Falar de promoção à vida e prevenção ao uso de álcool e outras drogas para os jovens é hoje uma necessidade de toda a sociedade. Um processo educativo que deve envolver não só pais e professores, mas também profissionais da área de saúde mental, como psicólogos.
E em Vitória da Conquista e Barra do Choça já existem bons exemplos desta realidade. Desde o início de setembro, um projeto de extensão do curso de Psicologia da FTC (Faculdade de Tecnologia e Ciências) vem trabalhando com 71 estudantes em grupos de conversa sobre o tema.
O projeto “Psicologia de grupos – Prevenção em álcool e outras drogas” é desenvolvido por alunos do curso de Psicologia (do 8º ao 10º semestre) e supervisionado pela professora Ariana Santana.
Em Conquista, o projeto ocorre no Instituto Federal da Bahia (IFBa) e em Barra do Choça no Colégio Estadual Dária Viana de Queiroz – em ambas instituições, o público alvo são alunos do ensino médio. A ideia do projeto nasceu da percepção quanto a necessidade de introduzir mais a psicologia no cotidiano dos estudantes.
Pesquisa
“Queremos adentrar estes espaços, pois o psicólogo não está inserido em alguns contextos. O Estado e os municípios, geralmente, contratam apenas um psicólogo, não tem como contemplar todas as demandas”, observou a professora Ariana Santana.
Antes de iniciar o projeto, diz a professora, foi identificado em pesquisas de campo que os adolescentes estão começando muito cedo o uso das drogas. Por coincidência, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou em agosto uma pesquisa que mostrava que estudantes de 12 a 16 estavam começando mais cedo o uso de álcool e drogas do Brasil.
“A porta de início é com a interação entre grupos, e isso ocorre, sobretudo, no momento escolar. Nossa proposta é fazer algo para prevenir o uso e quando identificá-lo dar o encaminhamento para essa criança ou adolescente para rede do município, oferecendo o suporte adequado, que envolve oficinas, dinâmicas de grupo, etc. Vamos construindo com eles conhecimento sobre o que são as drogas. Buscamos mostrar que não são apenas as drogas que proporcionam momentos de prazer”, disse a professora.
Ao menos 1,5 milhão de estudantes (55% do total) do 9º ano (antiga 8ª série) já haviam consumido uma dose de bebida alcoólica alguma vez, aponta a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, a Pense 2015. A porcentagem deste ano é maior do que a Pense 2012 – 50,5%, que corresponde a 1,6 milhão de alunos.
A proporção dos estudantes do 9º ano que já experimentou drogas ilícitas também subiu em relação à pesquisa 2012, ao passar de 7,3% (230,2 mil) para 9% (236,8 mil). Com relação ao consumo atual de álcool e drogas ilícitas, respectivamente, 23,8% (626,1 mil) e 4,2% (110,5 mil) dos estudantes do 9º ano tinham feito uso dessas substâncias nos últimos 30 dias antes da pesquisa.
Programas de educação
Os estudiosos da Pense 2015 avaliam que o uso do álcool “é um fenômeno cultural e de marketing”, numa sociedade em que “para você ser homem tem que ficar bêbado, como se fosse um ritual de passagem”. Para os pesquisadores, “o Brasil precisa realmente de programas de educação em saúde com metodologias apropriadas para o adolescente”.
É o que pensa também a psicóloga e especialista em Saúde Mental Angélica Rosa, coordenadora do curso de Psicologia da FTC Conquista. A professora analisa que algumas escolas não têm feito um papel educativo adequado, trabalhando com a promoção da vida e a prevenção do álcool e drogas de forma muito pontual.
“E trabalhar com álcool e drogas não é algo pontual, como fazer uma vez por ano ‘A semana de prevenção de álcool e drogas’. O assunto pode ser trabalhado de várias maneiras na escola durante o ano. Quando a gente fala de saúde mental e de profissional que possa ter um trabalho diferenciado, estamos falando dessa constante promoção”, explicou Angélica.
Outro ponto importante que a professora destaca desse processo educativo nas escolas é com relação às palestras, as quais, a depender de como são feitas, podem ter o efeito contrário do desejado.
“Falar apenas o que é a droga e os efeitos dela é um tipo no pé. Se você fala que o crack tira a fome, um adolescente que está querendo emagrecer pode querer usar aquilo para alcançar seu objetivo; da mesma forma alguém que quer engordar pode querer usar a maconha, que dá fome. Álcool e drogas têm de ser trabalhado pelas beiradas, com cautela, não de frente”, acrescentou.
Participação
No IFBa, em Conquista, 11 alunos participam do projeto, recebendo orientação das estudantes do 10º semestre de Psicologia, Angélica Louise Ribeiro Amorim e Ninália dos Santos de Almeida – 23 anos as duas.
“Agregamos conhecimento e juntos construímos uma ideia com eles. Muitos tiveram preconceito com o grupo, mas os que estão lá participam de forma ativa e com conhecimento maior até do que o que esperava”, destacou Angélica.
“Nas conversas, temos observado a percepção deles quando as políticas públicas de divulgação sobre drogas, as quais, muitas vezes acabam incitando o uso ao invés de prevenir. Não estamos lá para dizer ‘não usem drogas’, mas para construir uma educação para a vida, o que diretamente já evita o uso”, acrescentou Ninália.
Bem aceito por toda a comunidade escolar, o projeto tem sido elogiado no Colégio Estadual Dária Viana de Queiroz, onde 60 alunos divididos em quatro turmas dividem problemas cotidianos com alunas da FTC e, alguns deles, relatam suas experiências com o álcool e as drogas.
O quadro desenhado pelos alunos se assemelha ao do início deste texto: insegurança, tristeza, problemas familiares, o não querer lidar com medos, o que os faz buscar uma fuga da realidade por meio das drogas. Mas o projeto tem ajudado os alunos a se sentirem melhores e mais esclarecidos, segundo disse a diretora do colégio, Maria Aparecida Barbosa de França Carvalho.
“Já podemos notar em alguns deles que a atenção mudou nas aulas, o que vai, consequentemente, refletir no desempenho. O projeto está sendo ótimo em todos os sentidos”, ela disse, informando depois que está buscando trabalhar o projeto com os pais dos alunos e a comunidade escolar em geral. “É um assunto que pode afetar a todos, por isso esperamos que ao final do ano possamos estar bem melhores”, finalizou.