Médicos cubanos falam sobre a experiência de trabalhar em Vitória da Conquista

Em toda a Bahia, 1.522 profissionais atuam em 363 municípios por meio do Programa Mais Médicos do Governo Federal. Deste total, 846 são médicos cubanos. Aqui em Vitória da Conquista, 26 profissionais atuam pelo Programa, sendo que 8 deles são médicos cubanos. Na semana passada, a decisão tomada por Cuba de se desligar do programa foi recebida com surpresa, tanto pelos médicos quanto pela população.

Os médicos cubanos vem trabalhando em Vitória da Conquista, por meio do Mais Médicos, há mais de cinco anos. A médica Liset Pérez Sain, que atualmente trabalha na Unidade de Saúde das Pedrinhas, chegou ao Brasil em janeiro de 2017. Segundo ela, quando chegou à cidade, trazia muitas expectativas e planos. “Minha experiência aqui foi um desafio, pois tive que me acostumar a uma nova cultura, língua diferente e um sistema de saúde diferente”, ela conta. Liset já tinha trabalhado em uma experiência semelhante na Venezuela, mas no Brasil, além das questões de adaptação comuns, ela ainda tinha a barreira da língua que, segundo afirma, foi superada. Além disso, ela declara: “tive contato com doenças erradicadas em meu país que só conhecia pelos livros de medicina, como tuberculose, hanseníase, além de outras muitas que lá não temos. Tive, também, a oportunidade de aplicar essa medicina preventiva que é nosso princípio primordial lá em Cuba, além da medicina de caráter humanitário”.

Um dos fatores que sempre preocuparam, tanto os profissionais da saúde do município quanto os próprios médicos, era a aceitação por parte da comunidade. Foi mais uma barreira vencida com sucesso. A própria médica, dra. Liset, fala da gratidão: “tenho muito para agradecer a meus pacientes que acreditaram em mim e colocaram sua saúde nas minhas mãos. Tive a oportunidade de trabalhar em duas equipes: passei o ano 2017 todo na equipe da Lagoa das Flores II, na zona rural, e em 2018 nas Pedrinhas, na zona urbana, com ótimos resultados e uma boa acolhida pela população, pacientes que respeitam nosso trabalho”.

O Secretário Municipal de Saúde, José Raimundo Costa Fernandes, reconhece essa receptividade caraterística dos médicos cubanos. Para ele, a principal característica que aproxima os pacientes é a humildade dos médicos. “A comunidade os aceita de uma forma bem tranquila, pois são simples no convívio do dia a dia. Profissionalmente, não temos nenhuma queixa quanto à atuação deles”, completou.

O anúncio da saída de Cuba do programa foi recebida com consternação tanto pelos médicos quanto pela população. Mesmo sem ainda ter um comunicado oficial do Ministério da Saúde, o sentimento já é de saudades: “Fico muito triste pois sei que a população vai ser a mais afetada pela saída dos cubanos”, afirma dra. Liset, e completa: “mas temos muito para agradecer e desejo tudo de bom para o Brasil. Obrigada Vitória da Conquista, obrigada Brasil pela oportunidade.” Nas redes sociais, outro médico da equipe cubana, dr. Lizander Rubio Diego, também agradeceu e disse que não vai esquecer o carinho e respeito que recebeu: “Hoje, com uma forte dor no coração, não lhes digo até sempre, digo-lhes que viverão para sempre em meus pensamentos e meu coração”.

O secretário de saúde também reconhece a importância dos médicos cubanos para o Programa de Saúde do município e lamenta o fato de que precisem voltar ao país de origem: “todo programa tem um início e um fim, infelizmente esta parte está chegando, agora, ao fim”. Ainda não há um comunicado ou um posicionamento por parte do Ministério da Saúde sobre a saída dos cubanos do programa, mas o secretário já antecipa os próximos passos após este posicionamento: “Caberá à gestão pública municipal se adequar, cobrir essa vagas que vão ficar e não deixar a população descoberta”.

Ainda não há uma data oficial definida para que os médicos deixem o município. Até lá, eles continuarão trabalhando normalmente nas unidades de saúde.



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