Adeus ao companheiro Valter Pires

Por José Raimundo Fontes – Deputado estadual

No fim deste 24 de junho, a triste notícia do falecimento de Valter Pires pegou de surpresa a muitos de nós, que fomos colegas, alunos e companheiros de militância da primeira geração da UESB e com ele convivemos ao longo dos anos 1980 e início da década de 1990.

Natural de Itapetinga, na juventude residiu, estudou, trabalhou e militou politicamente no Rio de Janeiro, tendo participado das históricas lutas estudantis dos anos de 1960.

Retornando à Bahia em fins dos anos 1970, fixou residência em Vitória da Conquista.
Graduado em História, pela PUC-RJ, ingressou na UESB no início de 1980, destacando-se logo como professor e militante social, participando ativamente das lutas sindicais e movimentações políticas no município.

Foi com esse compromisso que contribuiu para consolidar a ADUSB, sendo o seu segundo presidente, enquanto entidade não só de lutas corporativas mas também de ação institucional na UESB e na sociedade civil, participando da agenda do movimento docente e sindical estadual e nacional.

Partidariamente, era próximo do PDT histórico, mas logo a seguir se filiou ao PT, tendo sido candidato a deputado estadual em 1986 e a prefeito de Vitória da Conquista, em 1988, quando participou do debate na TV Cabrália, acontecimento inédito nas eleições locais.

Sempre ativo também academicamente, realizou os cursos de Especialização em Metodologia do Ensino Superior, na UFRJ, Mestrado na UFF e Doutorado na USP, além de ter exercido várias funções acadêmicas tanto na UESB quanto na Universidade Federal do Espírito Santo, na qual ingressou no começo dos anos 90.

Nesse Estado, deixou a sua marca de sindicalista, militante político e de Professor, com os mesmos princípios e determinação no engajamento das lides coletivas. Aí também se constituiu em um importante dirigente de instâncias e órgãos universitários, sem abandonar o ambiente político-partidário, candidatando-se para cargos eletivos em vários pleitos, sempre pelo PT.

Mesmo distante, nunca se desvinculou afetivamente e das relações científico-acadêmicas com a UESB, frequentando-a periodicamente para o exercício de fazeres docentes, participando de bancas, debates e ministrando palestras sobre assuntos historiográficos.

O bom filho a casa torna. Valter, como muitos de nós brasileiros, foi um peregrino, um nômade dos tempos modernos, que procura oportunidades para romper as barreiras sociais dos lugares geográficos, dos torrões natais.

Conseguidos compassos, réguas e outras ferramentas, tornou-se um construtor, um artesão, um semeador, um fertilizador de campos áridos. Onde quer que estivesse regava a semente da mediação, da amizade, da vida coletiva em buscas de concretização de ideais humanistas.

Mesmo assim, as suas raízes, a essa altura da vida, ainda o prendiam por essas plagas sertanejas. Por isso ele voltou, infelizmente em um momento dramático da vida de todos nós.

Estava tentando reconstruir seus laços afetivos e profissionais com a nossa cidade, em meio à devastação da pandemia. Tinha muito a nos oferecer, além das lembranças, das narrativas de causos e feitos e da amizade.

Adeus, companheiro Valter Pires.



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