Tome Nota: Um giro pelo Natal da Cidade de Conquista e as nossas impressões

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Por Mariana Kaoos

Na pista da paixão e valeu boi:

Alô galera de cowboy! Segue uma das melhores notícias que poderia surgir nos últimos tempos: no Natal da Cidade desse ano tá rolando touro mecânico. Para tudo e leia novamente essa informação: no Natal da Cidade desse ano tá rolando touro mecânico. Não é lorota. Descobri isso ontem e foi uma das melhores coisas que poderia ter me acontecido. Porque veja bem, há o Memorial do Reisado (que está lindo por sinal), há o palco principal e suas atrações e há as barraquinhas de comida e bebida. Tudo muito bom, tudo muito bem, mas realmente tudo muito óbvio. E quando eu digo óbvio, queridos, por favor, não encarem como uma crítica negativa, e sim como uma constatação escancarada que qualquer um poderia fazer.

Então, continuando nessa linha de raciocínio, para fugir desse óbvio poderíamos imaginar N coisas. N coisas menos uma: um touro mecânico. Porque onde já se viu ter um touro mecânico num evento como o Natal da Cidade? O fato é tão surreal que se torna a maravilha de todos os tempos. Na noite de ontem, 20, uma grande aglomeração circundava o touro. Pessoas de todas as idades, de todas as cores, de todos os tamanhos. Tinha criança na cacunda do pai, adolescente fazendo barulho, meninas com olhar curioso, senhores incrédulos. Os corajosos de plantão pagavam um valor de três reais e podiam subir no touro brabo que era movimentado através de um controle que ficava nas mãos de um rapazote.

Aí já sabe, né? Era gritaria para tudo que é lado. Os aventureiros da empreitada tinham que se segurar de alguma forma, seja no rabo do touro, seja nos seus chifres, e mandar ver. É claro que no fim o touro sempre ganhava e derrubava geral, mas o processo, a brincadeira, a reunião de torcedores foi das coisas mais legais que, até agora, ocorreu por lá. Ao lado do touro há uma barraquinha de tiro. Daquelas que você compra munição (cada bala sai a um real) e atira em doces. Se eles caírem, você ganha o brinde, se não, pelo menos valeu a tentativa. Ah, outra coisa, nesse espaço também tem cama elástica e pula pula. Aquele pula pula que tem que tirar o sapato para entrar. Esse mesmo que você está pensando, o pula pula que acaba o tempo mas a gente não quer mais sair. Infelizmente o brinquedo só comporta crianças de até oito anos de idade, o que, devo admitir, causou uma espécie de decepção nessa jornalista que vos fala.

De qualquer maneira, achar um mini parque de diversões no Natal da Cidade foi genial. Lá foi o espaço em que eu mais pude constatar sorrisos e interações mil, o que acabou me remetendo a minha genuína idealização de natal. Porque tem que ser assim, não tem não? Pessoas se divertindo, brincando juntas, tirando o sapato e depois, cheios de euforia, tentando calça-los (esse é o momento mais difícil da humanidade de se conseguir dar um laço no cadarço). Natal é confraternização, é olhar nos olhos do outro e sentir aconchego, acalanto. Natal é o momento de refletir, ponderar acerca de todos os acontecimentos ocorridos ao longo do ano e ver de que forma eles, os acontecimentos, refletem no que somos e no que queremos ser. Natal é o momento de renovar, recriar, reinventar sonhos e deixar a magia de todos eles dominar seus pensamentos. Natal é andar pelas ruas da cidade ouvindo Simone e ligar a televisão e ver Roberto Carlos com a mesma chatice de sempre e entrar num dilema eterno entre botar ou não botar uva passa na comida. Tudo muito tradicional e entediante, mas no fundo no fundo, tudo muito gostoso de se viver.

Natal é tempo de se estar junto, não apenas porque então é natal (e o que você fez?), mas porque estando juntos somos melhores e mais felizes. É quando doamos, ofertamos sorrisos à humanidade e é quando ela nos sorri de volta. Natal, para mim, tem que ser igual um parque de diversões: com os mesmos rituais de sempre, mas com uma nova emoção coletiva a cada instante. Que bom que no Natal da Cidade, além de música, comida e bebida, há também um touro mecânico e que este, por sua vez, pode proporcionar de maneira íntegra e profunda todo o espírito festivo natalino. Valeu boi!

Eu quero é botar meu bloco na rua:

É tão bacana quando a gente acredita em certos propósitos em nossas vidas e seguimos com eles a risca, não é não? Eu, por exemplo, militei a favor da democratização da comunicação durante o meu período de imersão universitária. Agora que me formei e ouso me dizer jornalista, quero, além de militar, praticar todos os propósitos e todos os significados que a palavra democratizar possa vir a ter. Ao que tudo indica meu amigo, colega de trabalho e dono desse blog, Rodrigo Ferraz, também. Digo que ele também porque seu blog é um dos únicos da cidade que permite comentários e PUBLICA todos eles na íntegra. Então, queridos, aqui vocês tem voz. Podem ler minhas matérias, concordar, discordar, refletir, ponderar e questionar. Não estamos aqui para ditar verdades a ninguém. Muito pelo contrário. Além de informar, nosso objetivo é colocar essas cabecinhas maravilhosas que eu sei que vocês têm para analisar criticamente os aspectos culturais e sociais dessa cidade que chamamos de nossa. Que isso aqui vire mesmo uma geleia geral e que o circo pegue fogo. Vamos levantar bandeira pelo que acreditamos. Concordam comigo? Passem adiante. Discordam? Podem me encurralar, não tem problema nenhum. Acredito que cada vez mais essa É a hora da gente se utilizar da dialética para construirmos uma comunicação melhor. Sem censuras, por favor. Aqui, todo e qualquer tipo de consideração, de comentários, de percepções é valido. Acreditamos mesmo que todo mundo precisa ter voz? Acreditamos sim. Então vamos reverenciar e ressaltar que a voz que queremos é a voz do povo. E o povo somos nós.

Passarim quis pousar, não deu, voou:

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Olha, não tem Jeneci, nem Cidade Negra, nem 14Bis, nem nada. As melhores atrações do nosso Natal da Cidade desse ano, sem sombra de dúvidas, são as atrações locais. Hoje, por exemplo, quem sobe ao palco para apresentar seu show, intitulado Canários da Terra, é a poderosíssima Marlua. Poderosíssima sim. De voz maravilhosa, presença de palco impecável e qualidade profissional inquestionável. Esse ano, Marlua ofereceu ao público um monte de apresentações riquíssimas em conteúdo. Teve o projeto do Elas Cantam, releitura da obra de Gal, show duplo com Ítalo Silva, sambinha lá no Canto do Sabiá e mais um monte de outras coisas. Realmente, para quem acompanha e consome a cena cultural conquistense, pode comigo concordar que Marlua é um dos nossos melhores e maiores nomes. E se, durante todo esse ano de 2015 ela nos presentou com uma cacetada de projetos bacanas, acredito que hoje não será diferente. Canários da Terra é um show voltado para a obra de compositores do sudoeste baiano e do norte de Minas. Marlua fará uma releitura de inúmeras canções de alguns nomes de responsa como Paulinho Pedra Azul, Evandro Correia e Dinho Oliveira. Já imaginou que maravilha isso? Uma preciosidade sem tamanho. Então hoje, às 21 horas, vamos lá prestigiar o que é nosso e saber reverenciar o que de melhor temos por aqui.

Por seres tão inventivo e pareceres contínuo:

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E não acabou não. Se hoje a noite teremos uma maravilhosa apresentação de Marlua no palco principal, amanha, 22, é a vez de Ítalo Silva. E para falar sobre Ítalo, eu pego aqui um verso emprestado de Rita Lee: “Lindo e eu me sinto enfeitiçada, correndo perigo”. Sim, enfeitiçada, porque olha, a força que esse menino ganha quando sobe ao palco é inenarrável. Ítalo é intérprete dos bons aqui de Vitória da Conquista. O show que ele fará amanhã, Beta Bethânia, já foi apresentado anteriormente no Teatro Carlos Jehovah e, sobre ele, o show, só digo uma coisa: na minha humilde opinião, foi o mais bonito, o show mais emocionante que assisti nesse ano de 2015. Ítalo faz uma releitura da obra de Maria Bethânia muito bem feita. Ainda que seja extremamente difícil compilar cinquenta anos de carreira em uma apresentação de uma hora, Ítalo consegue passar por todas as fases da cantora com um extremo requinte. E a banda que o acompanha não fica atrás não. Se for a mesma formação do Beta Bethânia que aconteceu no teatro, quem sobe ao palco com Ítalo é Fabio Sharel, Saulo Silva, Thiago Menezes e Euri Meira. Só os dinossauros do som, diga ai?! Amanhã, vamos dar uma de super tietes e usar faixinhas no cabelo e levar cartolinas com escritos de amor? Tá valendo tudo, só não vale ficar de fora.

Rapidinho é mais gostoso:

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Dando um breve e importante informe aqui: Tem mais opções culturais acontecendo na cidade. Fiquem espertos. Na Praça Nove de Novembro, por exemplo, a programação está quase que pegando fogo. Só artista bom. Hoje, às 19 horas, vai rolar uma apresentação dos lindos do Trio Curimã, grupo instrumental formado pelos músicos Davi Brandão, Kayque Donatto e Eric Lopo. Já no dia 23 quem fecha a programação da praça é Luiza Audaz, fatal e maravilhosa como sempre, a partir das 18 horas. Tanto o Curimã como Luiza também são nomes valiosos da nossa cena local. Vale super a pena acompanhar as duas apresentações. Vamo nessa?

Dando pinta, levantando bandeira:

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– Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.

– Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.

– Tupi, or not tupi that is the question.

Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.

– Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.

– Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande.

– O espírito recusa-se a conceber o espírito sem o corpo. O antropomorfismo. Necessidade da vacina antropofágica. Para o equilíbrio contra as religiões de meridiano. E as inquisições exteriores.

– Tínhamos a justiça codificação da vingança. A ciência codificação da Magia. Antropofagia. A transformação permanente do Tabu em totem.

– Contra o mundo reversível e as ideias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. O indivíduo vitima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o esquecimento das conquistas interiores.

– Só não há determinismo onde há mistério. Mas que temos nós com isso?

– A alegria é a prova dos nove.

– Somos concretistas. As idéias tomam conta, reagem, queimam gente nas praças públicas. Suprimarnos as ideias e as outras paralisias. Pelos roteiros. Acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e nas estrelas.

– A luta entre o que se chamaria Incriado e a Criatura – ilustrada pela contradição permanente do homem e o seu Tabu. O amor cotidiano e o modusvivendi capitalista. Antropofagia. Absorção do inimigo sacro. Para transformá-lo em totem. A humana aventura. A terrena finalidade. Porém, só as puras elites conseguiram realizar a antropofagia carnal, que traz em si o mais alto sentido da vida e evita todos os males identificados por Freud, males catequistas. O que se dá não é uma sublimação do instinto sexual. É a escala termométrica do instinto antropofágico. De carnal, ele se torna eletivo e cria a amizade. Afetivo, o amor. Especulativo, a ciência. Desvia-se e transfere-se. Chegamos ao aviltamento. A baixa antropofagia aglomerada nos pecados de catecismo – a inveja, a usura, a calúnia, o assassinato. Peste dos chamados povos cultos e cristianizados, é contra ela que estamos agindo. Antropófagos.

– Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama.

 

(Trechos de Manifesto Antropofágico – Oswald de Andrade, São Paulo, 1928)



Cultura, Vitória da Conquista

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