Por Mariana Kaoos
São Paulo é longe, vou pegar um ônibus pra te encontrar:
O ano era o de 2012 e o mês de junho. Fim de outono. Expectativas para o São João. Tudo ia bem e normal quando, num dia como outro qualquer, meu pai me ligou e me disse: “Quer vir para a Parada Gay aqui em São Paulo?”. Quase não acreditei no convite, mas prontamente aceitei. Foi a primeira, e única, vez que fui em Sampa. Encarei um trajeto de quase vinte e quatro horas dentro de um ônibus. Fui ouvindo música daqui até lá.
Lembro-me que, de toda a playlist que tinha montado, eu escutava de maneira incessante uma música de Caetano intitulada Nu Com a Minha Música que trazia, num tom nostálgico e melancólico, a seguinte estrofe: “Quando eu cantar pra turma de Araçatuba verei você. Já em Barretos eu só via os operários do ABC. Quando chegar em Americana não sei o que vai ser. As vezes é solitário viver”. Foi com essa canção, inclusive, que entrei no território de São Paulo e comecei a observar sua vegetação, suas cores, seu cheiro enaltecidos por outro trecho da mesma canção que diz: “O estado de São Paulo é bonito, penso em você e eu. Cheio dessa esperança que Deus deu”. Diante de meus olhos se descortinava as surpresas do novo. O encanto, a magia, a ansiedade.
Passadas as quase 24 horas de viagem, cheguei à rodoviária, cansada e feliz. Meu pai já me esperava por lá. Pegamos o metrô linha 743 (rs) e fomos em direção a Péerdizes, bairro em que ficaríamos hospedados. Me recordo como se fosse hoje que um dos primeiros pensamentos que tive em relação à cidade é que a mídia vende uma imagem muito errada dela. Pelo menos em partes. São Paulo não é um caos completo como, até então, eu imaginava que fosse. Ela é arborizada e bonita.
Em 2012 o preço de uma passagem de metrô não custava um alto valor e, através dele, era possível atravessar a cidade em menos de quarenta minutos. E os bairros, bom, pelo menos onde fiquei, as pessoas se conheciam e se cumprimentavam com uma certa dose de afeto. Havia um pequeno restaurante que servia pratos comerciais a quinze reais e também uma padaria que tinha de tudo para o café da manhã. Seu dono, que ficava zanzando por lá, parecia ser bem popular entre os fregueses.
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