MÉDICO HUMANO, PACIENTE HERÓI

Essa coluna é assinada pela jornalista Elen Vila Nova

Existem profissões pragmáticas, algumas quase robóticas. Tem que se fazer isto ou aquilo, faz-se e pronto. Mas a maior parte dos ofícios exige um lado humano que deve estar em perfeita harmonia, casado, unido às habilidades características da tal profissão. A medicina é uma delas.

Senão, aliás, a principal destas profissões. Um diagnóstico ruim pode ser dado com a frieza de um bom profissional ou com a humanidade de um profissional melhor ainda. Ninguém quer ficar doente. Ninguém espera ficar doente. Vivemos sonhando, acreditando, quase apostando na imortalidade. Pelo menos no
universo cultural do ocidente, trabalhamos, temos, realizamos, projetamos. Vivemos para… viver. E ponto. Ninguém vive acreditando que pode, que talvez, quem sabe, tudo isso aqui tenha um fim. Negamos isto o tempo inteiro.
Um diagnóstico inesperado é muitas vezes a lembrança, a mensagem da mortalidade. O mensageiro? O médico. E é aí que vem a beleza, a delicadeza que pode, e deve, estar contida nesta profissão. A tal da humanidade.

A forma como se recebe um diagnóstico é fundamental inclusive para que se tenha um prognóstico mais positivo. Será tão difícil se colocar no lugar do outro, tentar imaginar a dor do outro, fazer como gostaria que fizessem com você? Simples assim.

Posso comunicar que não amo mais alguém quando não atendo telefonemas, quando ignora gestos de carinho, quando sou grosseira, quando sou indiferente a atitudes. Posso, da mesma forma, desvendar a ausência deste amor a alguém quando marco um encontro, chego no horário combinado, levo uma lembrança, converso, digo o quanto este alguém é importante… Mas… Mas…. Mas… que algo mudou, e que, ainda assim, o carinho permanecerá. O fato é o mesmo. A verdade é a mesma. A dignidade é diferente. Um diagnóstico ruim dado a alguém até então cheio de vida, cheio de planos deve conter em si um quê, um ar, um recheio de dignidade (sim! esta é a palavra). Só assim o paciente acreditará que poderá continuar daquele jeito: cheio de vida e, sim, cheio de planos, porque há, sim (Foi o médico que disse!  sentença, literalmente, inigualável para o enfermo),
muita esperança.

Nenhum médico tem o direito de tirar a esperança de alguém: seja com palavras, com atitudes ou, até mesmo, com a forma de olhar. Ninguém tem.
A esperança é do paciente. Mas para se sinta dono dela, ele precisa de uma forcinha. Esperança é subjetiva e pode também ser dada subjetivamente: com atitudes, formas de olhar que não neguem o otimismo e a necessidade da coragem de lutar. Esperança não é sobreviver. É viver. E viver VI VEN DO. A CRE DI

TAN DO.
Até o fim. Fim que todos teremos um dia.
Médico não é Deus, mas pode dar esta fé ao paciente.
Médico se aproxima de Deus quando é humano.
Paciente é paciente, não é diagnóstico.



Artigos, Conquista, Cultura, Destaques, Saúde, Vitória da Conquista

Comentário(s)