nossa cabeça, que deprimem por sua veracidade, que nos identificamos e certamente nos incomoda. ame ou odeie. Não existe meio termo com “Closer – Perto Demais”. Aos que não gostaram ou que não conseguiram entender a finalidade da produção é lamentável não ter despertado uma leitura tão decepcionante. Mas de uma coisa eu tenho certeza: “Closer – Perto Demais” é obra-prima e realista e magnífica deste jeito, estou pagando para ver acontecer de novo futuramente.Amo esse filme.



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