Eleição 2016: Blog do Rodrigo Ferraz entrevista Zé Raimundo

Por *Mariana Kaoos

Primavera chegou, a chuva caiu, o semestre na Uesb findou, as boas novas culturais surgiram e o primeiro turno da campanha eleitoral acabou. Elegemos uma bancada um tanto quanto conservadora e patriarcal, já que para a nova gestão de lideranças na Câmara Municipal de Vereadores teremos apenas três mulheres. Na disputa do maior cargo, o de prefeito de Vitória da Conquista, tudo seguiu como esperado. Abriu-se espaço para o segundo turno onde irão concorrer as maiores siglas, desde sempre, aqui da cidade: O PMDB, na figura do candidato Herzem Gusmão, e o PT, com o candidato José Raimundo Fontes.

Bom, e o que falar do discurso dos dois ao longo do primeiro turno? Certamente que conseguiram a proeza de realizar campanhas agressivas, mas ao mesmo tempo mornas. Como disse anteriormente, os programas televisivos foram engessados em formatos do “tempo do bolinha”, totalmente ultrapassados para a contemporaneidade, cada vez mais tecnológica e estética. Quanto à propaganda impressa e as falas sem edição, principalmente as do debate promovido pela TV Sudoeste, estiveram muito mais centralizadas no viés do ataque/defesa do que na preocupação de debater as propostas de gestão de cada projeto político. Algumas esferas temáticas específicas, de grande valor para muitos, ou foram abortadas dos programas ou apareciam sempre breves, com superficialidade.

Eu, enquanto mulher, jovem, jornalista e agitadora cultural, confesso que não me senti representada por nenhum candidato no primeiro turno. Então, como tentar contribuir para elevar a qualidade do debate em Vitória da Conquista?! Realizar uma entrevista com os dois candidatos focada em três grandes temas, a saber, cultura, mulher e juventude, a fim de que eles expusessem de maneira clara e direta seus projetos dentro dessas áreas. Devo ressaltar que a ideia foi muito bem recebida pelos assessores de comunicação Diego Gomes, representando Herzem Gusmão, e Ailton Fernandes e Indhira Almeida, representando Zé Raimundo, que se mostraram solícitos e educados comigo e com o Blog do Rodrigo Ferraz. Entretanto, por falta de espaço na agenda do candidato, não conseguimos ouvir Herzem Gusmão a tempo da publicação deste produto jornalístico. Originalmente, o objetivo era produzir uma única entrevista com as mesmas perguntas para ambos, tentando preservar o maximo de imparcialidade e isenção na condução do trabalho. Infelizmente, com a ausência de Hérzem, segue abaixo na íntegra a entrevista com o candidato José Raimundo Fontes. Confira:

Fotos; Divulgação
Fotos; Divulgação

Mariana Kaoos: Há mais de três anos o Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima está em reforma,  impossibilitando a apresentação de diversas produções culturais. Sabemos que o espaço é de responsabilidade do governo estadual. Contudo, a gestão que ocupa a prefeitura da cidade de Vitória da Conquista não só integra o mesmo partido que assume o governo da Bahia, como dialoga bem com ele. O que faltou, o que falta, para reativar o Centro de Cultura?

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Zé Raimundo: Nós temos um programa de governo que reflete uma concepção de sociedade. Uma sociedade plural, democrática, com mais igualdade e que diminua as diferenças histórias entre os grupos sociais e suas mais diversas hierarquias e segmentos como gênero, raça, orientação sexual, orientação religiosa, visão de mundo e por aí vai. Nós defendemos esse projeto político de sociedade em que todos se respeitem e  cada um possa buscar sua felicidade, sua realização no plano material, espiritual, econômico, de acordo com as oportunidades. É com base nesse principio que a cultura  para nós é uma referencia. A cultura, e ai seu conceito é abrangente, que vai desde o modo de vida às diversas expressões artísticas da subjetividade humana, através do teatro, musica, dança, pintura. Para nós, nesses anos, a cultura teve um papel relevante. Temos, como exemplo, o Conservatório Municipal que mantemos, ainda hoje, com muito vigor. São mais de 800 alunos matriculados e agora ampliado com o núcleo da Neojiba no Conquista Criança. O nosso apelo cultural também passa por uma concepção nas escolas, na educação, na presença de atividades artisticas e culturais dentro desse espaço. Temos o Sete de Setembro, os dois grandes momentos no calendário da cidade que são o São João e o Natal da cidade (e o terceiro que irá chegar com ainda mais força, que é o Festival da Juventude). Isso tudo além dos apoios cotidianos, sistemáticos, que oferecemos aos empreendedores locais, associações, às festas de reizado, festas da bandeira, festas religiosas que fazem parte também da cultura. Seguindo por essa linha, temos uma última grande realização do nosso governo que foi o Centro Cultural Glauber Rocha que alia economia solidária com economia criativa, além de ser ponto de fusão de conhecimento cientifico e cultural. Temos tudo isso aí.

Esse ponto fora da curva é exatamente o Centro de Cultura. Naturalmente de responsabilidade do Governo do Estado. Tivemos uma ação sistemática cobrando do governo e por uma tensão, por uma discordância entre o governo e a promotoria, a obra acabou atrasando ainda mais. O meu compromisso, o que assumi com a cidade, em parceria com o deputado Waldenor Pereira, foi de  colocarmos um recurso de 500 mil reais para fazer a reforma. Para executar essa obra que vai efetivamente resolver esse problema.

Falando um pouco mais da cultura em Vitória da Conquista, relembro outros momentos que tivemos, como a casa Régis Pacheco, que reformamos o ambiente para exposição permanente. Outros eventos na cidade, como gravação de cds do terno de reis, também contaram com nosso apoio. Ou seja, tivemos um pró ativismo presente nesse período. E agora temos novos desafios. Já estamos com dois novos projetos, um da transformação do espaço Madrigal e outro com a Casa Glauber. A casa no sentido físico, mas que por traz dele, desse sentido, existe o projeto da Kasa Glauber, com k, que é de um memorial, de um pequeno núcleo de artes cênicas, audiovisuais, com cinema no seu centro, memoria e cultura. O Centro de Cultura é um ponto fora da curva, mas que iremos corrigir imediatamente na próxima gestão.

MK: O Cine Madrigal  já foi um dos espaços mais valiosos dentro da vida cultural de Vitória da Conquista. Ele foi adquirido pela Secretaria de Educação no valor de um milhão e meio de reais. Há algum plano para ele, ainda mais sabendo que temos um pólo de audiovisual na cidade?

Zé Raimundo: Como nós já temos o inicio de um processo, vou socializar. A nossa ideia é de reunir os agentes, os atores interessados para definir a concepção arquitetônica do espaço do Madrigal. Qual melhor formato se adequaria para que ele se tornasse um espaço multiuso.  A partir dessa definição, pretendemos construir uma agenda, porque a depender do formato ele pode abrigar desde um pequeno memorial, um espaço de exposição, até uma sala mais conceitural, um teatro, um auditória, já que ali chega a abrigar 800 cadeiras. A arquitetura dirá de que maneira ele poderá ser melhor utilizado e adaptado.

A  partir daí é transformar, adequar alguns projetos, como o Mostra Cinema Conquista, para lá. Falando um pouco mais da Mostra, ela é uma referẽncia para o estado. Começou na minha gestão, quando consegui o apoio do Fundo de Cultura do Estado, junto com a Uesb. Transformamos a Mostra num espaço muito interessante para a juventude, para os estudiosos do cinema, para a interação da população local, trazendo grandes intelectuais do cinema, oficinas além de mostra de filmes.

É transformar o que já temos, uma significativa expectativa e pratica e presença do público, transformar isso em algo cada vez maior. Junto com a Uesb que tem o curso de cinema, um dos poucos do interior do Brasil. Não está como projeto concreto na minha diretriz de governo, mas é perfeitamente viavel transformar a Mostra num grande festival de cinema. Junto com o Festival da Juventude, transformar em algo mais projetado no tempo e no espaço cultural brasileiro. Porque efetivamente eu estava até imaginando, durante um mês, por exemplo, de Conquista ser a capital do cinema brasileiro. Algo ainda maior e que possa criar uma mistica em torno desse evento.

A Mostra não é um episodio solto no tempo. Ela é estruturada para antes e depois de seu acontecimento. Tem o Janela Indiscreta na Uesb, tem agora na rede municipal um projeto interessantissimo que é o Cinema nas Escolas. Enfim, são várias ideias para implementarmos no espaço do Madrigal. Para ele  ficar pronto eu não posso dimensionar fisicamente esse tempo porque passaria por uma maturação e, a depender da carga do projeto, talvez tenha que captar recursos e apoios externos. Mas eu diria que o mais significativo foi a preservação do espaço para que ele não fosse destruído, nem a memoria do cinema na cidade. Mas será o mais breve possível, trabalharemos para que seja disponibilizado ao nosso publico.

MK: No dia 16 de março desse ano foi entregue à Cãmara de Vereadores o projeto do Sistema Municipal de Cultura. Ele ainda não foi aprovado. O que está faltando para isso, como o senhor vai gerir a cultura na sua gestão e qual o orçamento destinado a ela?

ZR: O Fundo de Cultura cria uma institucionalidade para alcançarmos maior força tanto na captação de recurso, como também na programação cultural da cidade, que é uma programação democrática e plural. Os editais permitem que você democratize o acesso a projetos para vários gêneros e não apenas nos megas eventos e/ou numa certa linhagem mais comum ao publico. Já temos uma forte reivindicação das artes plasticas, da dança. O teatro, podemos dizer, já teve um suporte maior em tempos anteriores em função dos espaços. Para mim acho que um dos vetores da nossa ação, uma das centralidades deva ser também recuperar os espaços existentes e consolidar o publico em torno desses espaços. Veja, se nós conseguirmos recuperar o Centro de Cultura, a gente volta a ter um grande espaço, se nós construirmos o espaço do Madrigal, se nós, através da Casa Gauber, tivermos algo mais aconchegante e apropriado, então de cara Conquista teria varias opções para diferentes tipos de manifestação. Soma-se a isso o teatro da Uesb, o teatro de Elomar e ainda a Casa da Cultura.

A nossa crença é que hoje Conquista é uma cidade com 350 mil habitantes, com mais de trinta mil universitários, com um raio de influencia que vai para 40, 50 municípios e desses, um entorno de 20  30 vem pra cÁ nos finais de semana. Além de um polo econômico, de serviços, saúde e educação, Vitória da Conquista é também um polo cultural durante certos períodos, mas que pode se tornar permanente com a criação desses espaços culturais.

MULHER:

MK: O Partido dos Trabalhadores sempre teve a questão de gênero como pauta nos debates e políticas públicas. O senhor também possui uma mulher como candidata a vice prefeita, qual será o lugar e a visibilidade que a mulher ocupará na sua gestão?

ZR: No mesmo diapasão que me leva a entender a cultura como uma atividade relevante para a democracia, o gênero, a questão do gênero, é ainda mais radical. A minha geração presenciou o surgimento dos novos sujeitos, dos novos agentes políticos que foram exatamente os movimentos sociais oriundos do movimento ecológico, do pacifismo contra a guerra do Vietnã, do Black Power nos Estados Unidos, e uma dessas lideranças, um desses ícones, foi exatamente a Ângela Davis que, na Universidade de Colúmbia, aluna de Herbert Marcuse, trouxe para o debate a questão da raça, classe e gênero, chegando a ser candidata da República pelo Partido Comunista americano e teve 7% dos votos.

A partir daí esse movimento foi se alargando em vários países, claro que já existiam movimentos feministas, incluindo no Brasil, mas foi a partir do final dos anos 60/70 que houve essa grande explosão. E qual foi o nosso legado, o legado do PT e dos partidos democratas? Foi transformar os protestos inciais, os movimentos reivindicatórios, em politicas públicas. E hoje, em todas as dimensões, a mulher tem sido recepcionada com a questão do feminismo, do gênero, com muita força, que vai desde uma legislação protetora da mulher, às estruturas normativas judiciais, legais, policiais.

Pense, portanto, nas delegacias, varas especializadas, pense nos centros de acolhimento e proteção, ou seja, criamos uma rede de proteção à mulher que se encontra em situação de fragilidade, da mesma forma criamos um espaço na política. Fomos o primeiro partido a transformar em lei a representação da mulher nas estruturas partidárias e eleitorais, e a nossa última resolução defende a paridade. Adicionalmente, também criamos as políticas compensatórias, de inclusão, essa coisa de você deixar a escritura na mão da mulher, as mulheres que recebem o Minha Casa Minha Vida, por exemplo. Os terrenos que doamos aqui foram para o nome das mulheres da família, porque na situação jurídica, muitas delas não tinham segurança. Observe a grande transformação que foi feita nas estruturas das hierarquias de governo, muita coisa também foi criada, inclusive um ministério, uma secretaria em salvador, e aqui também foram criados órgãos específicos para implementar a política das mulheres.

É nesse contexto que será nosso próximo governo, se o povo de Conquista me delegar. Estarei junto com Sidélia, que é uma mulher que vem da luta pessoal familiar. Ela é uma mulher empresária de serviços, tem uma militância na defesa das crianças e adolescentes, de combate a dependência de drogas, já trabalhou no CREAME e na FAMEC, além do Rotary Girassol, ela tem uma vida de militância. Uma pessoa simples, mas dedicada, batalhadora, ela vai me ajudar com essa questão. Inclusive nessa área do empreendedorismo voltado para mulher e também juventude.

Nós queremos criar uma linha no Banco do Povo para apoiar os jovens e as mulheres. A linha é genérica, mas sabemos que as mulheres têm muita vocação, sentido para a administração, desburocratizando, permitindo. Nós vamos ter uma política geral, mas com recortes específicos: mulher negra, camponesa, em situação de vulnerabilidade social, assim por diante. Conquista tem hoje uma grande estrutura dedicada a defesa das políticas de compensação, inclusão, e aí vem o debate ideológico que não é função direta do governante, porque ele cria as condições culturais para que a sociedade entre em cena combatendo o machismo, o conservadorismo.

A última pesquisa sobre o comportamento do homem brasileiro tem números assustadores, as conclusões que as pesquisas chegaram do conservadorismo, machismo do homem, é que nós vivemos numa sociedade muito conservadora que precisa ser combatida, mas isso não é função apenas do governante. Os agentes têm que entrar em cena com muita força do simbolismo e dos valores ideológicos.

MK: Fazendo um recorte, como será a assistência às mulheres jovens e que tem filhos? Haverá auxilio de creches, cursos profissionalizantes?

ZR: Sempre que realizamos o debate de gênero, é ele, o gênero mais alguma particularidade. É a mulher, mulher jovem, mulher jovem e mãe e suas inúmeras variações.  Esse retrato vai precisar cada vez mais aumentado. Precisamos saber exatamente quais as situações mais delicadas. O nosso principal alvo da vida coletiva é diminuir os carecimentos humanos, materiais, subjetivos, psicológicos, etc. Não passar fome, ter onde morar, ter acesso a cultura, a educação, criar mecanismos e espaços de empregabilidade, não se violentar para estar na sociedade, não se deixar ser corrompida pela força da inercia da exclusão.

A exclusão é uma força poderosíssima e inercial. Ela leva as pessoas a uma não ter vontade, a não ter distinção, os estudos de Jesse de Souza mostra muito isso, como nas periferias as pessoas foram, de certa maneira, relegadas , incapazes de ter vontade de agir. Essa é uma energia que a educação promove, que as religiões, de certa maneira, promovem. Impulsionando as pessoas para a vida coletiva. E ai as politicas públicas tem que reportar isso de forma muito clara.

Melhoramos muito em alguns quesitos. Diminuímos na cidade o índice de gravidez na adolescência e isso já é muito positivo. Hoje em dia, 99% das mulheres vão para o parto tendo passado pro consultas, por um Pré Natal bem acompanhado. Nós também temos o cadastro único, são 50 mil famílias que trabalham com ele. Dentre elas, 26 mil tem o Bolsa Família. Temos também oito CRAS e quatro CREAS, que são centros de referencia para cuidar da assistência social.  Nós temos o Centro de Apoio dos Direitos da Criança e do Adolescente, que possui o juizado da infância e adolescência, o Ministério Público, a Defensoria Pública, o Conselho Tutelar. Todos os programas estão integrando essa rede de proteção , portanto diminuindo aquela situação dramática e a partir dai criando politicas afirmativas e de engradecimento material.

Também temos cursos para formação profissional. Há mais de duas mil vagas nos dois centros estaduais e nos programas do governo. Formamos mil jovens no Qualifica Conquista. É politica geral, mas dentro desses você pode ir chamando a população e colocando-a nessa promoção de afirmação

MK: E em relação às mulheres trans, parcela que vem crescendo consideravelmente na sociedade. Quais as politicas públicas voltadas para ela? Já existem projetos e como inseri-las socialmente?

ZR: Na verdade nós já temos projetos, políticas públicas voltadas para elas, mas pretendemos adensar ainda mais. Nós  temos uma estrutura que cuida da população LGBT , uma coordenação que trabalha com situações diversas de violência e qestões de saúde. Já possuíamos isso anteriormente no DTS/AIDS. O órgão já cuidava dessa programação, orientação e estrutura. Ele ainda funciona e dá bons resultados. É claro que sempre se quer mais e por isso, a partir de um diagnostico, de uma demanda especifica, nós vamos aumentar a capacidade de atendimento desse grupo.

JUVENTUDE:

MK: Vitória da Conquista é a sétima cidade do Brasil com índice de genocídio da juventude negra nas periferias. Sabemos que isso está atrelado à truculência policial e ao narcotráfico. Como o senhor analisa essa situação e quais as políticas públicas para sanar esse alto índice?

ZR: Esses dados são extremamente preocupantes para toda a sociedade. Nós acompanhamos o mapa da violência no Brasil e eu tenho acompanhado como deputado estadual o relatório do Pacto pela Vida. Mesmo porque o coordenador do programa  é um sociólogo, o professor César Lisboa, que propõe os programas e as medidas de de analise, de estrategia para diminuir esses índices.

Além disso, como prefeito que fui da cidade, acompanho também aqui as politicas de Vitória da Conquista. O que nós temos constatado efetivamente é que a questão do narcotráfico tem centralidade nesses índices. Não só em Conquista, como no restante do país e, princopalmente, nas cidades do nordeste. O Governo do Estado vem com uma política de melhoria da estrutura policial que passou pela nova lei orgânica da policia militar, onde eu fui relator. Com isso conseguiremos trazer para a cidade o comando regional, uma companhia de policiamento rural, comando de operações táticas e um esquadrão de motociclistas. Além de mais equipamentos e estrutura de base. Já temos a base comunitária, que diminuiu muito nessa área a questão da violência contra jovens negros. Mas  na cidade como um todo esses índices são muito ruins.

Além desse reforço policial, estamos focando e intensificando as politicas sociais. Nós já tínhamos, mas agora o governo está com dois grandes programas que é o Corra Para o Abraço e o Neojiba. Outras ideias estarão chegando, junto com a parceria das prefeituras, em que haja mais espaços públicos, centros de convivência e inclusão. Dentro do CRAS, temos o núcleo de fortalecimento dos laços familiares. Vamos levar isso também para o Minha Casa Minha Vida e para os bairro de maneira geral. Com esportes, cultura, lazer para essa juventude. Nessa mesma direção nós temos 11 quadras poliesportivas sendo inauguradas no entorno da cidade. Ou seja, reforçando  cada vez mais os laços de solidariedade e pertencimento desses grupos para que eles se sintam mais distantes do apelo do narcotráfico.

Nesse ambiente também surge a questão da qualificação profissional. A nossa intenção é redobrar o numero de vagas para o Qualifica Conquista, dando a possibilidade do primeiro emprego, primeiro trabalho. O governo de Rui Costa criou dois programas importantes: nas universidades publicas são dez mil alunos com cadastro único , ele criou uma bolsa de permanência dos alunos nas universidades e criou também o primeiro estagio para o aluno da escola publica, que portanto vai tá em todos estado da Bahia.

Outro ponto é como tem sido o comportamento da polícia em relação a essa população jovem e negra. Aqui no nordeste, claramente há uma relação entre pobreza x etnia x violência. Isso tem sido objeto de uma reflexão dentro do governo, na Secretaria de Direitos Humanos. E aí é um componente que eu quero introduzir aqui na cidade, na Secretaria de Desenvolvimento Social. Eu quero criar um espaço também para o debate dos direitos humanos. A nossa ideia é criar uma guarda municipal preventiva para estar nos espaços públicos, para estar guarnecendo a porta das escolas, o vídeo monitoramento que o governo já tem ai, criando uma especie de inibição para determinados crimes e convivendo , esse talvez seja o nosso grande desafio, com a cultura da paz dentro da policia militar.

A minha proposta é de criar um gabinete de gestão da segurança publica. Isso tá previsto nas normas nacionais, que qualquer prefeito, tendo as estruturas, ele pode criar um gabinete de gestão compartilhada com as autoridades civis, religiosas, para discutir. Pode-se criar também um observatório da violência. Incentivar essas pesquisas para melhor orientar as políticas públicas nessa área. Mas fica ai esse grande desafio, como a policia ser um poder de coação, um poder de força que a sociedade precisa, dessa força simbólica e material, mas sem desrespeitar, sem violentar os direitos humanos e proteger de fato a vida, que é o objeto maior da segurança publica. Isso é um desafio permanente e não tem formula, tem é atitude. A minha eu vou ter.

MK: Em o senhor assumindo a prefeitura a Coordenação de Juventude permanece? E, se sim, quais os programas para dar maior visibilidade a certas juventudes, como as da periferia da cidade?

ZR: A coordenação permanece e, se possível, cada vez mais forte. Cada vez mais vitaminada, com mais estruturas, ações, direções, enfim. Olha, a juventude periférica, surge a questão: juventude é uma categoria genérica e abstrata que ganha concreticidade quando se desce para o chão da sociedade. Você tem juventude camponesa, LGBT, da periferia e assim por diante. Na verdade a política  para juventude são políticas para juventude. Eu tive uma experiencia aqui, na minha primeira gestão, que foi extraordinária. Foi com o Movimento do Hip Hop, que chegou a reunir mais de 300 jovens e contou com a vinda de algumas lideranãs como o MV Bill.  Fizemos conferẽncias, debatemos e foi tudo muito proveitoso. Nós construímos uma rede de convivência. Acho que um dos caminhos é esse retorno dos espaços públicos da periferia que já temos. Ampliá-lo cada vez mais com campos de futebol, quadra poliespotiva, transformando no espaço da cultura, convivência e lazer dessa juventude. Ambientes de pertencimento. A juventude negra que tem sido uma grande vítima social. A nossa grande meta é diminuir essa violência imediata e trazer para essa cena mais pública, mais compartilhada esse contingente.

Se você observar bem, a cidade, eu sempre digo, a cidade precisa de festa, de feira, de mercado, de estadio, de teatro, de avenida, de ciclovias, de passeios, de praças, porque é ali que a gente se encontra. O Natal da Cidade, talvez tenha sido, ao longo desses anos, o maior evento multicultural, policlassista onde todos convergem, da classe media alta às pessoas mais simples. As festas religiosas também. As pessoas se encontram na cidade. Então nós temos que ter festividade no sentido cultural, o que difere do oba oba, do gasto publico, da orgia.

É a forma de você estar em uma república.  Se você faz uma cidade mais integrada, ela vai ser mais segura. Se você aparta geograficamente, você vai ter varias cidades e vários tipos de segurança. É claro que cada grupo social procura o melhor para si e seu conforto, mas corremos o risco de termos aqui a cidade dos condomínios, dos prédios e a cidade dos que não tem onde ficar nas ruas, nas praças. Isso é muito perigoso para o futuro. Não para o meu ou os próximos governos, mas para uma visão de mundo que temos que  cada vez mais reinserir no pensamento da politica.

A cidade tem que ser o espaço da liberdade e não o espaço da opressão ou do medo. Ela já foi o espaço da liberdade. Temos que lutar para que ela não se consolide como o espaço do medo. Quanto mais apartheid houver, mais perigosa a vida fica. Quanto mais integração houver, mais segura é a cidade. Inclusive os grupos dominantes precisam exercer sua força simbólica sobre os grupos subordinados. Porque historicamente, uma classe dirigente que não tem um projeto para os grupos subordinados, ela está condenada ao fracasso. E aqueles que se libertam da opressão tem que libertar seu opressor. Ele tem que afirmar que a opressão não é boa nem para o oprimido nem para o opressor. O ato libertador é o ato em que ambos se libertam. Essa filosofia precisa ser enraizada na construção da cidade, e ai entra a juventude periférica, a juventude negra e todos os outros desdobramentos de juventude. A juventude tem que ser vista como algo de futuro e não de medo.

*A reportagem entrou em contato com a assessoria do candidato Herzem Gusmão (PMDB). Estamos aguardando o agendamento da entrevista



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