Conquista: Uma breve opinião sobre as eleições e análise das campanhas políticas

Por Mariana Kaoos

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O papo é o seguinte: Como todos sabem, nesse próximo domingo, 02 de outubro, estaremos passando por um processo democrático de eleições diretas, onde iremos escolher as nossas novas lideranças do município. Importante frisar que não iremos eleger apenas prefeitos e vereadores, mas sim projetos políticos de sociedade pertencentes a partidos específicos que transitam entre pautas progressistas e conservadoras. Ou seja, por traz dos nomes, das figuras públicas que subirão ao poder estará a mão, gigante e invisível a olho nu, da ideologia e dos processos de disputa, hegemonia e totalitarismo.

Esse ano, em particular, tivemos algumas peculiaridades no cenário político nacional que causaram uma ruptura, uma dicotomia de lados, intenções e interesses. É evidente que toda essa crise de representação identitária também desaguou a nível local. Aqui em Vitória da Conquista, não sei se a complexidade do processo ficou visível nesses 45 dias de campanha. Na verdade, muitíssimas coisas, pelo menos para mim, mulher, jovem, jornalista, militante e eleitora, não ficaram claras.

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Quando trabalhamos em uma campanha política, vivemos tudo de maneira intensa e temos uma falsa impressão de que a comunicação gerada está chegando, atingindo todos os públicos, toda a população local. A bem da verdade é que isso é conversa para boi dormir. Após trabalhar em duas campanhas consecutivas, passei por essa apenas enquanto eleitora imparcial, tentando me distanciar o máximo possível das minhas paixões e escolhas políticas no intuito de analisar os candidatos de maneira coerente e isenta. Para a minha grande surpresa, finalmente descobri que não sou, enquanto mulher, jovem e militante cultural, público alvo de nenhum dos candidatos para prefeito da cidade.

A comunicação de todas as campanhas foi fraquíssima em conteúdo e até mesmo, pasmem vocês, estética e criação. Os formatos dos programas de televisão seguindo os moldes do tempo do bolinha: quadradíssimos, caretas e com um discurso raso, vazio, sempre estruturado na base do ataque/defesa. A equipe que melhor se destacou nessa questão do audiovisual, com imagens e tomadas interessantes, foi a do candidato Fabrício Falcão (PC do B). De resto, tudo mais do mesmo.

O material panfletário, por sua vez, de uma mediocridade absurda: Muitos ataques, inclusive pessoais, uns com os outros. Propostas? Quase nulas. Comícios? Muito vazios. Até mesmo a campanha virtual (que vem se tornando o grande filão de comunicação e de marketing contemporâneo) foi chula. Pouquíssimas adesões dos internautas/eleitores nas redes sociais e extrema falta de paixão. É isso, diferentemente de outras campanhas, como a de 2010 para presidente e 2012 para prefeito, essa foi morna, desinteressante quando, no final das contas, era para ser justamente ao contrário nesse frágil e delicado momento político e democrático brasileiro.

Bom, fazendo uma breve análise do que me toca e puxando a sardinha para o lado de cá, após esses 45 dias de campanha, concluo que eu não sou de interesse de nenhuma delas. Real oficial. Inclusive nada chegou até a mim. Tudo que vi e analisei foi fruto do meu trabalho em procurar um pouco mais sobre os candidatos. Não vi nenhum deles debatendo e, acima de tudo, propondo políticas públicas para mulheres, juventude e cultura.

Qual a solução mesmo para o descaso com o Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima? E o Madrigal, espaço valiosíssimo para a cidade, que foi comprado no valor de um milhão e meio de reais pela secretaria de educação e está abandonado todos esses anos? O Sistema Municipal de Cultura foi aprovado pela Câmara de Vereadores, mas e aí, que candidato falou sobre o projeto e pretende, de fato, toca-lo adiante? O Festival da Juventude morreu? Quais as políticas de enfrentamento contra o genocídio da juventude negra que está morrendo nas periferias da cidade? Cadê os espaços de, pela e para a juventude espalhados na cidade? E as pautas relacionadas às mulheres? Sei que alguns candidatos se reuniram com lideranças dos movimentos de mulheres, mas alguma proposição surgiu a partir disso? Como reagir frente a onda de estupros e de feminicídio que ocorre em Vitória da Conquista? Onde e quantas mulheres estão no lugar de comando dos cargos públicos da cidade?

Ou eu sou louca e deixei passar todas essas pautas nas propostas dos candidatos, ou nenhum deles realmente pouco se preocupou em debater e propor em cima delas. E como votar para prefeito e vereador nesse próximo domingo se nenhum deles me representa, tampouco atende às minhas demandas sociais? Votar no “menos pior”? Mas quem é mesmo o menos pior no meio dessa escassez de conteúdo nos projetos políticos?

No intuito de polemizar o debate e dar voz a outros pensamentos e percepções, convidei outros três excelentíssimos jornalistas para uma breve análise desses quarenta e cinco dias de campanha. Segue abaixo suas impressões:

 

Mary Weinstein – Jornalista e professora de curso de Comunicação Social da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia:

Não é possível falar de jovens sem fazer uma associação direta com a cultura, que os representa. Os jovens, que são os adultos em formação, sabem que cultura é a base real de construção porque é nela que acontecem a identificação e o diálogo. Nesta campanha ouvimos pouco sobre cultura – sobre produção e consumo. Cultura não se refere estritamente à apresentação de artistas do mainstream, de artistas que reproduzem ou que integram harmoniosamente a parte da indústria cultural mais selvagem, mais massificada. É preciso pensar na cultura feita na primeira pessoa, nas oportunidades de ter a cultura dentro e fora da gente, de uma maneira que ela faça parte da rotina de construção do indivíduo e de forma consciente. Entretanto, Conquista tem poucos espaços para essa aglutinação, para catalisar todas as possibilidades que pedem para serem potencializadas e que, ao contrário, ficam represadas, sem terem centros de produção cultural que poderiam ser ativos e dinâmicos todos os dias.

Vitória da Conquista congrega jovens de várias cidades especialmente porque tem diversos atrativos, inclusive duas universidades importantes. Mesmo assim, o que se viu durante a campanha dos candidatos ao legislativo e ao executivo municipais apenas pincelou o universo desses eleitores. Os jovens, de um modo geral, estão em estado de alerta em relação à política e ao lugar onde vivem, especialmente depois dos últimos meses no Brasil. Eles vislumbram que o futuro é o desdobramento do presente. E eles sabem claramente que a cultura é a forma de dialogar, de entender o outro e de criar meios para uma convivência nas cidades cada vez mais caóticas.

Em Conquista, os jovens têm um senso crítico bastante aguçado porque suas compreensões, seus anseios, são trabalhados diariamente nas universidades. Existe uma reflexão constante sobre os efeitos da política, que são sentidos na hora em que a tradição de um centro de cultura tem que ser interrompida, que suas atividades se tornam limitadas e que isso é aceito tranquilamente sem que providências imediatas sejam requeridas, não importando a qual instância o equipamento pertença.

Caique Santos – Jornalista do site Núcleo de Notícias:

No geral os candidatos pouco extraíram do enorme potencial das redes sociais. Apesar de todas as restrições legais que este ano o TSE impôs sobre as mídias de massa, a internet foi a que ficou mais livre para ser utilizada sem tanta moderação. Uma mídia de baixo custo, que pode ser facilmente direcionado para o target desejado e que permite maior criatividade. No entanto, o que vimos foram campanhas nos velhos moldes, sem inovação, plastificada,  repleta de clichês e com retórica pífia.

As pautas mais pertinentes aos jovens foram ignoradas. Em Vitória da Conquista, uma cidade extremamente carente de opções de cultura e lazer, o Centro de Cultura permanece há anos fechado, sem previsão de funcionamento e não vimos nenhum candidato falando seriamente sobre isso. Não percebi nas campanhas a preocupação em ganhar o voto das juventude. O abismo entre políticos e jovens só faz aumentar. Isso é preocupante.

Rafael Flores – Jornalista da Revista Gambiarra:

Diferente de 2012, as campanhas de Conquista esse ano pouco se preocuparam com a parcela jovem do eleitorado – o que acho uma bobagem, já que é comumente nesta galera que se encontram a maioria dos indecisos. As campanhas no geral foram caretas e padronizadas, bem diferente do que temos visto nas capitais – não só no Rio com Freixo, mas até a campanha de ACM Neto em Salvador consegue atrair atenção pela sua linguagem.

Importante lembrar que quando falamos de pautas para a juventude, não estamos falando só de cultura e esporte. Por exemplo, nenhum candidato consegue propor segurança pública a partir da perspectiva da juventude, que no final das contas é quem está morrendo. Só se fala em montar a guarda municipal, mas não se pensa nas consequências disso pros jovens negros, que já são diariamente massacrados pela violência.

OBS: Me questionaram dia desses o porquê de quase nunca sintetizar e concluir grande parte dos meus textos. Respondi que é preciso ter cuidado, já que o ato de concluir algo, geralmente, vem acompanhado de indução. Sendo assim, deixo aqui em aberto para que você, leitor, possa fazer suas próprias análises e questionamentos e, a partir disso, encontrar o ponto final, ou, quem sabe, o ponto continuativo para que mais palavras, diálogos e análises possam surgir de agora em diante.



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