20 anos do Sicoob CrediConquista, uma homenagem de Esequias Araújo Lima

Texto lido durante Assembleia Geral Ordinária 2018 e comemoração dos 20 anos do Sicoob CrediConquista

Esechias Araújo Lima

Poeta, cronista e membro da Academia Conquistense de Letras

Agradeço a Deus pela oportunidade de estar aqui nesta noite. Dizer que  é uma honra pra mim merecer a confiança dos dirigentes da Crediconquista expressa no convite para fazer, em nome de todos,  a saudação aos 20 anos de funcionamento desta que, indubitavelmente, é a maior instituição financeira genuinamente conquistense.

Gostaria de iniciar citando Fernando Pessoa com  versos que cabem, perfeitamente, no sentido desta festa:

“O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, 
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia”. 

Navegando nas águas deste maior poeta da Língua Portuguesa depois de Luís de Camões, arrisco esta paráfrase:

O Banco X é o maior banco que há na nossa aldeia,

mas o banco X não é o banco mais importante da nossa aldeia

Porque o Banco X não é o banco que nós ajudamos a construir na nossa aldeia.

Sendo assim, a CREDICONQUISTA é a maior instituição financeira que há nesta comunidade, porque ela não apareceu para extrair riquezas, mas ela – a Crediconquista –  é árvore que aqui nasceu, aqui produz e aqui mesmo distribui seus próprios frutos.

Há 20 anos, por sobre a terra dormia o silêncio da semente, a sonhar flores e frutos. E “tudo que dorme é criança de novo” no dizer do mesmo Fernando Pessoa. E está ali súbito, como a flor que se rompe em pétalas, um sonho. O de regar a semente com afetos de mãe.

Milton Nascimento poetiza o plantio com sabedoria de jardineiro:

 Afagar a terra

Conhecer os desejos da terra

Cio da terra, propícia estação

E fecundar o chão.

Fecundar de esperança. Uma esperança esplêndida, incômoda, viva, sem medidas ou peias; uma esperança verde, desenhada a pinheiros: dois. Ainda não era esse triângulo de múltiplas cores, cujos vértices se entrelaçam. Dir-se-ia que o verde expressa a esperança, e o amarelo, a riqueza que o SICOOB,  essa força nacional, hoje representa para o cenário financeiro.

No começo, era o milagre vigoroso de uma visão, de um jeito novo de se lidar com a economia, de se partilhar o bem comum. Sabe-se que a força da ternura, da partilha, do ideal forja o mundo, alavanca o universo.

Quem diria que aquele arremedo de banco, sem um canto de seu,  pudesse ostentar, hoje, um logotipo reconhecido nacionalmente? Quem diria que 20 gatos pingados pudessem sonhar com uma instituição que, agora, tem mais de 3.700   associados? Quem diria que parcos 14 mil reais pudessem exibir a  cifra de  32 milhões em depósitos? Quem diria que se pudesse chegar a 2018 com um portfólio, cujo vasto leque, se ombreia aos grandes bancos nacionais e internacionais? Quem diria que, um dia, nosso associado  não precisasse mais sair desta casa para comprar fora qualquer produto financeiro que seja? Quem diria que pudéssemos oferecer crédito mais barato, cartões com franca aceitabilidade, atendimento personalizado, colaboradores capacitados que, com olhos de jardineiro, cercam, de carinho e atenção, a todos que se acheguem, porque aqui  não se lançam grãos para se retornar só na colheita. Não. Aqui se faz a oração do trabalho, rega-se o solo, aduba-se com o suor. Aqui não há decisões de portas fechadas, ou na calada da noite. É tudo em colegiado, à vista dos donos que são os associados.  Aqui, as águas que iluminam o solo estão sempre de volta à fonte, como o pássaro ao ninho. É a força da multiplicação e o milagre do retorno e da partilha.

Tudo custou suor e obstinação. Precisou se fazer da crítica, da desconfiança, um combustível potente, uma vontade sem limites para vencer as ondas, enxergar horizontes, chegar-se ao cais e dividir riquezas. Foi difícil, sim. Marguerite Yourcenar, escritora belga, primeira mulher eleita para a academia francesa, no meio dos fogos de tantas paixões, afirma que “só as dificuldades abrem portas”. Foi nesta floresta de interrogações, povoada de dúvidas, num clima à primeira vista hostil que, a 15 de maio de 1998, a então CREDICON abre suas portas. Dinheiro para emprestar? Parcas moedas.  Salário para os colaboradores? Nem pensar. Acervo tecnológico? Qual nada! Máquinas simples,  frutos de doações.  A adversidade do cenário local foi um complicador. A pretensão financeira da então CREDICON esbarrava-se na credibilidade agastada do cooperativismo na Bahia, àquela época.

Era preciso agregar. Não era prudente, nem possível, caminhar com as poucas passadas. Ainda Fernando Pessoa afirma que “navegar é preciso, viver não é preciso”. Uma vez abertas as portas, necessário remar. Sozinho se fragiliza. Sozinho, não se constrói. Morrer no nascedouro? Diz, ainda,   Marguerite que, “Só se morre quando se está só”. Mesmo que poucas e discretas, havia as mãos, em velamentos como o vinho do topázio.

A mítica e mística poética do encontro, do entrelaçamento de sonhos e mãos, o desejo honesto e maduro de se inaugurar um tempo novo, uma ideia nova, um destino novo. Tudo isso ainda era pouco. Precisava-se de ímpeto, coragem, de uma maciça dose de ousadia. Sim. Muita ousadia. Como crer num pequeno David que só trazia nas mãos meia dúzia de reais, à guisa de pedras, para enfrentar o gigante Mercado Financeiro? Poder-se-ia ouvir, não dos lábios, mas dos olhos, dos semblantes, o tom da descrença: pobres joões batistas!!! Pensam que, com um gafanhoto e um favo de mel, atravessarão incólumes o deserto? Como quem dissesse: a formiga mira o elefante, ou o orvalho desafia as labaredas do sol.

Algo, porém, sempre norteou as decisões administrativas, algo tão escasso no cenário brasileiro hodierno: a ética, a seriedade, a transparência, atitudes que honram esta carta em branco que cada associado confere à Administração, ao Conselho, aos colaboradores.

E como quem engorda o gado são os olhos do dono, esta casa expõe sempre sobre a mesa todos os seus números, seus balancetes para que cada associado, desde aqueles vinte dos primeiros momentos até os de agora, possam engordar, com sua vez e voz, este rebanho vigoroso sob a bandeira do SICOOB.

Resultado? Eis aqui o Sicoob Crediconquista no seu vigésimo aniversário. Uma instituição acima de tudo hígida,  robusta, com casa própria e um corpo social laborioso.

 

Parabéns a todos os pioneiros que emprestaram nome e numerário quando a semente ainda nem houvera sequer rompido a casca, e o broto era um arremedo de vida na alcova escura da terra.

Parabéns, enfim, a todos  pelo ímpeto  associativo, pelo sabor do desafio, que se posta, em sutil limiar, entre a adrenalina e o gosto de vencer.

Está aí o convite a este novo Conselho, à Diretoria e ao corpo funcional que, no dia a dia, provam do sabor amargo e doce desse abismo chamado desafio: construir a Crediconquista que, daqui a mais 20, 50 ou 100 anos, possa olhar cada minuto do passado e dizer: eis aqui, nas digitais de todas as pessoas, um sonho de concreto, de ferro, de bronze, de ouro, mas de muito suor. E dizer como Augusto Branco: “Minha energia é o desafio, 
minha motivação é o impossível, e é por isso que eu preciso ser, à força e a esmo, inabalável”.

Mais 20 anos, mais 50 e muito mais do desmedido tempo te esperam, Crediconquista. Para isso, um combustível que esteve desde o primeiro arranque do motor foi, é e será deveras importante: a esperança. E que todos que estiveram, que estão e que estarão aqui  possam repetir a poesia de um tempo novo, a esperança implícita de um ano novo, decantada assim por Mário Quintana:

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso voo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança…
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome? É ES-PE-RAN-ÇA…

 

 



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