Por John Ferraz e Tamires Tavares – Blog Foca na Ativa
Viver significa nascer, crescer, mudar, mas também morrer, esquecer e recomeçar. E tudo isso só é possível quando se tem coragem. Como já dizia Guimarães Rosa, “o que a vida quer da gente é coragem”. Ela é a alavanca que nos move para frente. Contaremos aqui a história de duas pessoas diferentes que compartilham algo em comum: a coragem de recomeçar. Elas não tiveram escolha, mas receberam uma missão: nascer de novo sem sequer ter a oportunidade de desfrutar do descanso final. Mas seria possível morrer para viver?
Iesa Santiago descobriu essa missão ainda muito cedo. Com três anos de idade, ela já sabia que alguma coisa estava errada e que algo nela não se encaixava. Ela havia nascido em um corpo que não era dela, um corpo que não correspondia à sua mente, mas ainda era muito nova para compreender.
Ainda na infância, Ian Santiago já sabia que não pertencia ao próprio corpo.
(Foto: arquivo pessoal de Ian Santiago)
Na escola, era um problema. Iesa queria estar entre os meninos e fazer “coisas de meninos”, afinal, em seu pensamento, ela não era uma garota, mas seus amigos não entendiam, nem ela se entendia. Sentia-se num mar agitado, sem saber nadar. Apesar de tudo, sempre deixou claro que o seu pior pesadelo era ser menina. “Todos eles sabiam que eu sempre quis ter nascido homem. Então eu não tinha como esconder, era um pivete no corpo de uma menina e aquilo era bizarro”. Judith Butler, em seu livro Problemas de Gênero, tenta mostrar que o gênero não é uma determinação biológica, isto é, não nasce com a pessoa, mas é uma construção social. Para a autora, as figuras femininas e masculinas são discursos construídos e atribuídos ao sexo com o qual a pessoa nasceu.
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