Tome Nota: Glauber Rocha, St. Patrick’s Day e o que vem por aí na cena conquistense

Por Mariana Kaoos

Tudo mega bom, giga bom, terá bom:

Barravento é um filme baiano do ano de 1962, dirigido pelo cineasta Glauber Rocha. Ele foi filmado em Salvador, mais precisamente em Itapoã. Sua narrativa gira em torno de um universo já conhecido, cantado e escrito outrora por figuras como Dorival Caimmy e Jorge Amado. Sim, é isso mesmo que você está pensando: Barravento retrata a vida perto do mar, o simbolismo e a representação de Iemanjá, bem como o dialogo com o Candomblé, e a relação do homem pescador. A grande sacada é que, no filme em questão, a relação homem x pescado traz, ainda que de maneira sutil, um cunho político social, de subsistência, e não apenas aquela visão romantizada da coisa.

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Todo em preto e branco, e recheado de plano sequência, Barravento foi o primeiro e, para mim, o mais incrível filme de Glauber Rocha. Lembro-me como se fosse hoje o dia em que o assisti pela primeira vez. Fiquei anestesiada porque era diferente de absolutamente tudo que eu já tinha visto. O pouco diálogo em detrimento da profusão de imagens, a música centrada nas religiões de matrizes africanas, a nuance de cores sempre voltada muito para o cinza, a intensidade dos gestos e expressões dos personagens, o confronto com a realidade da pobreza e da falta de condições básicas para uma sobrevivência digna.

Tudo isso me causou espanto e admiração. Foi a primeira vez que um recorte da realidade brasileira transcrito em forma de arte mexeu comigo e com as minhas certezas e percepções de existência. Posteriormente, eu assisti a outros tantos filmes de Glauber e achei, acho, todos intensos, vorazes e precisos. Porém nenhum tão impactante como Barravento. Na época, quando Glauber dirigiu esse filme, ele tinha apenas 23 anos de idade. Em 1962 tínhamos ainda um Brasil conservador, com João Goulart no comando da presidência da república, o título de bicampeão da copa de futebol e o primeiro filme brasileiro (O Pagador De Promessas) a ganhar a Palma de Ouro, no Festival de Cannes.

As coisas estavam começando a mudar, o que não quer dizer que Barravento não tenha causado espanto social e incompreensão na produção de cultura no país. Bom, deixando Barravento um pouco para lá, posteriormente Glauber veio a se tornar o principal nome de uma das nossas mais importantes “escolas” cinematográficas brasileiras: o Cinema Novo. E aí eu iria acabar me delongando muito ao falar do Cinema Novo, portanto, vou apenas dizer que ele é uma corrente mais voltada para a estética fílmica e para um conteúdo denso e real dentro das narrativas. O Cinema Novo foi influenciado pelo neo realismo italiano e pela Nouvelle Vague, movimento cinematográfico ocorrido na França.

Bom, se vivo, Glauber Rocha estaria completando hoje 77 anos de pura gostosura, simpatia e genialidade. Pisciano nato, ele era um cara extremamente sensível e criativo. Suas ideias, suas concepções políticas foram o cerne, o ponto de criação de uma mudança concreta na maneira de se fazer e pensar o cinema brasileiro. Acredito que nos nossos dias atuais, diante dessa delicada conjuntura política nacional, resgatar a obra de Glauber é de absoluta sensatez. Tanto como objeto histórico que retrata uma tensa, mas valiosa época do país (e que muitos clamam para que volte), como um objeto estético poético de extrema qualidade, e que poderia servir de modelo para algumas pífias criações culturais que vemos tendo no Brasil.

Por esses e diversos outros mil motivos, fica aqui, posto, minha admiração e respeito pela obra de Glauber Rocha, baiano, conquistense, pensador, poeta, critico social e o que mais você possa imaginar. Espero de maneira veemente, que novos Glaubers possam surgir e movimentar a nossa indústria cinematográfica de maneira coerente e gabaritada.

PS: Hoje, além de ser aniversário de Glauber, é também o Dia Municipal da Cultura em Vitória da Conquista. Ainda não vi nenhuma programação por conta da data, mas sei que, agora a tarde, a Prefeitura Municipal irá entregar à Câmara dos Vereadores o projeto de implantação do Sistema Municipal de Cultura. Que Glauber, seja lá de onde estiver, possa abençoar as nossas cabeças, amantes da cultura, para que nos conscientizemos da importância de acompanhar de perto e cobrar por esse projeto do Sistema Municipal de Cultura.

Em memória à Maria Emília e Pablo Pithon:

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Se tem uma coisa que absolutamente nós não sabemos lidar nesse plano espiritual, é com o desencarno de um ente querido. Sempre que ocorre alguma dessas situações, ficamos desnorteados, revoltados com o que viemos a chamar de Deus (independente da religião), raivosos com a vida.

De fato, ela, a nossa existência, perde um pouco do seu brilho e significado quando alguém “nos é levado”. E a saudade, como controlar? E as lembranças tão presentes em cada objeto à nossa volta, e o hábito da convivência e o carinho, o amor impregnado nos pequenos gestos de cuidado, o que fazer com tudo isso?

Bom, acredito que se houvesse uma fórmula mágica, todos poderiam aderir a ela e não haveria sofrimento. Contudo, como a sensibilidade e a força de superação é algo extremamente particular, fica difícil e injusto indicar qual caminho deve ser seguido. Até porque, bem sabemos que só quem sente é que sabe, não é mesmo?

Sendo assim, gostaria de oferecer as minhas mais sinceras condolências aos familiares de Maria Emília, colega jornalista e diretora da Rádio Clube FM, bem como aos familiares de Pablo Pithon, neto do vereador Álvaro Pithon. Não conhecia intimamente nenhum dos dois, mas posso imaginar a perda significativa de ambos para a sociedade conquistense e amigos mais próximos.

Que a coragem, a firmeza e o amor possam servir de base de sustentação para os familiares e que Maria Emília e Pablo possam estar em um plano espiritual cercados de luz e cuidados.

Os burburinhos do fim de semana:

Olha, esse fim de semana foi dos quentes aqui em Vitória da Conquista, viu? Soube que teve programação para todos os gostos, todos os públicos. Na sexta-feira mesmo, quem bombou, arrasou, lacrou com tudo e colocou geral pra bater cabeça foram os meninos da Dost. Eles se apresentaram pelo Grito Rock, lá no Canto do Sabiá. Já está rolando um burburinho de que a banda está, cada vez mais, alcançando a sua maturidade musical e que Lucas Sampaio, o vocalista, além de ser todo charmosinho, parecendo aqueles galãs de novela das oito, tem mandado super bem no vocal.

Já no sábado, eita que toda vez que me lembro de sábado, eu fico sorrindo a toa e suspirando pelos cantos. O que rolou de melhor na cidade foi o show Bahia de Caimmy, comandado por Marlua no Teatro Municipal Carlos Jehovah, e o Sambalanço, protagonizado por Lys Alexandrina, no Canto do Sabiá.

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Bom, começando por Marlua os gracejos vem aos montes: Como sempre, esse mais novo espetáculo proposto por ela foi de tirar o folego. A começar pelo cenário que estava divino, maravilhoso com um altar todinho para Iemanjá e mais vários adereços que vinham do teto e firmavam-se em cima da cabeça dos músicos. A trilha sonora também foi de lascar. Marlua, diva, deia, deusa, interpretou o que há de melhor na obra de Caymmi com extrema maestria e coragem. Digo coragem porque não é para qualquer um repaginar e cantar as músicas de Dorival. Ah, importante ressaltar que ela estava linda, toda de branco, descalça e com uns anéis (destaque para o pequenininho com figuras de peixes) e pulseiras bem de acordo com a temática.

Observando as expressões alheias, pude notar que o público não só gostou da apresentação, como participou dela ativamente. Foi a primeira vez que vi a plateia levantando-se para dançar durante TODO o show e cantando junto, sem que os músicos pedissem por isso. A parte ruim do Bahia de Caymmi foi a loooooooooooooooooooooooooooooooooooonga espera para o início da apresentação. Acredito que tenha sido mais de uma hora de atraso, o que acabou gerando impaciência e distração nos presentes. Torno a repetir que PRECISAMOS, público e artistas, trabalharmos com a questão da pontualidade. Isso evidencia respeito e consideração pelos produtores, pelos consumidores e pela cultura de modo geral.

Já de Lys eu não vou falar muito não. Como afirmei dia desses, ela, para mim, pode ser a grande voz do cenário cultural conquistense nesse ano de 2016. Porque a presença de palco é maravilhosa, o repertório é magistral e o comprometimento é estupendo. Lys não é de falar muito em palco, o que eu avalio como uma coisa maravilhosa. Ela é minimalista, diria até que, em alguns momentos, um pouco tímida. Contudo, Lys é acessível e canta demais. Seu show no Sabiá, assim como o ocorrido anteriormente no Café Society, foi de um requinte só. Quem passou por lá dançou, paquerou, bebeu, comeu, sorriu e desfrutou de uma noite cheia de beleza e qualidade.

Rapidinho é mais gostoso:

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Patrick’s Day no Mata Branca: Me digam, vocês já ouviram falar de São Patrício? E vocês sabem de onde ele vem? Ou por que, no dia dele, todos se vestem de verde? Não? Ah, então essa é a semana para vocês desvendarem o mistério. Nessa próxima quinta feira, 17 de março a Cervejaria Mata Branca estará comemorando o Patrick’s Day com muito requinte e animação. O Patrick’s Day é considerada a maior festa cervejeira do mundo. Pensando nisso, soube que o Mata já preparou muitas surpresas quentes, gostosas e deliciosas para o seu público. Eu vou conferir de perto, vocês também? Então nos vemos lá, a partir das 17 horas.

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Conversas Infinitas: Você é daquelas pessoas que adora uma roda de conversa, um bate papo interessante com alguém que produz e pensa cultura? Então chega mais, que aqui é o seu lugar: Nessa quinta-feira, 17 de março de 2016, haverá a ultima edição do Conversas Infinitas, espaço produzido pelo Coletivo Suiça Bahiana. O convidado da vez será Rico Dalasam, rapper paulistano que vem reinventado o estilo musical como muitas críticas sociais e um estilo rítmico próprio. A partir das 18:30h, no Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima.5d63da14-a9ff-4432-8207-2bd1b7453a12

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Conquista Ruas: Festival de Artes Performativas: Ao que tudo indica, será o festival mais divino, maravilhoso do mês. Digo isso porque ele foi todo formado por artistas, produtores, estudantes, professores, pesquisadores, enfim, por várias cabeças que andam pensando a cultura e a arte em Vitória da Conquista. De maneira extensa, o Conquista Ruas pretende ocupar diversos pontos da cidade com programações gratuitas. Tudo foi muito bem pensado e vale a pena chegar junto. Para saber mais, é só dar uma conferida aqui, ó: https://www.facebook.com/events/1522535078041485/



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