Opinião: A felicidade com maquiagem na internet

Por *Vilmar Rocha

Há alguns dias, fiz uma enquete na minha conta do instagram (@vilr_) para que os meus leitores/seguidores decidissem sobre o que eu deveria escrever na minha próxima coluna a ser publicada. Bom, eis que surge o tema, então, vamos a ele!

Já reparam que a maioria das postagens dos adeptos das redes sociais são de momentos felizes? Essa é uma ação natural, visto que por se tratar de um processo de vitrinização, queremos mostrar aquilo que temos e fazemos (de) melhor. É notório que a sequência dessas postagens passam a impressão de que os usuários, aqueles ali que se mostram, vivem uma vida de felicidade constante. Não há nada de errado nisso, contudo, percebemos que há uma maquiagem nesse processo, uma vez que a realidade não é bem assim.

Ora, se somos seres humanos, há momentos em que nos frustramos, que estamos tristes e que desejamos nem termos nascido. É errado esconder esses fatos para que os outros não saibam das nossas fraquezas e malezas? Não também! Há, de fato, um certo cuidado na seleção daquilo que postamos. Por isso, o que quero chamar a atenção aqui é o fato de que o que é postado não representa a totalidade da vida de alguém. Todo mundo passa por desafios e tristezas na sua vivência e isso é completamente normal.

E como as redes sociais exercem impactos sobre nós? (Esse título seria para uma coluna inteira, mas tentarei ser breve).

Não adianta mais, é um caminho sem volta: as redes sociais são parte integrante no nosso dia-a-dia, e mudando a perspectiva da primeira parte do texto, é notório que fazemos algumas medições por elas. Quem nunca quis/quer, apesar das diversas curtidas obtidas, um “like” de alguém específico? Quem não fica satisfeito em visualizar a dedicação dos outros em escrever comentários nas suas postagens? Pois então, caro leitor, o mundo virtual me parece não ser mais tão virtual assim, ele está, cada vez mais, influenciando as nossas relações.

Mais uma vez, cito a professora Vera Menezes, da Faculdade de Letras da UFMG, que trata do assunto em uma perspectiva do ensino de línguas. Ela usa o termo affordance (da Biologia) que significa as relações dentro de um ecossistema. De forma bem elementar, essa temática se fundamenta no uso da língua nas (rel)ação(ões) não lineares e para interpretação das ações sociais a nossa volta. Fica claro, então, que não usamos nada mais além do que a língua nas redes sociais. Ela é a ferramenta de socialização das nossas posições (ou a falta dela) nesses ambientes. Sim, a falta de reações são também recursos da linguagem.

Com o instastories, por exemplo, entendemos que aqueles que, de alguma forma, se interessam pelo seu cotidiano visualizam as suas postagens e, muitas vezes, respondem fazendo comentários sobre aquilo que você postou. O caminho contrário também é válido: usando novamente os recursos dos estudos da linguagem (sem sermos aqui teóricos), aqueles que não se interessam por aquilo que você está fazendo dispensam o ato de visualização. Portanto, é bem simples, além de nos preocuparmos com poses, filtros, lugares, posições corporais, nos importamos ainda mais com o retorno: as reações, os comentários, as visualizações e as repostas às postagens, sejam elas em qualquer ambiente social virtual. A frase imperativa “Curta, comente e compartilhe” é prova disso.

Fica, então, o questionamento que se faz em chamada para a reflexão: qual é o limite da vida real e da vida mostrada na rede social? É possível traçarmos uma linha retilínea? Ela realmente é reta? Assim e para não terminar esse texto com pergunta(s), acho que o assunto dá pano pra manga e devo fazer, em breve, uma nova abordagem sobre ele.

*Vilmar é licenciado em Letras pela Uneb e professor de português, como idioma vernáculo e inglês, como língua adicional. É especialista em Ensino de Línguas Mediado Por Computador pela UFMG e Mestrando em Letras: Cultura, Educação e Linguagens na Uesb. Também é Administrador e Especialista em Gestão Empresarial. Já trabalhou na gestão de contratos e desenvolveu projetos socioambientais.

 



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