Tome Nota: Eleições politicas, briga de leões e tempos difíceis para os sonhadores

Por Mariana Kaoos

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Minhas amigas e meus amigos, em verdade eu vos digo: São tempos difíceis para os sonhadores. Estamos aqui, dia após dia, assistindo do chão os lobos se digladiarem lá no camarote em nome de nós, servos, hienas, veados, povo brasileiro, ops, bichos mil dessa selva perigosa onde, cada vez mais, temos menos poder de voz no meio dessa briga sedenta de gigantes.

As feras do leste, após muita estratégia e jogo de poder, impuseram goela abaixo um golpe em toda a selva. A justificativa foi de que os bichos não estavam tendo um governo que atendesse às suas demandas, ou seja, um governo incapaz de gerir o ambiente que nos cerca. Disseram que essa intervenção era conosco, por nós e para nós. Bom, de certo que a casta, boa parte da nata da sociedade animalesca concordou, apoiou e foi às ruas a favor dessa medida extrema, cujas intenções eram as melhores possíveis: Todo mundo gente boa, do bem, contribuindo para a ordem e o progresso da selvagem pátria amada.

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Já as feras do oeste utilizaram-se desse momento para levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. De certo que o golpe aplicado pelas feras do leste foi inconstitucional, arbitrário, uma afronta aos direitos e à jurisprudência animalesca. Ainda que houvesse inúmeras falhas, desacordos, corrupção e outras mil coisas na gestão das feras do oeste, era e é por direito deles governar pelo tempo estabelecido. Mediante a atual conjuntura, as feras do oeste denunciaram o golpe e alegaram, nos quatro cantos da selva, que isso era uma afronta contra a democracia.  Um dos principais argumentos foi que nós, massa animalesca residente das periferias da selva, pertencentes a grupos minoritários e despojados de poder econômico e social, iriamos sofrer diretamente os retrocessos que acompanham o golpe. Nisso eles estavam certíssimos.

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As feras do oeste se dizem pertencentes às massas, a favor delas, a favor de nós. É inegável os avanços que obtivemos nos últimos anos. De fato milhares de bichos saíram da miséria, passaram a ter um acesso melhor à educação, saúde, saneamento básico. Progredimos em projetos que, armengados ou não, contribuíram para uma mínima, mas ainda assim, ascensão social. Mas nem tudo são flores. As feras do oeste prometeram, fizeram juramento de dedinho cruzado e sorriso no rosto, que passariam a dialogar mais com os movimentos sociais e com os bichos no geral. Se isso aconteceu? As irônicas hienas podem responder através de suas risadas estridentes: HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA.

Não sejamos bobos. É obvio que isso não aconteceu. Pelo contrário. A bem da verdade é que fomos afastados de todo o processo. Vejam só vocês: Até mesmo uma lei anti terrorismo, que pode a qualquer momento voltar-se contra os movimentos sociais, foi aprovada. E olha que isso é o mínimo do mínimo. Bom, voltando ao assunto principal, agora as feras do oeste estão correndo trecho, requisitando o nosso apoio, povo bichano, para continuarmos “avançando” no que eles chamam de benfeitoria para a selva gigantesca.

No meio disso tudo, adivinhem só, é ano eleitoral. Isso mesmo. Em outubro iremos votar nos novos líderes para prefeito e vereadores dos condados da selva. Desde já vos afirmo que os jogos estão postos. As feras, de ambos os lados, já criaram seus planos de batalha. Muitos ataques, contra ataques, mísseis, agitação, exaltação, propaganda ou, falando numa linguagem mais popular, tiro, porrada e bomba. Cada qual já montou suas enormes trincheiras e não se enganem: Tudo, absolutamente tudo pode sair delas.

As grandes questões dada nesse instante são duas: a primeira é que quem se encontra exatamente no meio delas, das trincheiras, somos nós, massa animalesca. Ambos os lados nos puxam, mas a bem da verdade é que quando começar o tiroteio seremos nós os maiores feridos. A segunda questão é que, embora muitos desconheçam, ou simplesmente não queiram ver, as feras do leste e as feras do oeste possuem aeronaves de ponta, preparadas para decolar no campo de batalha do “inimigo” quando for conveniente. Ora bolas, esmolas! No universo político vale de tudo, não é mesmo? Se hoje somos oponentes, amanhã possa ser que nos tornemos aliados. Tudo depende dos interesses, das ambições e da sede de poder, que sabemos, é voraz.

Portanto, pegando emprestado um verso do grande e atento compositor Zeca Baleiro, “não sou boi que vai pro abate”. É preciso que fiquemos em alerta total para os discursos inflamados, para as intenções mil e para as manipulações que virão nesses próximos dias turvos.

A minha atual percepção desacreditada de bons princípios e de que, no fim, são todos iguais, não precisa ser a de vocês. Que tenhamos a consciência de que, para esse ano, as feras do leste e as feras do oeste mandaram bordar umas fantasias, umas peles majestosas de cordeiro que sensibilizam qualquer um. Contudo, até mesmo a mais elaborada das roupas não é indestrutível e sempre esconde um botão, um zíper em alguma parte dela. É preciso que encontremos a coragem e a capacidade de arrancar essas fantasias e enxergar os lobos por traz da pele de cordeiro.

 



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