Saiba como foi a Parada Gay de Vitória da Conquista

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Por André Thibes – Revista Gambiarra

Foto: Revista Gambiarra
Foto: Revista Gambiarra

Em plenas festividades de carnaval, Danilo Bittencourt alertava: “Entre janeiro de 2008 e abril de 2013, foram 486 mortes [de travestis e transexuais], quatro vezes a mais que no México, segundo país com mais casos registrados” e “ somente em 2013 foram 121 casos de travestis assassinadas em todo o Brasil”. Os dados nos quais o coordenador municipal de Políticas de Promoção da Cidadania e Direitos de LGBT se baseava eram da ONG internacional Transgender Europe e da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA).

Apesar dos alertas que surgem de tempos em tempos, nossa sociedade ainda tem dificuldades em reconhecer os direitos LGBT e a 5ª Parada do Orgulho de ser LGBT precisou mais uma vez gritar na tarde de hoje (31) que “Homofobia mata”.

O tema, quase um grito invasivo, foi pensado por conta dos altos índices de morte ligados a homofobia: “Homofobia Mata”. É uma realidade delicada, estatísticas não são confiáveis, visto que muitos casos acabam nem sendo registrados por conta do próprio preconceito. “Só em Conquista, a gente vê vários casos de homofobia que não são divulgados por causa da família que é homofóbica. A pessoa morre e os pais dizem que é por qualquer outra coisa, menos por homofobia. Nós viemos com esse tema, viemos todos de branco pedindo paz e pedindo axé. É isso que a gente quer, paz, tolerância e respeito”, explicou a Coordenadora do grupo de lésbicas Safo e da Parada do Orgulho de ser LGBT, Rosilene Santana.

Foto: Revista Gambiarra
Foto: Revista Gambiarra

As Paradas do Orgulho de ser LGBT ocorrem em diversas cidades brasileiras, sendo que a primeira ocorreu em São Paulo em 1997 com o tema “Somos muitos, estamos em todas as profissões”. A parada de São Paulo é reconhecida pelo público considerável que comparece. Já aqui em Vitória da Conquista, a primeira Parada LGBT ocorreu no ano de 2010 e desde então, ocorre todos os anos procurando sempre ter discussões e demais atividades que culminem na caminhada de rua em si.

Por isso, este ano, o lançamento começou no dia 29 de agosto, no dia da visibilidade lésbica com o 1º Encontro dos Territórios Baianos de  Lesbianidades e Bissexualidade que contou com a participação de todos os territórios da Bahia, além da representação do estado do Rio Grande do Sul. Rosilene explicou que foi um momento ímpar: “foi um momento de descontração, não foi a mesmíce. Fizemos uma dinâmica muito boa, não tivemos mesas, tivemos rodas de prosa. Todo mundo pôde falar, mesmo pessoas que nunca falaram em público falaram e falaram muito bem”.

Maria Odete Bento, Assessora da SALOS – Secretaria Adjunta da Livre Orientação Sexual da Prefeitura de Porto Alegre avaliou como boa, a Parada LGBT de Conquista: “Eu acredito que é um grande avanço para nós, tanto que vim do Sul para cá, para dar esse apoio para que haja políticas públicas e todos sejamos iguais”. A luta contra a homofobia é uma realidade nacional, é difícil ver um movimento social, seja ele pela terra, pela educação, pelo direito a cidade ou as mais variadas lutas, que não tenha a pauta do fim da homofobia como uma de suas bandeiras.

Maria Odete Bento lembrou que Vitória da Conquista está caminhando nas políticas públicas e, segundo ela, precisamos de uma secretaria voltada para as causas LGBT: “Em Porto Alegre nós tivemos grandes avanços. Fomos a primeira secretaria em todo Brasil e aqui espero que os governantes façam secretarias e que alimentem esse nosso objetivo de sermos iguais e termos os mesmos direitos”.

A Parada do Orgulho LGBT veio para Conquista com esse tema para dizer exatamente o que o Brasil parece não querer ouvir, a homofobia não é apenas um modo de descriminação e preconceito. Como se isso já não fosse suficiente, ela é uma justificativa para assassinatos. Voltando ao carnaval deste ano, é preciso lembrar que uma adolescente transexual de 16 anos morreu com tiros na cabeça. Outros casos ocorreram durante o ano. Aonde estão essas pessoas? Qual é a visibilidade desses crimes?

“Não podemos admitir que uma cidade continue matando sua população só porque ama pessoas do mesmo sexo. A ideia é não só visibilizar os casos de homofobia mas também acrescentar que todas as pessoas que marcham pela diversidade sexual precisam ser respeitadas em seus direitos enquanto cidadãs de Vitória da Conquista”, explicou Danilo Bittencourt.

Rosilene concluiu refletindo que políticas públicas contra a homofobia precisam avançar bastante, apesar de estarem caminhando. Porém, ressaltou mais uma vez que a morte por homofobia é inaceitável e hoje é a bandeira mais urgente do movimento LGBT no Brasil inteiro: “O que nós precisamos de mais urgente não é só em Conquista, é no movimento LGBT como um todo no Brasil. Precisamos que o crime de homofobia seja regulamentado. Se não, nós não vamos a lugar nenhum”.



Cultura, Vitória da Conquista

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