Opinião: Cães sem dono em Conquista e a lição que o Hiper Bompreço não aprendeu com o Carrefour

Do Blog de Giorlando Lima

Em novembro de 2018 golpes que um segurança deu em um cachorro que circulava nas dependências de uma loja do Carrefour, em Osasco, São Paulo, caíram como uma pancada na imagem da rede francesa de supermercados. A divulgação da agressão nas redes sociais provocou uma repercussão nacional, com respingos internacionais. O cachorro morreu e o episódio obrigou a empresa a emitir notas e gastar com comunicados para explicar que não concordava com atos como o cometido pelo segurança da loja de Osasco.

Guardadas as proporções, um escândalo bem parecido ronda a loja conquistense do Hiper Bompreço, da gigante americana Walmart. Desde ontem (15) repercute uma denúncia de que uma empresa de dedetização teria dopado animais que circulam na área de estacionamento do supermercado e os estaria colocando uma caminhonete, a mando da empresa, cujo objetivo seria mandar os animais para outro estado. Em postagem no seu perfil do Facebook, o cantor Plácido Mendes foi o primeiro a narrar o que viu.

Plácido contou que carregava uma caixa pesada com a namorada e para encurtar o caminho, devido ao peso, decidiu passar pelo estacionamento externo do Hiper, em frente ao Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima, quando viu dois cachorros deitados no canteiro do estacionamento, dois homens de uniforme ao lado dos animais e uma picape com a tampa aberta, sendo visível “uma grande caixa de transporte de animais”. De acordo com o músico, os dois homens mostraram estranhamento com a presença dele e da namorada. Em seguida, ele percebeu que um dos cães se levantou, cambaleando, e caiu novamente ao chão. “Estava DOPADO. O outro estava nas mesmas condições”, narrou Plácido Mendes.

“Decidi ir até os dois sujeitos e perguntei: ‘para onde vão levar os cachorros?’”, contou o músico e continuou: “Um dos dois, já visivelmente irritado, disse que não iria fazer mal, que era pra uma ONG, e que a empresa não sujaria seu nome fazendo algo errado”. Plácido diz na postagem que achou o jeito dos homens muito suspeito e estranhou ainda mais quando observou que os uniformes deles tinham as marcas das empresas Orkin e Brasprag. “Pesquisando, descobri ser uma empresa de combate a pragas que, na Bahia, atua apenas na capital (https://www.orkindobrasil.com.br/). Infelizmente, eu havia esquecido meu celular em casa, e não pude fotografar ou gravar nada”, disse.

Plácido disse que falou com um funcionário do Hiper Bompreço chamado Lucas, “possivelmente um dos gerentes ou coordenadores”, que confirmou a intenção da empresa de mandar os cães para longe. “Ele me disse que a funcionária que sabia o nome da ONG não estava no momento, mas disse que os cães estavam atacando os clientes e que eles procuraram o poder público e TODOS OS ABRIGOS DE ANIMAIS da cidade, e ninguém deu alguma resposta favorável, então contrataram uma empresa de controle de pragas, que levariam os animais a uma ONG em Salvador”, contou.

O músico acrescentou que o funcionário do Bompreço teria dito a que a atitude foi tomada diante do descaso da Prefeitura. “Suas palavras foram mais ou menos assim: ‘A prefeitura disse não poder fazer nada, e que nós não poderíamos fazer nada aos cachorros, então contratamos uma empresa para isso’”. Ressalvando que não poderia afirmar nada, nem acusar a empresa, mas que achou tudo muito suspeito, Plácido resolveu compartilhar. “Tendo o histórico de atitudes de donos de mercado com relação aos animais que rodeiam (basta dar uma olhada nas notícias de alguns meses atrás, em outras partes do país) temos aqui no mínimo uma situação que deve ser esclarecida”, destacou.

O caso repercutiu rapidamente e extrapolou os limites da cidade, tendo sido notícia em sites de várias partes do Brasil. Na madrugada este BLOG recebeu mensagens gravadas em que várias pessoas narravam que também presenciaram a cena ou que tinham procurado a administração do Hiper Bompreço sem terem obtido qualquer explicação plausível. Em uma das gravações, uma mulher diz que foi ao local e viu “três cachorros completamente sedados, mal conseguiam ficar em pé” afirmou que tem várias imagens para comprovar. O BLOG não conseguiu a identificação da dona da voz.

Outra diz que o pessoal do Bompreço, em São Paulo, teria ligado “para dizer que os animais estão sendo recolhidos e enviados para o Rio Grande Norte” e repete o que o funcionário teria dito ao músico Plácido Mendes: que a administração do Hiper teria reclamado à Prefeitura e que foram feitos vários contatos, não obtiveram qualquer resposta.

A mulher diz que foi recolhida de uma vasilha uma água verde, que, “provavelmente pelo cheiro, seria algum remédio que dopa cachorro”, além de três bandejas de carne do Hiper Bompreço, “que eu duvido que algum cliente tenha jogado bandeja de carne para cachorro”.

O assunto também mereceu a atenção do vereador Sidney Oliveira, que atua na proteção de animais e vem cobrando a implantação de um Centro de Controle de Zoonoses para Vitória da Conquista. Ontem à noite o vereador postou um vídeo no Facebook e no Instagram em que diz que “os cachorros estão bem, soltos, se encontram brincando no estacionamento do mercado”. Sidney fala que o supermercado explicou que “os cachorros estão sendo retirados, apenas por medidas protetivas, pois estavam atacando os clientes do mercado. Segundo ainda a rede de supermercado, uma empresa estará levando os animais para uma ong na cidade de Salvador”. O vereador disse que está apurando e assim que tiver mais notícias informará.

Já o também vereador David Salomão fez um protesto na sessão de hoje (16).

Para ele, houve “um fato lamentável” e que um casal testemunhou a situação: uma empresa, com funcionários uniformizados, recolheu os cachorros, que estavam “visivelmente dopados”, e colocaram numa espécie de jaula. O mesmo casal descobriu que a empresa atua no controle de pragas. Salomão colocou a culpa na Prefeitura, afirmando que  é obrigação do poder público o Centro de Controle de Zoonoses mas que essa “não é uma preocupação do prefeito”. Em sua fala, o parlamentar cobrou explicação tanto da Prefeitura como da empresa que recolheu os animais e do Hiper Bompreço.

Outro que se manifestou foi o deputado Marcell Moraes (PSDB). Nas redes sociais ele diz que o caso é um absurdo. “Recebi uma denúncia de que o Supermercado Hiper Bompreço de Vitória da Conquista-BA estaria DOPANDO CACHORROS PARA PODER ‘DAR FIM’ pois, não se sabe o paradeiro dos mesmos. O mercado informou que encaminhou os animais para uma ONG em Salvador, o que já foi DESMENTIDO!”. Marcell afirma que a verdade é que os cachorros foram capturados por homens que usavam uniformes de empresa de combate a pragas. “DESDE QUANDO ANIMAIS SÃO PRAGAS? Já acionei a minha equipe jurídica, estamos tomando todas as medidas cabíveis e iremos apresentar uma denúncia ao Ministério Público, pois não podemos deixar que isso passe despercebido!!! Os animais são vidas e merecem respeito!!! Chega de descaso!!”.

Até a finalização desta matéria nem a administração do Hiper Bompreço nem a Walmart haviam de emitido nota para a imprensa sobre o caso.



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