Especial Conquista: Mas isso é só porque ela se derrete toda, só porque eu sou baiano

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Por Mariana Kaoos
Publieditorial

Fotografia: Amanda Nascto
Fotografia: Amanda Nascto

Olha eu aqui de novo, Iaiá. Olha eu aqui de novo toda saudosa do carnaval que passou. Fecho os meus olhos, Iaiá, e fico sorrindo a toa, lembrando da guitarra de Luís Caldas, da pipoca de Armandinho, dos dizeres de Moraes Moreira. E em falando nele, não cheguei a contar como foi a terça-feira de carnaval, cheguei, Iaiá?

Bom, o circuito era o da Barra/Ondina e Moraes estava previsto para sair às 22 horas. Atraso ali, atraso aqui, o trio só foi começar a andar umas duas horas depois do combinado. Na frente de Moraes estava o Camarote Andante, com Carlinhos Brown. Atrás dele, Baby do Brasil. Atrás de Baby um trio de pagode qualquer e, logo na sequência, Paulinho Boca de Cantor.  Só a nata, o supra sumo, a moqueca com dendê, a delícia cremosa do carnaval baiano, diga aí, Iaiá?

É importante ressaltar que nesse dia, os nossos amigos vendedores ambulantes já haviam burlado a ditatura Schin e traziam no isopor outras marcas de cerveja. Isso, por si só, já era um motivo de grande alegria na última noite do carnaval em Salvador. Então, correndo de lá para cá, comendo um espetinho de gato, bebendo uma Skol gelaaaaaaada, eu me dividia na concentração de Brown, Moraes e Baby. Me dividia, Iaiá, até o momento em que Davi Moraes, acompanhado de seu pai, subiram ao trio e começaram a discursar algumas coisas que dizem respeito a mim, a você, Iaiá, e a todo mundo que habita nessas terras calorosas e ousa se denominar baiano.

Fotografia: Amanda Nascto
Fotografia: Amanda Nascto

E se você quer saber, Iaiá, as falas de Moraes foram de uma poesia e profundidade sem fim. Como não lembro na íntegra, palavra por palavra, vou resumir aqui toda a mensagem do que ele quis dizer: Moraes nos cumprimentou, coisa que pouquíssimos artistas fazem com seu público, e depois começou a falar dos entraves do carnaval e da necessidade do regresso a uma festa democrática, sem cordas, onde o povo possa protagoniza-la através da dança, da música, da fala e da brincadeira. Moraes também seguiu por um pensamento sobre o ser baiano e, praticamente, nos convocou a disputar e, posteriormente, a recuperar essa identidade, trazendo-a para a sua verdadeira essência popular.

Após um caloroso aplauso, o cantor deu início à folia, puxando um chorinho. Sua apresentação em todo o percurso foi, olha, Iaiá, na verdade eu não tenho nem palavras para descrever sobre a sua apresentação em todo o percurso de tão intensa e maravilhosa que ela foi. No fim de Ondina, eu me encontrava transbordando felicidade e já com saudades do que havia acabado não fazia nem vinte minutos.

Fotografia: Amanda Nascto
Fotografia: Amanda Nascto

Bom, os dias se seguiram, outras surpresas incríveis apareceram diante de mim, como o espetáculo teatral Somos Todas Clandestinas. Contudo, a fala de Moraes ficou apertando (ou seria afrouxando?) alguns parafusos da minha fértil e despirocada cabecinha, Iaiá. Fiquei tentando compreender o que ele quis dizer com uma identidade baiana e a urgência em disputa-la com os meios hegemônicos de comunicação e, mais ainda, com a indústria cultural.

Aí, depois de tentar procurar essa “identidade baiana” em teorias mil, depois de ler sobre ela nos veículos de comunicação Brasil afora, depois de me analisar e analisar as pessoas ao meu redor e tentar traçar algumas características identitárias, joguei tudo para o alto, Iaiá, e decidi procurar essa tal dona identidade no que, para mim, existe de mais valioso em todo esse mundinho de meu Deus: a cultura.

Resolvi me utilizar de dois elementos culturais: música e camisas estampadas. Iaiá, eu sei que você deve estar pensando o que uma coisa tem a ver com a outra, ou até mesmo questionando se blusas estampadas são um artigo cultural. Com plena convicção eu lhe digo que sim. O que você veste, a maneira como veste, é um elemento identitário fortíssimo, o que acaba dizendo muito sobre você e sobre o que você pensa e disputa ideologicamente, Iaiá.

Sendo assim, fiz a mistureba musical e vestuária. Foi nesse exato momento que eu lembrei do seu Ioiô, Iaiá. Sim, ele mesmo, Júnior, dono da loja de camisetas Hey Joe. Lembrei de Junior porque o foco da loja é justamente as camisas estampadas e o forte apelo identitário que elas promovem.

Se a Hey Joe é muito mais conhecida pelo seu estilo rock n roll ou hipster de ser, eu lhe digo, Iaiá, que lá tem muito mais do que você possa imaginar. Lá não tem apenas bottons, quadros, bolsas e bonés. Além disso tudo e, justamente por isso tudo, o que tem por lá são crenças, ideologias, gostos, ironia, sarcasmo, criatividade, beleza, desconstrução de gênero, filosofias e opções de ver e levar a vida. Ou seja, segundo Bordieu, todos pré requisitos que lhe permitem disputar e ocupar o seu espaço no jogo do confronto social.

Peguei algumas blusas da Hey Joe emprestadas para um ensaio fotográfico na tentativa, não de traçar, mas de apontar os caminhos que acredito serem correspondentes a essa identidade baiana. Acompanhadas de frases de músicas das mais variadas décadas, e só de compositores baianos, o resultado foi mais ou menos esse aqui, Iaiá:

– “Aqueles que têm uma seta e quatro letras de amor”

Fotografia: Amanda Nascto
Fotografia: Amanda Nascto

– “Eu vim, eu vim da Bahia cantar, eu vim da Bahia contar tanta coisa bonita que tem”

Fotografia: Amanda Nascto
Fotografia: Amanda Nascto

 – “Meu tempero é outro, eu sou do azeite, pimenta de cheiro, pitada de amor”

Fotografia: Amanda Nascto
Fotografia: Amanda Nascto

 

 – “O samba da minha terra deixa a gente mole, quando se canta todo mundo bole”

Fotografia: Amanda Nascto
Fotografia: Amanda Nascto

https://www.youtube.com/watch?v=u2_ZwqgDIvs

 – “Não tô de bobeira, se der mole eu levanto a poeira. Não brinque com a mente e cole com a gente, que aqui a chapa é quente”

Fotografia: Amanda Nascto
Fotografia: Amanda Nascto

– “Alegria, alegria é um estado que chamamos Bahia de todos os santos, encantos e axés”

 

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Fotografia: Amanda Nascto


– Confira o restante do ensaio na galeria de fotos:

 

Ensaio fotográfico

Produção: Mariana Kaoos

Roteiro: Mariana Kaoos

Direção fotográfica: Amanda Nascto

Fotografia: Amanda Nascto

Roupas: Hey Joe

Acessórios: Andrômeda

Modelos: Alessandra Leal e Raissa Lorena



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