Brutos Beer e a produção de cerveja artesanal em Vitória da Conquista

Publieditorial

Por Mariana Kaoos

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Descrição de cena: Época de escola. Ensino médio. Dezembro. Verão chegando e todos se preparando para suas viagens. Banhos de piscina, sol, praia, calor, diversão. Jogar vídeo game. Dormir até meio dia. Sair à noite. Assistir aos shows das bandas adoradas. Tudo isso seria possível se você não estivesse de recuperação na escola. Química, biologia, matemática. As piores disciplinas na vida de uma pessoa. Pai e mãe pegando no pé. Concentração zero. Dia da prova final. Desespero. Suor. Radicalismo. Você olha para aquela prova que mais parece ser uma mensagem criptografada, se revolta, e questiona ao universo: “Para que eu vou usar isso na minha vida, se eu quero ser jornalista?”.

Bom, pelo menos para mim, a resposta veio dez anos depois. Mais precisamente essa semana, quando fui conferir de perto como se produz uma cerveja artesanal. Esse é o momento em que você se pergunta o que uma coisa tem a ver com a outra e eu, precisamente, lhe respondo: Para conhecer e produzir cerveja artesanal, é necessário uma básica noção de química, matemática e biologia a fim de aplica-la na melhor compreensão do processo das receitas.

Mas calma, calma, que também não é coisa de outro mundo. Nada que um breve estudo sobre o tema não lhe dê uma explanação satisfatória. Sendo assim, vou começar do início:

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Nos últimos dois, três anos, a profusão de fabricação de cervejas artesanais tem crescido consideravelmente em Vitória da Conquista. Bares, cafés, restaurantes têm voltado seus olhos para essa nova moda e esta, por sua vez, têm movimentado a economia e cultura local. Economia porque novos empregos estão sendo gerados, além do dinheiro envolvido no ramo, que vem circulando pelo mercado com mais afinco. Cultura, porque o ato de beber cerveja desfoca do proposito da embriaguez e abre outras possibilidades para se explorar o olfato, visão e paladar, além do prazer da degustação e da capacidade de mistura e harmonização com outros universos, como o gastronômico.

Então, para produzir uma cerveja artesanal, são necessários quatro elementos básicos: água, malte, lúpulo e leveduras, ou fermento, como também pode ser conhecido. Importante ressaltar que a água não é qualquer água. Existe uma serie de regras para usa-la, como a sua densidade, (PH e dureza que é a propriedade relacionada com a concentração de íons de determinados minerais dissolvidos nesta substância). Já o malte, bom, acredito que todos saibam, mas vou ratificar aqui: Malte é um produto que resulta da germinação artificial e posterior dessecação da cevada ou de outros cereais e que pode ser usado para a produção de cerveja. Por ser um produto caro, as grandes empresas cervejeiras, utilizam-se de outros cereais, como o milho e o arroz, na receita da cerveja. Aqui no Brasil, a legislação permite o uso de cereais não maltados em até 45%. Se por um lado isso barateia a produção, por outro, a cerveja deixa de ser Puro Malte.

Enfim, voltando à questão dos ingredientes, na sequencia vem o lúpulo, que é uma planta. Ele tem aroma e sabor bem característico e é a responsável pelo amargor e aroma da cerveja. Caso o desejo do cliente seja por uma cerveja bem amarga, é só o produtor acrescentar mais doses de lúpulo na receita da bebida. Por fim, mas não menos importante, há as leveduras. Sim, essa palavra não lhe é desconhecida. Leveduras são pequenos fungos que se apresentam de forma unicelular. Elas auxiliam no processo de fermentação da cerveja, se alimentando dos açúcares e produzindo o álcool.

Na linha de produção da marca conquistense de cerveja artesanal, Brutos Beer, o processo de fabricação da cerveja começa com a moagem dos grãos de malte. Na sequência, coloca-se o malte junto com a água para ferver, processo chamado de Mostura e em seguida entra no processo de filtragem. Isso dura em média duas horas. Esse é aquele momento em que você se senta um pouco, relaxa e descobre peculiaridades sobre esse novo e prazeroso universo etílico.

A Brutos Beer é uma marca de cerveja artesanal comandada pelos homebrewers Maurício Figueira e Fabrício Moura. Ela existe há pouco mais de um ano e seu forte é a produção de uma cerveja mais conhecida como IPA, ou Indian Pale Ale. É meio complicado entender assim de primeira, mas as cervejas têm seus estilos. A Indian Pale Ale é um  estilo de cerveja criada pelos ingleses durante a colonização da Índia. Para evitar que ela se estragasse durante a viagem, que duravam meses, eles colocavam uma alta dosagem de lúpulo, o que causava um forte amargor no produto. Seu teor alcoólico também é maior, chegando até a 10%.Ela é bem encorpada e possui um aroma fresco, mais voltado para o frutado e floral.

Na IPA da Brutos Beer, os meninos decidiram acrescentar um ingrediente que conferisse, que remetesse o produto a uma identidade local. Após algum tempo de pesquisa, optaram pela inserção da rapadura na receita e, olha, não poderia haver melhor escolha do que essa. Ela confere um toque especial, um sabor exótico à cerveja que só provando para conferir. Esses e outros detalhes me foram contados por Maurício e Fabrício, ambos com os olhos brilhando, demonstrando toda sua paixão pela cerveja.

Após a filtragem do malte, quando já se criou o mosto, há o acréscimo do lúpulo. Esse é um momento em que é necessária muita cautela e atenção, porque qualquer passo em falso pode comprometer o sabor e a qualidade da cerveja. O lúpulo é jogado em algumas  etapas, cada qual com minutos contados. O cheiro da mistura é extremamente forte e lembra o de um chá de erva doce. Só após a última remessa do lúpulo é que a rapadura é inserida. Ferve-se mais um pouco e pronto. Agora é engarrafar e esperar de dez a doze dias, para que as leveduras façam o seu trabalho e a cerveja fique pronta para consumo.

Duas coisas em particular chamaram a minha atenção: a primeira foi observar a empolgação nas falas de Maurício e Fabrício sobre esse universo etílico cultural que se desvela diante de nós e permite que novos caminhos possam ser explorados em Vitória da Conquista. A segunda é que consumir cerveja artesanal faz bem à saúde. Creiam nisso. As leveduras utilizadas no processo de fermentação, não contém colesterol e gorduras, já o lúpulo atuam em nosso organismo como bactericidas. Ou seja, além de degustar uma cerveja com um intenso sabor, você também estará protegendo e cuidando do seu corpo. É delícia ou não é?

É. E para os amantes da cerveja artesanal, uma notícia das boas: nesse próximo dia 19 de março, haverá aqui em Vitória da Conquista o Summer Beer Festival, produzido justamente pela Brutos Beer. O Festival contará com onze marcas de cervejas artesanais e especiais, além de um painel explicativo intitulado O Mundo Das Cervejas Artesanais ministrado pelo Beer Sommelier Leonardo Sarrizo. Além da questão etílica, o chefe Ebiner ficará responsável pela parte gastronômica do ambiente levando delicias que harmonizarão com os estilos de cerveja presente, e as bandas The Outsiders, On The Rocks e The Cadillacs irão comandar o som. Os que já bebem e conhecem bebe cerveja artesanal, não podem ficar de fora. Já os que ainda não desfrutaram desse prazer, é um momento interessante para passar a conhecer e, quem sabe, se tornar uma apaixonada, assim como eu me tornei.



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