Sudoeste baiano: Suposto Policial Militar agride casal de lésbicas

Por Mariana Kaoos

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Um suposto policial militar lotado da cidade de Paramirim, Sudoeste baiano, vem sendo acusado de agressão a um casal de lésbicas. O ato teria ocorrido na tarde do dia 1 de agosto, enquanto o casal abordava o senhor para vender seus produtos alimentícios. Confira abaixo o relato de Maiane Mithielle, uma das agredidas:

“ Venho por meio desse texto relatar subjetivamente o episódio pelo qual eu e minha companheira passamos no dia primeiro de agosto. Segunda Feira, por volta das 15:OO horas ,rotineiramente, saímos eu e Thais, minha companheira, para trabalhar com a venda de nossos produtos. Até então, sequer poderíamos supor o mal que a nós se sucederia. O mal irremediável que viria mudar todos os nossos planos, o mal que está afetando não só o nosso sono, o nosso corpo, a nossa alma, a nossa integridade de mulher, o nosso livre arbítrio, a nossa paz e principalmente o nosso direito a respeito, porque queridos amigos e leitores, Afeta! Afeta ao íntimo.

Como de costume, abordamos clientes todos os dias oferecendo o nosso produto. Tendo o ‘NÃO’ como uma válvula de escape para buscarmos pelo sim, abordamos então um senhor que trabalha como policial militar da cidade de Paramirim. Como nos revezamos mediante as vendas, Thais iniciou a abordagem oferecendo a ele então o nosso produto e obtendo então como resposta, um comentário pretencioso: “Já terminou de vender o seu peixinho?’’. Possivelmente supondo em seu pensamento machista e malicioso, que Thais poderia oferecer a ele algo além do que o intencional. Em resposta ao seu machismo ela disse: “Não sou vagabunda, estou trabalhando e sou estudante, respeite meu trabalho”. Embora tudo tenha sido muito rápido, sem prever a agressão e se encaminhando para sair do local, Thais teve como resposta a brutalidade e a violência. O indivíduo levantou-se e, sem oferecer direito a um escape, agrediu Thais com um soco no rosto. Ao ver a situação, motivada por revolta e desespero, corri para tentar defende-la e fui também agredida com socos no rosto e estômago junto à palavras de caráter homofóbico. Tivemos como resultado de um dia de trabalho escoriações pelo corpo e rostoe meu dente parcialmente quebrado.  Passei aquela noite no hospital a base de calmantes e, segundo ao laudo médico, tive também fratura no tórax. O sentimento em mim era de anestesia existencial e o mesmo sentimento segue, embora possuímos fragmentos de esperança e força para lutar por justiça, através de amigos, familiares e seres humanos como nós que inconformados travaram essa luta com a gente.

Afinal nós fomos o reflexo de uma ‘’cultura machista’’ que todos os dias fazem vítimas e que ao final, de modo artificial, se tornam apenas números, estatísticas em um noticiário. Mas hoje nós, diante a uma experiência tão próxima, tão real, sabemos, que a violência não causa somente escoriações, dor física e comprometimento estético, sabemos que vai além. Hoje quando me olho no espelho as escoriações são apenas portas para refletir o estrago maior interior. Tive o sentimento de vergonha e humilhação quando resolvi falar, quando resolvi expor em textos e fotos aos meus amigos, senti uma enorme vergonha da exposição, mas fugindo ao ego social sabemos que existem coisas maiores e que não podemos nos calar mesmo diante da vergonha, por temer tanto e sermos hoje parte de uma estatística.

Procuramos os órgãos responsáveis para registrar queixa: Policia Militar, Civil, Corregedoria da Polícia Militar e Ministério Público. Sabemos também que as burocracias para dizer que somos mulheres, que fomos agredidas por um Homem, um Homem ao qual pagamos seu salário através dos impostos, impostos a nós todos os dias. Tais burocracias também existem nesses casos, mesmo com o sentimento de urgência em gritar a todos, gritar principalmente aos órgãos públicos responsáveis, à sociedade, às mulheres, aos pais e mães que temem todos os dias a violência contra seus filhos, ela existe! E talvez, lamentavelmente segundo autoridades especializadas no caso, terminará em cesta básica ou serviço comunitário”.



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